
Projeto do escritório modelo, do curso de arquitetura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) vai levar uma grande ajuda à aldeia Guyrapa-Ju, que fica na região do pós-balsa em São Bernardo.
O trabalho dos estudantes, com a mediação de mestres da universidade, vai transformar a comunidade indígena com a reforma e construção de um centro cultural, destinado à convivência e recepção de quem vai ao local para conhecer a cultura indígena; a revitalização de um prédio antigo, que hoje abriga a escola local; e a reforma de um dos marcos da cultura Guarani, que é a Casa de Reza. Parte das obras será financiada por emenda parlamentar e o restante por meio de parcerias.
Todo o projeto de requalificação dos espaços da aldeia foi construído com a própria comunidade, de forma a respeitar a cultura e modo de vida. Para isso o processo de aproximação começou há mais de uma década, com a professora Marta Marcondes, bióloga e especialista em recursos hídricos, que inicialmente trabalhou na comunidade nas áreas e saúde e meio ambiente. “Trabalhamos esse projeto (de reformas dos espaços) dentro da perspectiva do grupo indígena e com rodas de conversa chegamos ao modelo que eles querem, também envolvemos nossos alunos com a cultura da aldeia”, explica.
Marta Marcondes organizou expedição de professores e estudantes até a aldeia este ano para a elaboração do projeto. “Hoje a Casa de Reza é uma instalação precária, o centro cultural não existe e a escola é um galpão antigo. Apesar de toda essa dificuldade, eles mantêm a sua cultura, acredito até que este seja o maior exemplo de resistência cultural que temos no Brasil”, analisa.
Luis Felipe Xavier, professor de arquitetura e urbanismo da USCS, conta que os índios guaranis apontaram as demandas e os estudantes ouviram as necessidades e conheceram as questões culturais. “É uma experiência muito gratificante para todos, é mais que uma extensão universitária, faz o aluno ‘virar a chave’, ou seja, muitos não conheciam a cultura, tinham uma visão do que seria o projeto, depois que conheceram a aldeia se envolveram mais; o aluno sai transformado deste processo”, afirma.
Esse será o primeiro trabalho do escritório modelo de arquitetura da USCS, e a ideia não é fazer um grandioso projeto dentro da Mata Atlântica, onde está situada a comunidade indígena, mas levar atendimento digno que possa garantir saúde para a comunidade, com preservação do meio ambiente e respeito à cultura. A escola funciona hoje em um galpão muito antigo, que pode ter sido um estábulo de uma das antigas fazendas da área, a ideia é construir banheiros com biodigestores, reformar o telhado e parte da alvenaria, com ambientes separados de sala de aula, cozinha e sanitários. “Hoje a educação não chega até a aldeia por falta de estrutura. A cozinha, inclusive vai ser usada para preparação de alimentos de acordo com a cultura guarani”, comenta Xavier.
Casa de Reza é marco da cultura guarani
A Casa de Reza é uma construção taipa de pilão, que usa madeira trançada e argila para as paredes com a cobertura feita em sapê. O projeto envolve um desenho mais elaborado, o tratamento do bambu para que dure mais e o isolamento do solo, já que o espaço não tem piso atualmente. O trabalho maior será na construção do centro. “Nada será desmatado “, explica Xavier.
A expectativa é pela liberação do recurso da emenda parlamentar, proposta pelo deputado estadual Teonílio Barba (PT), no valor de R$ 16,3 mil. A emenda é para reforma da edificação na Guyrapa-Ju, para implantação do centro educacional e cultural indígena. A propositura é parte do projeto do orçamento para 2020, que está na comissão de finanças da Assembleia.