
Os bombeiros atenderam 73 chamados para alagamentos, 30 para quedas de árvores, cinco desabamentos, mas não foram registradas vítimas no temporal desta segunda-feira (31/03) que parou grande parte do ABC, após chuva que registrou mais mais de 100 mm em poucas horas. Nesta terça-feira (01/04) mais de 24 horas após o temporal, nem todos os estragos tinham sido reparados, a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, por exemplo, informou que a operação não estava 100%. As prefeituras de Santo André, Mauá e São Caetano atenderam outra leva de chamados o que totaliza 117 quedas de árvores além de 166 chamados para alagamentos.
A precipitação acima do esperado para a época do ano é efeito das mudanças climáticas que a região deve esperar que sejam cada vez mais frequentes, segundo a análise do professor da disciplina de instalações hidráulicas do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia), Helio Narchi. “Eu fiquei surpreso porque a época das chuvas fortes já teria, em tese, passado. Isso é resultado das mudanças climáticas que a gente vem discutindo com nossos alunos há muito tempo, não é novidade. A região deve esperar cada vez mais chuvas mais intensas”, aponta.
Segundo Narchi as cidades não estão preparadas para chuvas mais fortes do que o habitual. “As galerias de águas estão subdimensionadas para tanta água de uma só vez. As cidades têm uma deficiência na macrodrenagem e somado aos eventos climáticos extremos, temos a impermeabilização crescente das cidades e podemos ter mais eventos como o desta segunda-feira. Por isso é urgente que os municípios tenham planos de contingência para elaborar um plano diretor de drenagem, ver o que existe embaixo do solo, pois muitas prefeituras não têm um inventário das galerias e tubulações, mas um plano com investimento previso para que não sofra com mudanças de governos. Esse é o grande desafio”, sugere o professor da Mauá.
O especialista em instalações hidráulicas sustenta que, onde não é possível intervenções a fim de evitar as enchentes, as prefeituras devem tomar medidas preventivas, para preservar vidas, já que se sabe quais são as áreas de risco. “O que é muito cruel é que o despreparo é rateado entre o público e o privado, na área pública a prefeitura recupera a rua que foi inundada, mas no privado, as pessoas assumem prejuízos enormes, perdem tudo que têm, perdem também vidas, então é preciso criar mecanismos de proteção do cidadão”, completa Narchi.
Socorro
O Corpo de Bombeiros informou, em nota, que a grande maioria das enchentes aconteceu em Santo André. “Nesta segunda-feira (31), foram registrados 30 acionamentos para quedas de árvores em São Bernardo, Santo André, São Caetano, Mauá, Diadema, Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires. Além disso, houve cinco desabamentos, sendo três em Mauá e dois em Santo André. Também foram atendidas 73 ocorrências de alagamentos, sendo 64 em Santo André, sete em Mauá e duas em São Caetano. Diante da previsão de chuvas, as viaturas são reforçadas com equipamentos específicos para o atendimento dessas ocorrências. Além disso, a corporação atua em conjunto com a Defesa Civil e as prefeituras municipais para responder a situações de catástrofes ou calamidades públicas”, diz o comunicado.
A prefeitura de Santo André atendeu muito mais ocorrências relacionadas à quedas de árvores. “Foram realizadas 178 solicitações, sendo 82 chamados para inundação/alagamento em residência, 84 quedas de árvores e/ou galhos, 13 ocorrências em edificações e 5 deslizamentos de terra. Foi necessário realizar as interdições de quatro imóveis, sendo três do Morro da Kibon e um no Nova Guaraciaba”, informou a prefeitura que continuou com a operação de limpeza que atravessou a madrugada e teve continuidade, mas só deve ser concluído na quarta-feira (02/04).
“Estamos com um efetivo de aproximadamente 200 servidores que estão atuando nas áreas atingidas pela chuva do dia 31. Devido à intensa precipitação com elevado índice pluviométrico, foi ocasionada uma alta demanda de ocorrências, sendo 35 vias atingidas, porém as equipes estão atuando na limpeza com raspagem de barro lavagem da via e retirada de detritos, algumas ruas foram finalizadas e as demais estão em processo de finalização com previsão para conclusão da limpeza geral até amanhã (quarta-feira, 02/04), às 17h”, completa a prefeitura em sua nota.
Trens
A CPTM informou que a passagem subterrânea entre o terminal metropolitano de ônibus de Santo André e os trêns ainda estava inoperante, nesta terça, sendo que os passageiros seguem por outro caminho com a orientação de funcionários. Não apenas o túnel ficou submerso como as catracas apresentaram problemas. “Desde o início da operação desta terça-feira (01/04), seis bloqueios dos 14 existentes na estação Santo André, Linha 10-Turquesa da CPTM, apresentaram falha, após as fortes chuvas na região do ABC na tarde desta segunda-feira (31/04). Na entrada principal, localizada na Rua Itambé, três, dos sete bloqueios existentes, estão funcionando. Na segunda entrada, também localizada na Rua Itambé, os 4 bloqueios estão funcionando. O acesso ao túnel, próximo ao terminal de ônibus da EMTU, está fechado, com todos os bloqueios inativos. A equipe de manutenção já está atuando para a normalização dos equipamentos o mais rápido possível e os funcionários da estação estão aptos para auxiliar na movimentação dos passageiros”, diz nota da CPTM. Sobre a circulação dos trens a companhia informa que ela ocorreu normalmente nesta terça-feira.
Mauá
Mauá registrou índice pluviométrico acumulado de 137mm. Segundo a prefeitura esse volume é quase 70 vezes maior do que era previsto de acordo com as informações repassadas pela manhã, que era de 2mm, de acordo com INMET, INPE – Satélites CPTEC, CEMADEN, SAISP, Climatempo e Weather Climátics. A administração municipal disse que já normalizou a situação nos pontos de alagamento na tarde desta terça-feira (01/04).
Por causa de deslizamento ao menos uma casa foi interditada na cidade ao ser atingida por um muro, não houve feridos neste episódio. “Durante a noite desta segunda-feira, a Defesa Civil realizou 11 vistorias após chamados recebidos. Apenas uma residência precisou ser interditada totalmente, após ser atingida por um muro no Jardim Zaíra. Ninguém se feriu e a moradora será encaminhada para o acolhimento social. Ela informou aos agentes que iria para a casa de parentes. Foram registrados dois acidentes de trânsito e duas pessoas foram socorridas com ferimentos leves. Além disso, foram notificadas as quedas de três árvores, sem vítimas”, informou a prefeitura.
Alagamentos
Depois de Santo André e Mauá, São Caetano também teve reflexos da chuva com o transbordamento de rios. “A cidade registrou cerca de 10 pontos de alagamento, todos às margens do Ribeirão dos Meninos e Rio Tamanduateí. De imediato, o Comitê de Resiliência e Eventos Climáticos Extremos, formado por Defesa Civil, GCM (Guarda Civil Municipal), Semob (Secretaria de Mobilidade Urbana) e Saesa (Sistema de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental), entre outros setores da prefeitura, foram às ruas para minimizar os transtornos. Polícia Militar e Polícia Civil também colaboraram com a ação. Essa integração, com suporte do CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências) do município, permitiu que a cidade restabelecesse a normalidade já no fim da segunda-feira. As ruas começaram a ser limpas na madrugada de terça-feira, com o trabalho executado por 53 funcionários”, detalhou o município.
A prefeitura de Rio Grande da Serra informa que não teve eventos de inundações ou deslizamentos de terra. Diadema teve um único ponto de alagamento na avenida Casa Grande. São Bernardo e Ribeirão Pires não informaram danos.