
Entre exportações e importações quase US$ 1 bilhão, ou R$ 6 bilhões, foram movimentados no ABC somente em janeiro. A região fechou aquele mês com saldo positivo, ou seja exportou mais do que importou, de US$ 32,7 milhões. As exportações das indústrias do ABC estão focadas ainda na indústria metalúrgica, química e de borracha.
Para o gestor do curso de economia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Volney Gouveia, apesar da queda das exportações de máquinas e equipamentos, isso não significa que a região perdeu seu papel de destaque. Ele se apega nas exportações de veículos, principalmente por São Caetano e São Bernardo e na indústria de base que, mesmo com queda mostra sua força. O levantamento da balança comercial foi feito pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) que tem quatro diretorias regionais no ABC; Diadema, Santo André (que engloba Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra), São Bernardo e São Caetano.
Diadema teve a balança comercial mais desequilibrada em janeiro, fechou com saldo negativo, ou seja, importou mais do que exportou, em US$ 44,8 milhões. A exportação de máquinas e equipamentos caiu quase 94% se comparando os meses de janeiro de 2024 com 2025. No primeiro mês do ano passado a cidade exportou US$ 26,8 milhões e fechou janeiro deste ano com US$ 1,6 milhão. Os produtos da indústria química tiveram 70% de queda nas exportações. Já na ponta das importações, a cidade dobrou as compras de ferro e aço. No comparativo dos meses de janeiro mais do que triplicou (317%) a importação de ferramentas, artefatos de cutelaria e talheres. Os principais destinos das exportações de Diadema foram Argentina (23,1%), Estados Unidos (13,7%) e México (7,6%). Por sua vez, as compras tiveram como principais origens China (29,4%), Alemanha (15,8%) e Estados Unidos (11,4%).
As exportações da regional do Ciesp de Santo André totalizaram US$ 85,5 milhões no período. Apesar disso no saldo a balança comercial pendeu mais para as importações, deixando o resultado negativo em 6%. Enquanto as exportações de armas e munições caíram 17,1% comparando os dois últimos meses de janeiro, os produtos químicos orgânicos cresceram 263,2% e dobrou a participação dos produtos das indústrias químicas nas exportações da cidade. Nas importações o destaque fica para alta de 293% na compra de cobre. No período analisado, os principais destinos das exportações de Santo André foram Argentina (32,2%), Estados Unidos (31,6%) e Países Baixos (Holanda) (3,7%). Por sua vez, as compras da regional tiveram como principais origens Estados Unidos (26,6%), China (23,3%) e Países Baixos (Holanda) (6,5%).
São Caetano foi a única que fechou janeiro com saldo positivo de 16% na balança comercial, enviando para fora do país mercadorias e produtos que somaram US$ 53,3 milhões. No comparativo com janeiro de 2024 só a exportação de veículos e tratores teve alta foi de 112,9%, e chegou a US$ 38 milhões nos primeiros 30 dias deste ano. Já as importações de máquinas, aparelhos e materiais elétricos subiram quase na mesma proporção, em 112,6%. Os principais mercados para as exportações dos produtos sancaetanenses foram Argentina
(60%), México (17,3%) e Colômbia (5,5%). As compras das empresas do município tiveram como principais origens China (36,1%),
Estados Unidos (9,5%) e Vietnã (8,5%).
São Bernardo é a que mais exporta; foram US$ 277,8 milhões no primeiro mês de 2025. Os principais produtos de exportação são automóveis e tratores, que responderam por US$ 180,8 milhões em janeiro deste ano e US$ 129,6 no mesmo período de 2024, alta de 39,5%. Este mesmo tipo de produto cresceu 9,7% nas importações comparando os dois últimos meses de janeiro. Máquinas e aparelhos elétricos e borracha foram as principais quedas de importações, com -63% e -55,8%, respectivamente. Os maiores destinos das exportações de São Bernardo foram Argentina (41,1%), Chile (11,2%) e Estados Unidos (9,2%). E a maior parte das importações vieram da Alemanha
(25,4%), Suécia (12,8%) e China (11,3%).
Para o economista da USCS, fatores sazonais podem ter influenciado alguns setores produtivos, mas o ABC continua forte na sua vocação industrial. “Eu vejo que apesar de alguns números de janeiro apontarem para baixo, São Bernardo, por exemplo ainda exporta mais que importa. Tem ocorrido na região um crescimento relevante das exportações na casa dos dois dígitos se comparado com as importações. Então não dá para dizer que a região perdeu dinamismo, vejo os números negativos como uma situação pontual e até sazonal. Em São Caetano, se a exportação de automóveis tem grande volume, também a importação de máquinas, usadas no processo de produção de carros, também subiu, então essas importações também incorporam o setor produtivo. Apesar da desindustrialização o ABC mantém sua vocação industrial investindo nos produtos de maior valor adicionado. Se a gente olhar o todo, o fluxo comercial o ABC movimentou quase US$ 1 bilhão entre importação e exportação só em janeiro, e isso é muita coisa”.
A desindustrialização, segundo Volney Gouveia, é um fenômeno visto no mundo inteiro. “Até 1990 25% do Produto Interno Bruto vinha da indústria, hoje é só 11% ,ou seja, perdemos metade e quem ganha mais recursos e isenções é o Agro, mas na vida das pessoas, nas coisas com que elas lidam, a maioria esmagadora, vem da indústria, mas é o Agro que tem isenções. O governo está tentando recuperar um pouco dessa perda com o programa nova indústria que prevê injeção de R$ 300 bilhões até 2026 em várias áreas, como a indústria naval, reorganizando a Petrobras, tudo para combater essa desindustrialização, que afeta todas as cidades do mundo e o ABC não é diferente, mas o fluxo da corrente de comércio da indústria ainda cresce menos que o agro”, completa.