
As redes municipais de saúde do ABC registraram, no primeiro trimestre de 2025, uma média de 23,22% de absenteísmo em consultas e exames — um aumento de 22,99% em relação ao mesmo período de 2024. Apesar de algumas cidades terem conseguido estabilizar ou até reduzir os índices, o cenário geral aponta para um crescimento nas faltas, o que tem gerado preocupação entre as secretarias de saúde da região.
Em São Caetano, a taxa média de absenteísmo em consultas foi de 15,07% em 2024 e subiu para 17,59% no primeiro trimestre de 2025. Nos exames, o índice passou de 17,23% para 18,64% no mesmo período, principalmente em Alergologia, Dermatologia e Endocrinologia.
Exames como ultrassonografia, mamografia e tomografia estão entre os mais afetados. Para reduzir o problema, a Secretaria de Saúde implantou o programa Regulação Conectada, que envia agendamentos e confirmações via WhatsApp, além de fazer campanhas de conscientização nas redes sociais e nas UBSs.
Em Rio Grande da Serra, o absenteísmo em 2024 foi de 31% para exames e 26% para consultas. No primeiro trimestre de 2025, houve redução para 20% em exames, mas houve aumento de 32% em consultas. As faltas se concentram principalmente em consultas de Pediatria e exames ultrassonográficos. A Prefeitura atua com ações conjuntas entre recepção e agentes comunitários, além de confirmações por telefone, para tentar reverter o quadro.
Santo André registrou 23,91% em 2024 de absenteísmo, com leve queda para 23,20% no primeiro trimestre de 2025. As especialidades com maior índice de faltas são Oftalmologia, Dermatologia, Ortopedia Geral, Otorrinolaringologia, Gastroenterologia, Cardiologia e Neurologia para adultos. Entre os exames com mais ausências estão ultrassonografias, mamografias e ecocardiogramas. Para puxar os pacientes, a cidade reforçou o contato por telefone, mensagens de WhatsApp e atuação de agentes comunitários. Também iniciou a implantação de um aplicativo de agendamento.
Em Ribeirão Pires, os índices de absenteísmo foram de 21,8% no Centro de Especialidades Médicas e Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher, 36,48% nos atendimentos via CROSS, 22,60% em consultas da Atenção Básica e 20% em exames da mesma rede. A cidade confirma agendamentos via WhatsApp e lançou a campanha “Absenteísmo Zero, Saúde 100%” em maio para incentivar a presença nos atendimentos.
São Bernardo apresentou aumento nos índices: em 2024, o absenteísmo em consultas foi de 24,91%; e no primeiro trimestre de 2025, subiu para 27,44%. Para enfrentar o problema, a Prefeitura aposta em ações de sensibilização da população e no envio de mensagens de confirmação para consultas e exames.
A Prefeitura de Mauá não informou os dados ao RD até o fechamento da reportagem.
Absenteísmo como problema de saúde pública
Segundo o professor David Feder, da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), a principal causa do absenteísmo é o longo tempo de espera entre o agendamento e a realização da consulta. “Muitas vezes os pacientes marcam consultas com meses de antecedência e, quando chega a data, já não precisam mais ou simplesmente se esquecem”, explica.
Outro fator relevante é o agendamento em duplicidade. “Muitos pacientes marcam consultas em dois ou três serviços públicos diferentes e comparecem apenas ao que atender primeiro, sem cancelar os demais horários. Isso tira a vaga de outro paciente que poderia estar sendo atendido naquele momento”, afirma Feder.
O professor alerta que a ausência compromete o funcionamento de toda a rede: gera desperdício de tempo e recursos, dificulta o planejamento das equipes médicas e prolonga filas de espera. “O impacto é coletivo. A ausência de um paciente não afeta só a ele, mas também a todos que dependem daquele serviço”, destaca.
Feder defende uma série de medidas para reduzir o problema: marcação de consultas em prazos mais curtos, confirmação prévia do interesse do paciente, priorização de casos urgentes e, principalmente, integração dos sistemas de saúde. “Um sistema unificado, que conecte UBSs, hospitais e santas casas, permitiria melhor controle dos agendamentos, evitaria repetições desnecessárias de exames e aumentaria a eficiência do atendimento”, conclui.