Com as temperaturas escaldantes registradas no início de 2025, a falta de climatização em diversas unidades de saúde do ABC tem se tornado um verdadeiro martírio para quem precisa de atendimento. Em muitos casos, pacientes aguardam por horas em salas abafadas, sob um calor sufocante que pode agravar ainda mais seus problemas de saúde. Enquanto algumas cidades oferecem uma estrutura minimamente adequada, outras deixam a população exposta ao desconforto e a riscos.
Um exemplo crítico é Rio Grande da Serra. Para se ter ideia, a cidade conta com apenas uma unidade de saúde equipada com um ventilador, instalado em um consultório médico, e outra unidade onde apenas dois consultórios possuem ar-condicionado. Já as salas de espera e de exame seguem sem qualquer tipo de climatização.
Segundo a administração municipal, a falta de equipamentos é a principal causa da precariedade, mas há planos para a aquisição de novos aparelhos. Enquanto isso, quem precisa esperar por atendimento enfrenta condições insalubres. Apesar das temperaturas extremas, o município afirmou que não houve registros de pacientes com problemas relacionados ao calor.

Ventiladores nas salas de espera
Das sete cidades da região consultadas, apenas São Caetano informou que todas as suas unidades de saúde são climatizadas, com ar-condicionado em recepções, consultórios, salas de exames e demais ambientes. Em contraste, Diadema possui UBSs equipadas apenas com ventiladores nas salas de espera, enquanto outras unidades contam com ar-condicionado apenas em setores como farmácia, odontologia e salas de vacinação.
Já nas salas de exame, somente quatro unidades que realizam ultrassom têm climatização adequada. As UBSs Real, Conceição, Paineiras, Maria Tereza, Nogueira, Promissão, Paulina, Eldorado e Casa Grande não possuem climatização nas salas de espera.
Eriberto Vargas, de 56 anos, sentiu na pele essa realidade. Ele procurou o Hospital Municipal de Diadema nos primeiros dias de janeiro após sofrer uma intoxicação alimentar. Mesmo com fortes dores abdominais e febre, precisou aguardar atendimento por mais de duas horas em um ambiente abafado e sem climatização. “Não tinha sequer um ventilador funcionando. Estava lotado de gente passando mal, com sintomas de dengue e intoxicação. Se fosse um idoso no meu lugar, teria desmaiado”, desabafa.
Outra paciente, que preferiu não se identificar, denuncia a precariedade do hospital. “O prédio está caindo aos pedaços, com macas enferrujadas, ventiladores quebrados e pacientes jogados nos corredores. A última coisa que vão se preocupar é com climatização”, critica.
Para solucionar o problema, a prefeitura de Diadema informou que há um processo em andamento para a aquisição de novos equipamentos, incluindo ventiladores para todas as salas de espera das UBSs. No entanto, não especificou quando os aparelhos serão instalados.
Em Ribeirão Pires, Marta Albuquerque Lins, de 43 anos, desistiu de buscar atendimento na UPA Santa Luzia com seu pai devido ao calor insuportável. Ela conta que esperou mais de uma hora para que ele, um idoso de 85 anos, fosse atendido. Mesmo com prioridade, a chamada não aconteceu. “Muita gente estava com sintomas de gripe, fungando, e não havia sequer uma janela aberta ou ventilador funcionando. Meu pai ainda deu entrada com pressão alta e, por conta do calor, precisou ir embora”, lamenta.
Calor extremo e atendimento precário
A falta de climatização nas unidades de saúde não é apenas uma questão de conforto, mas um fator que compromete a qualidade do atendimento. O educador físico Eduardo Milani alerta que o calor intenso, aliado à falta de hidratação, pode agravar problemas de saúde, especialmente entre idosos, crianças e pacientes com doenças crônicas. “A dica é sempre levar uma garrafa de água e beber regularmente para evitar a desidratação”, orienta.
Ele também reforça a importância de usar roupas leves, como tecidos como algodão e linho, que permitem melhor ventilação do corpo. “Assim como nas atividades físicas realizadas em dias de sol intenso, a recomendação é buscar atendimento nos horários mais frescos, como no início da manhã ou no fim da tarde”, aconselha.
Além disso, evitar alimentos muito pesados ou salgados antes de ir à unidade de saúde pode ser uma estratégia para minimizar o risco de desidratação.