A primeira data de movimento do comércio sem as restrições impostas pela pandemia da covid-19, o Dia das Crianças, promete movimentar R$ 78 milhões no ABC, segundo pesquisa do Observatório Econômico da Universidade Metodista.
Há uma necessidade de consumo e uma demanda reprimida para as compras tanto na modalidade on-line como nas lojas físicas, mas ainda assim a pesquisa de preços é essencial, principalmente em tempos de inflação de dois dígitos. De outro lado o comércio quer recuperar as perdas e aposta nas ofertas, tentando manter os preços e reduzindo as margens para garantir boas vendas.
A pesquisa de preços é conduta obrigatória das famílias, caso da moradora de São Bernardo Shirley Silva Torralvo Morroni, que ficou quase um mês pesquisando em lojas online o presente para o filho Davi, de 8 anos. Para comprar o skate que o menino queria, ela também teve a indicação de um profissional que indicou os modelos. “Já sabíamos a média de preços, mesmo assim ficamos um mês pesquisando, mostramos algumas opções dentro do que estávamos procurando e o Davi escolheu”, contou a mãe, que pagou R$ 530 pelo presente.
Outro morador de São Bernardo, Eduardo Santana, pai do Matheus, de 12 anos, e do Miguel, de 2 anos e 10 meses, também investiu também um tempo para pesquisar preços. Ele também vai presentear uma afilhada. “É uma data que as crianças não veem a hora de chegar. Durante o ano, eles perguntam: pai, mãe, o que vou ganhar no dia das crianças? Ficam muito ansiosas. Principalmente os que já entendem mais “, relata. Santana imagina que vai gastar cerca de R$ 350 para presentear as três crianças. “A gente acaba fazendo um sacrifício para vê-los felizes. Se não der no dinheiro, vai no cartão de crédito mesmo”, comenta.
Na rede de lojas Armarinhos Fernando, onde os brinquedos estão entre os principais itens do mix de produtos oferecidos, a intenção é recuperar o resultado negativo do ano passado. “As vendas de 2020 foram inferiores às de 2019, até porque estávamos em uma fase difícil da pandemia, com alta taxa de mortalidade. (Para este ano) a expectativa é de vender entre 8% e10% a mais em relação ao ano passado”, sustentou a rede em nota. O Armarinhos Fernando sustenta que as duas linhas de brinquedos, os mais sofisticados e também os mais simples, vendem bem na data.
Para a direção do Armarinhos Fernando é verdadeira a análise sobre uma demanda reprimida de consumo, ocasionada pela pandemia. “O consumidor este ano se sente mais seguro após o avanço da vacinação. Ainda assim, mantemos os protocolos sanitários não só pelos clientes, mas também pelos colaboradores. Mantemos a aferição de temperatura na entrada da loja, a obrigatoriedade do uso de máscara. Quando o cliente se sente mais seguro isso, sem dúvida, reflete nas vendas”, diz o informe da rede que tem duas lojas no ABC, uma em Santo André e outra em São Bernardo. A cadeia de lojas não vende pela internet, coisa rara atualmente, mas o catálogo de produtos está disponível no site para a comparação de preços.
Sobre os preços, a direção da rede de armarinhos considera que eles estão mais altos este ano por conta da falta de matérias primas e de outros materiais importados. A estratégia para fazer frente a essa situação é reduzir a margem e com isso, quem ganha é o consumidor. ”Este ano o preço está mais alto, o mercado todo está sofrendo com isso. É inevitável, pois, mesmo os produtos que não são importados dependem de matéria prima importada. Estamos tentando enxugar o máximo possível para que essa diferença não seja tão grande. Acabamos derrubando um pouco nossa margem de lucro para não repassar esse aumento total aos consumidores”.
Se celulares, tablets e jogos eletrônicos são os objetos de desejo da garotada, mas os presentes mais tradicionais como bonecas, carrinhos e bolas estão sempre nas prateleiras e são venda garantida.
Fôlego
O comércio foi o setor mais afetado pela crise resultante da pandemia, com fechamento obrigatório em certos períodos do ano passado, mas aos poucos ele tenta se recuperar do grande tombo de 2020. “Dentro de todo o cenário desafiador que vivemos na reabertura do comércio após o fechamento total por três meses, podemos dizer que o Dia das Crianças de 2020 foi satisfatório, muito em função do robusto auxílio emergencial que tivemos na época por parte do Governo Federal, que fez com que o recuo no faturamento neste período fosse de apenas 12%”, contabiliza Fabiano Pereira, diretor comercial da rede de lojas Nivalmix, que tem duas unidades em Santo André, uma em São Bernardo e outra em Diadema.
Segundo o diretor, agora com a inflação em alta e sem o auxílio emergencial, a expectativa é de recuo de 50% no faturamento. “Com a enorme queda no poder de compra da maior parcela da população, os brinquedos que terão mais saída neste Dia das Crianças são os itens de 1º preço e tickets mais baixos, entre R$ 30 e R$ 50. O relaxamento das medidas restritivas é fundamental, porém o grande problema é realmente o poder de compra. Estamos estimando um ticket médio 25% menor que no passado, ficando na casa dos R$ 75”, disse Pereira.
Da mesma forma que o Armarinhos Fernando, a Nivalmix também reduz sua margem para garantir vendas. “A inflação está em um patamar bastante alto, pressionada pela alta do dólar, alta nos preços das matérias primas, com escassez de alguma delas inclusive, comprometendo toda a cadeia produtiva, e alta no preço do frete internacional, fatores que deixaram os preços mais altos em média 20%, mas em face dessa perda de poder compra nós apertamos nossas margens de forma a repassar o menor aumento de preços possível, para dar a nossa parcela de contribuição para a retomada econômica”.
A Nivalmix partiu para a estratégia agressiva de vendas com uma campanha promocional que conta com 30 ofertas. “Alguns itens estão sem nenhum reajuste de preços em relação a 2020, a exemplo de uma bola de futebol que foi vendida a R$ 19,99 no ano passado e que foi produto campeão de vendas, nesse ano conseguimos manter o mesmo preço”. Além disso a rede optou por investir no e-commerce e oferecendo frete grátis para compras acima de R$ 250. Hoje, as vendas pelos meios digitais representam 15% do faturamento do grupo e segundo o diretor ainda é possível expandir mais o comércio eletrônico.