O ICEI (Índice de Confiança da Indústria) do ABC caiu 4,1 pontos em 13 meses. Considerado o intervalo de janeiro de 2018 a fevereiro último, passou de 65,6 pontos para 61,5. O índice faz parte do IndustriABC, levantamento trimestral feito pelo Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo. Para o economista e coordenador do observatório, Sandro Maskio, o índice revela um descompasso entre a grande expectativa gerada em torno do governo Bolsonaro e o sentimento dos empresários do setor industrial.
O economista afirma que pelo discurso do governo, que atende muito mais os anseios do setor produtivo, se esperava um resultado mais positivo, com menos tropeços. Essa situação se agravou com o anúncio no ano passado de que a General Motors poderia fechar e, mais recentemente, da Ford, que bateu o martelo ao dizer que vai sair. Os anúncios influenciam vários pequenos e médios, dependentes da cadeia, direta ou indiretamente.
Com a solução sobre a permanência da GM e um provável acordo da Ford com o Grupo Caoa, o descompasso tende a diminuir, segundo Maskio. “Os incentivos que foram dados para a GM e da continuidade de fábrica da Ford trazem essa perspectiva. No caso do governo federal o foco tem sido a Reforma da Previdência, porém esse não é o único desafio do governo, mas o governo tem focado nisso”, diz.
Para o economista as medidas adotadas para segurar as empresas no ABC podem ser virar contra o governo mais tarde. “Se dá o incentivo agora, as empresas aumentam a produtividade, garantindo a contrapartida de impostos, mas se elas não conseguirem superar seus concorrentes vão voltar ao governo e pedir incentivos. Na verdade, se socializa o prejuízo das empresas e quem paga é o governo e o cidadão”, adverte.
Ao longo dos últimos 12 meses, segundo a Sondagem Industrial para o ABC, em apenas três meses os empresários declararam ter ocorrido aumento do volume de produção, contra oito meses no Brasil e sete meses no Estado.
Os números refletem no emprego diretamente. A utilização da capacidade instalada no ABC está em 66%, estável e perto do verificado no País. Ao mesmo tempo, a perspectiva de geração de empregos permanece estável (próxima a 50 pontos), ao apontar para a lenta retomada da atividade e de desconfiança em torno da robustez. Segundo dados do Ministério da Economia, entre 2012 e 2017, a região perdeu mais de 68 mil empregos industriais formais.
Ainda puxada pela indústria automobilística, a intenção de investimentos pela indústria do ABC caiu de 55,3 pontos em fevereiro de 2018 para 48,1 em dezembro. No mesmo período, a evolução na quantidade de exportação baixou da faixa dos 60 pontos em fevereiro para 41,7 em dezembro passado, assim como a expectativa com a evolução da demanda que passou de 65 para 58,9 pontos. “A situação tende a se estabilizar ao longo do ano e do segundo semestre”, completa.