O calor recorde dos primeiros dias de outubro e a falta de chuvas regulares nos últimos meses são sinais de que é preciso economizar água, pois o nível das represas que abastecem a região metropolitana está baixo. A pandemia agravou a situação, pois o consumo de água está maior. E a meteorologia alerta que as pancadas de chuva podem não resolver o problema e não está afastada nova crise hídrica como a de 2014/2015.
A previsão de chuva para estes próximos dias não deve mudar o clima desértico com baixa umidade do ar. Segundo especialistas, toda a região metropolitana precisa de chuvas com bom volume e mais regulares para compensar a ausência de precipitações nos últimos meses, e não é o que está previsto para outubro. “A chuva prevista para o fim de semana deve ficar em 30 mm entre sábado e segunda-feira por conta de uma frente fria que baixa a temperatura e traz umidade do mar”, analisa o meteorologista Caio Souza, da Squitter Meteorologia e Hidrologia, empresa responsável pelo CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências) do ABC.
Ao falar de uma previsão mais a longo prazo para outubro, Souza considera que não haverá grandes mudanças. “Devemos ter pancadas isoladas, mais típicas no verão. Podemos ter aquelas tempestades intensas por causa da temperatura muito elevada, são aquelas chuvas que podem trazer prejuízos, mas como são isoladas, isso não vai aliviar a situação das represas. Se chover mais na cidade e menos no manancial não vai aliviar”, analisa.
Dos sete sistemas que abastecem a região metropolitana paulista, apenas o sistema Rio Grande, que faz parte da Billings, está em melhor condição com 78,2% da capacidade, os demais estão abaixo de 63%. A Billings abastece Diadema, São Bernardo e parte de Santo André. Esta última é abastecida pelos sistemas Cantareira, Rio Claro e Alto Tietê. Mauá é abastecido por Alto Tietê e Rio Claro; São Caetano pelo Cantareira e Rio Grande da Serra, Alto Tietê.
Para a ambientalista, bióloga e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Marta Marcondes, apesar da represa Billings estar em situação melhor do que os outros sistemas, a preocupação é muito grande pois a redução do volume de água no manancial é visível. “Por mais confortável que pareça o nível da represa baixou muito, em vários pontos da represa dá para ver o quanto a água recuou pelo lixo que ficou na margem”, comenta.
Para a professora, a redução do volume de água está ligada também à qualidade da mesma. A coloração esverdeada notada nos últimos dias é resultado da proliferação das fito-bactérias, que se alimentam de material orgânico. Marta Marcondes faz o monitoramento regular da Billings em 164 pontos de coleta e o resultado das últimas medições é que o nível de poluentes regrediu aos patamares de 2015, depois de ter melhorado há dois anos. “Em 2015, 40% das amostras dos pontos de coleta eram ruins ou muito ruins, em 2017 e 2018, choveu bastante e melhorou, caindo para 20% as amostras inadequadas. Agora, a amostra mais recente voltou ao patamar de 40% de ruim e péssimo”, compara.
A ambientalista diz que faltam ações mais efetivas para garantir a quantidade e a qualidade da água. “Passamos pela crise de 2014 e 2015, mas temos que continuar a planejar, porque lá naquela época já não foi uma crise hídrica, foi uma crise de planejamento, agora não está muito diferente. Há cinco anos o reservatório se manteve porque foi feito o bombeamento do Rio Pequeno para o Rio Grande, mesmo assim baixou bastante, agora onde foi feito o bombeamento em Rio Grande da Serra, uma obra em que se gastou R$ 130 milhões, está tudo abandonado. O consumo de água aumentou muito com a pandemia, e isso podemos aferir com o volume de esgoto produzido e temos a falta de chuva. Será que vão ter de gastar de novo?”, indaga.
Para o meteorologista da Squitter, o que se observa é um sinal que precisa ser levado a sério. “Essa situação toda é sim um alerta vermelho para os reservatórios de água, porque vai que essa chuva isolada não caia perto das represas. A região precisa de chuvas contínuas e regulares”, diz Caio Souza.
Níveis
A Sabesp informa em nota que os reservatórios do Sistema Integrado, responsável pelo abastecimento da região, estão com volume total de 50,2% de sua capacidade (dados de sábado (03/10). “No mesmo dia de 2019 o volume total era de 64,9%, e em 2018 o volume foi de 41,1%. Importante ressaltar que o ano de 2018 foi um ano de seca severa, e não houve desabastecimento. Isso porque o sistema é flexível e integrado, permitindo abastecer diferentes regiões com água de mais de um reservatório. Por isso é considerado o volume total. Essa integração se deve a obras realizadas desde a crise hídrica de 2014, como interligação de reservatórios e a entrada em operação de um novo sistema, o São Lourenço. Obras que permitiram essa flexibilidade e segurança maiores ao abastecimento”.
Para a estatal, não há perigo de desabastecimento como apontam a bióloga da USCS e o meteorologista da Squitter. A Sabesp destaca ainda que a queda no nível das represas é normal nessa época do ano devido ao período de estiagem e ao volume de chuvas abaixo da média histórica. Diz que situação não oferece risco ao abastecimento, mas a companhia reforça campanhas de uso racional e pedido à população para que use de forma consciente a água, evitando desperdício.
Sobre o despejo de esgoto e lixo na Billings, a companhia destaca uma série de ações e obras no sistema. “A Sabesp realiza o Programa Pró – Billings no ABC. Em prosseguimento às obras iniciadas em 2018, a companhia realiza a construção do Coletor-Tronco Couros, tubulação de grande porte que vai transportar o esgoto gerado por 382 mil pessoas de São Bernardo e Diadema até a ETE (Estação de Tratamento de Esgotos) do ABC, na divisa de São Paulo e São Caetano. Um total de R$ 230 milhões são investidos no programa por meio de financiamento da JICA (Agência Japonesa de Cooperação Internacional) e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Além do CT Couros, estão em execução intervenções em 40 bairros com implantação de 89 quilômetros de rede, 42 quilômetros de coletores, 39 elevatórias e 83 mil ligações domiciliares. A implantação em andamento de 30 quilômetros de redes de coleta e quatro mil novas ligações de esgoto em bairros de Ribeirão Pires (Vila Sueli e Jardim Mirante) e Rio Grande da Serra (Parque América e Vila Fordiane) complementam os benefícios sanitários do programa na bacia da Billings. Cabe destacar o papel da sociedade quanto à questão do despejo de lixo e resíduos sólidos nas ruas e córregos e que comprometem os recursos hídricos e mananciais”, sustenta a Sabesp.