
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que, entre 2023 e 2025, o Brasil registre cerca de 17 mil novos casos de câncer de colo de útero, com aproximadamente 18 mortes diárias. Para se ter uma ideia, somente no ABC, este ano já foram confirmados, pelo menos, 95 casos da doença, que acomete as mulheres, homenageadas neste dia 8 de março.
Dentre as sete cidades, Diadema é a que apresenta o cenário mais preocupante na região: são 17 mulheres com resultados sugestivos da doença neste ano. Na sequência estão Santo André e São Bernardo, que contabilizam sete confirmações cada, Mauá (4) e São Caetano, que confirmou três.
Já ao longo do ano passado, as secretarias de Saúde do ABC apontam que foram, pelo menos, 215 diagnósticos entre São Bernardo (101), São Caetano (60), Santo André (31), Diadema (23) e Mauá (16). As demais cidades não informaram os dados até o fechamento da reportagem.
Terceiro tipo de câncer mais comum
O câncer de colo de útero é o terceiro mais comum entre as mulheres, atrás apenas dos cânceres de mama e colorretal. Em entrevista ao RD, a professora Elizabeth Jehá Nasser, do Centro Universitário FMABC, comenta que, apesar do número de casos, existem meios de prevenção, como a vacinação contra o HPV e o exame preventivo Papanicolau, que permite o diagnóstico precoce da infecção e, consequentemente, a progressão para o câncer. “O uso de preservativo e as consultas regulares também são medidas fundamentais”, sugere a médica ginecologista.
Transmissão e prevenção
O câncer de colo de útero está diretamente relacionado à infecção pelo papilomavírus humano (HPV), transmitido principalmente por meio de relações sexuais. Assim, para reduzir o risco da doença, é essencial adotar práticas de sexo seguro, como o uso de preservativo, além de evitar múltiplos parceiros, fator que aumenta a exposição ao vírus.
No entanto, a principal forma de prevenção é a vacinação contra o HPV, recomendada para meninas e meninos antes do início da vida sexual. “Muitas jovens são convencidas a não tomar a vacina, que é uma importante proteção. Não entendo por que as pessoas resistem à imunização”, lamenta o ginecologista e obstetra Sérgio Makabe, diretor do curso de Medicina da USCS (Universidade de São Caetano do Sul).
O médico reforça que a realização periódica do exame Papanicolau também é fundamental para detectar lesões pré-cancerígenas e garantir um tratamento precoce. “Sabemos que o HPV é muito frequente na sociedade. Há estudos que indicam que, a cada quatro mulheres no Estado de São Paulo, três já tiveram ou têm contato com o vírus. Mas isso não significa, necessariamente, que desenvolverão câncer, pois a maioria das infecções é transitória”, explica o especialista.
Existe um público-alvo?
Assim como o câncer de mama, o câncer de colo de útero afeta, principalmente, mulheres entre 40 e 59 anos. E, segundo a professora Elizabeth Jehá, o principal causador da doença pode permanecer no organismo de forma silenciosa por anos e, de repente, evoluir para um quadro cancerígeno. “Por isso, é essencial que a mulher realize, anualmente, o exame clínico, seguido da coleta para citologia preventiva e da pesquisa do HPV, realizados no mesmo material”, alerta.
Acesso ao exame preventivo e avanço da doença
Todas as cidades que responderam aos questionamentos do RD informam que não há fila de espera para a realização do exame Papanicolau. As mulheres podem agendar o procedimento diretamente na Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima da residência, com apresentação de documento original com foto.
Somente no ano passado, 10.190 exames foram realizados em São Caetano e, até fevereiro deste ano, 1.816 mulheres já passaram pela verificação. Em Diadema, os números são ainda elevados: foram realizados 14.035 exames em 2024 e 2.622 neste ano. Já em Santo André, foram realizados 519 exames de colposcopia no Hospital da Mulher em 2024, enquanto em 2025 foram 70. Outros 88 exames foram realizados no ano passado no AME Santo André e, este ano, ainda nenhum.
Em 2024, foram realizados 34,7 mil exames de Papanicolau em São Bernardo, sendo a maioria (30,6 mil exames) na faixa etária de 25 a 64 anos (público-alvo). Já este ano, foram realizados, até o momento, 5,1 mil exames, sendo 4,4 mil nesta faixa etária. Já em Mauá foram 16,2 mil exames de Papanicolau no ano passado e 2,2 mil este ano.
De acordo com Elizabeth, a não realização do exame preventivo ou a demora na detecção do HPV são fatores cruciais para o avanço da doença. “Quando surgem sintomas, como secreção com odor fétido — resultado da decomposição do tecido, ou necrose —, sangramentos e dor, o câncer já pode estar instalado em estágio avançado”, alerta a professora, ao reforçar a importância da prevenção e do acompanhamento ginecológico regular.
Campanhas de prevenção
Para ampliar a prevenção e o diagnóstico precoce, São Caetano promove a campanha “Março com Elas”, que oferece exames sem necessidade de agendamento, palestras e distribuição de materiais informativos. Em Diadema, a estratégia inclui a busca ativa de mulheres na faixa etária de 25 a 64 anos, o incentivo à vacinação contra o HPV e a capacitação das equipes de saúde.
A professora Elizabeth Jehá Nasser enfatiza que, embora as mulheres estejam cada vez mais conscientes da importância da prevenção, ainda há desafios. “Os meios de comunicação exercem um papel importante na disseminação da informação, mas algumas populações ainda enfrentam dificuldades de acesso ao diagnóstico e ao tratamento”, alerta.
Com campanhas educativas e acesso facilitado aos exames preventivos, a especialista acredita ser possível reduzir a incidência e a mortalidade causada pelo câncer de colo de útero. “O mês de março é um momento-chave para reforçar essa conscientização e incentivar as mulheres a cuidarem da sua saúde”, completa.