Estamos na era da inteligência artificial, na era do estresse, em que precisamos mais do que nunca conhecer a mente humana. Os pais estão desesperados. Antes eles apresentavam dificuldade em admitir que tinham perdido o controle dos seus filhos, hoje já sabem que não possuem esse controle. Estamos diante de uma geração que se vê presa e vítima das armadilhas da mente: do coitadismo, conformismo, imediatismo, superficialidade, necessidade neurótica de estar sempre certo, dificuldade de reconhecer erros, baixa resiliência, insegurança, baixa autoestima – uma geração que não sabe proteger a sua emoção. Os adultos fazem seguros de todos os seus bens, mas não possuem consciência da necessidade de fazer seguro emocional. As crianças e jovens, por conseguinte, também não aprendem sobre proteção emocional com seus pais.
Algumas pesquisas têm apontado que crianças expostas por longos períodos às telas digitais tornam-se mais calmas. Mas, muito ao contrário, esta exposição constante tem intoxicado mentalmente nossas crianças, tornando-as cada vez mais ansiosas e agitadas. O excesso de informações, por si só, acarreta diversas doenças psicossomáticas.
Quem está assumindo o controle da mente de nossos jovens? Podemos afirmar que no âmago do cérebro há um biógrafo não autorizado se infiltrando o tempo todo para tentar escrever todos os capítulos da vida deles! A cada pensamento negativo, perturbador, a cada ideia que os aprisiona, a cada momento, esse biógrafo assume um posto de comando, e dita as diretrizes que irão constituir os textos vividos de nossos jovens. Cumpre-nos a responsabilidade e a importância de os ensinar a combater estes pensamentos, assumindo as rédeas de seus pensamentos, aprendendo a gerenciar, também, suas emoções!
Devemos nos questionar: o que morre dentro de um jovem antes que venha a pensar em suicídio? Quando pensamos em jovens bem resolvidos, felizes, que têm uma relação aberta, afetiva com seus pais e educadores, que se sentem amados e acolhidos, mesmo diante de suas limitações e dificuldades, certamente pensamos em jovens que não se dobrariam ao desejo de tirar a própria vida. O desejo de suicídio surge quando o jovem pondera que não terá grandes perdas ao deixar a vida que leva!
A cada ano, no Brasil e no mundo, temos presenciado um aumento angustiante na taxa de suicídio, em especial entre a faixa etária de 10 a 19 anos. O suicídio já é a segunda causa de morte entre os jovens. Você, pai, responsável, precisa não somente vigiar as redes sociais, o acesso que o seu filho tem na internet, mas, sobretudo, precisa criar vínculos afetivos seguros, conduzir seu filho a se sentir amado, desejado, pertencente à sua vida, à sua história, à sua família, estar presente, auxiliando-o, sem invadir o espaço dele, observando o que se passa na mente dele, por meio de diálogo, checar quais os “monstros” que se encontram por dentro da psique do seu filho. Quais são os pensamentos negativos, quais são os seus medos, quais são as suas angústias, o que está no controle dos pensamentos dele?
Falta autoestima e autocontrole aos jovens, além de outras habilidades socioemocionais. É necessário que os pais criem pontes com os filhos, – jamais permitindo que estes se isolem em suas ilhas emocionais. Nós precisamos ensinar as nossas crianças a desenvolver uma autoestima alta, uma autoimagem saudável, que aprendam a se enxergar e a se amar, valorizando-se.
Segundo pesquisas, hoje no Brasil, dois milhões de meninas sofrem de anorexia nervosa, 80% dos jovens já sofreram algum tipo de bullying, pois se sentiram altamente constrangidos em algum momento. É preciso, com urgência, ensinar os nossos filhos e alunos a se defenderem do sistema que impõe padrões altíssimos de beleza, de sucesso, de capacidade intelectual, etc. Precisamos ensiná-los a serem autores da sua própria história, e não vítimas deste sistema, a trabalhar suas perdas e frustrações, a ensiná-los que o seu valor está naquilo que ele é e não naquilo que os outros dizem que ele é. Ao fazer com que se sintam únicos e insubstituíveis, nós estamos prevenindo o suicídio!
É necessário e imprescindível prevenir. Não basta remediarmos. Nós chegamos a mais de 7 bilhões de habitantes porque a medicina preventiva foi a menina dos olhos de ouro das gerações anteriores e hoje nós precisamos usar a Psicologia, a Pedagogia e a Filosofia, como a menina dos olhos de ouro na prevenção. Nós precisamos promover a saúde, e não só olhar para a doença.
Ao trabalharmos as habilidades socioemocionais e darmos ferramentas psicológicas para o enfrentamento às dificuldades da sociedade atual, estamos juntos no combate ao suicídio. Só assim teremos uma geração de jovens que saberá que o seu valor está no que eles próprios pensam e investem em si, sendo autores de suas próprias histórias!
Augusto Cury é médico psiquiatra, psicoterapeuta, pesquisador, escritor e idealizador do programa da Escola da Inteligência, Menthes e Gênios.