Enquanto a promessa do governo do Estado de instalar no ABC a Cross (Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde) não se concretiza e as filas na farmácia de medicamentos de alto custo no Hospital Mário Covas só aumentam, a população sofre com a espera por procedimentos médicos e com as despesas, muitas vezes, dos medicamentos que o Estado deveria fornecer.
A Cross foi prometida em março pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB). Em entrevista ao canal RDTv, quarta-feira (31) o prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), comentou sobre a central de regulação. “Seria bom para a região e temos de cobrar, pois não dá para deixar essa questão de lado”, disse. O tucano também abordou o assunto dos medicamentos de alto custo na reunião do Consórcio Intermunicipal terça-feira (6), quando considerou prioridade a descentralização da farmácia. “Isso é relativamente simples do ponto de vista do investimento, é mais operacional, pois os municípios já têm certa unanimidade, Santo André e São Bernardo já disponibilizaram espaço”, destacou Serra, que não acredita em providências ainda este ano.
Enquanto a solução não suplanta as barreiras burocráticas e políticas os usuários sofrem. O morador de São Bernardo, Sidney Custódio Nicácio, relatou o drama da esposa Sirlei. “Ela faz uso do Tocilizumabe, mas estamos com mês de atraso na distribuição e ninguém dá retorno. A Sirlei já sente os efeitos da falta do medicamento, para artrite reumatoide”, diz.
Andreia Cristina, moradora do Jardim Laura, em São Bernardo, retira remédio para o filho há seis anos. “Vou com meu filho e às vezes são 2 a 3 horas de espera, fora a burocracia de três em três meses para renovação. Isso quando não falta remédio; aí temos de se virar para comprar”, relata a mãe, que retira o medicamento Risperidona, anticonvulsivo. “Ele custa cerca de R$ 100, mas para mim que vivo com meu filho, ganho 1 salário mínimo e pago aluguel, pesa”, afirma.
Jéssica Rodrigues retira remédios contra epilepsia e depressão, para o pai Luiz Antonio Rodrigues. Ela perde cerca de três horas. “Já foi muito pior, teve tempo que a gente perdia um dia inteiro”, relata a moradora do bairro Assunção, em São Bernardo, que pega dois medicamentos. “O Urbanil que quase nunca tem e a Lamotrigina, que está faltando”, relatou.
Secretaria não garante Cross e admite desabastecimento
Sobre o Cross a secretaria de estado da Saúde explica que há atendimento, independente de uma central regional da Cross. “O ABC integra a Região Metropolitana de São Paulo, que concentra 55 hospitais estaduais e 15 Ambulatórios Médicos de Especialidades e não está desassistido. Para casos que requerem recursos específicos e demandam transferência, a Cross busca a vaga disponível em várias unidades (não apenas nos hospitais estaduais)”.
Sobre a Farmácia o órgão informou que são atendidas 2 mil pessoas por dia. “Vale destacar que o respeito aos cronogramas de agendamentos é fundamental para o bom funcionamento da unidade e bem estar dos usuários. Há aproximadamente 400 cadeiras para os pacientes e 23 guichês para atendimento. A farmácia funciona das 7h às 17h. Além do atendimento presencial, a farmácia realiza 400 atendimentos telefônicos por dia (telefones 11 2829-5030, das 8h às 14h)”, explica na nota.
A secretaria informa ainda que o Risperidona 2mg está disponível; que o Tocilizumabe esteve em falta devido ao atraso na entrega pelo Ministério da Saúde e a previsão é que o fornecimento esteja regularizado até a próxima semana. O mesmo prazo foi indicado pelos fornecedores do Lamotrigina 100mg e Clobazan 10mg, já adquiridos. O Estado informou ainda que os pacientes serão avisados sobre disponibilidade dos medicamentos.