Em sequência às reportagens do RD sobre os blocos tradicionais de Carnaval da região, em Santo André, o Mulheres do ABC, bloco que une celebração, cultura popular e a luta pelo protagonismo feminino, oferece espaço inclusivo e transformador para mulheres. Fundado em abril de 2018, por Rita Dionísio e Paula Marques, o bloco surge como sonho compartilhado pelas amigas apaixonadas pela folia. Juntas, criaram espaço onde mulheres celebrassem a festa com liberdade e segurança, com identidade própria.
Este ano, a saída será no dia 1º de março, sábado, com o tema de 2025 ‘As Mestras e Matriarcas da Cultura Popular’, com a proposta de valorizar o legado de mulheres que marcaram a história do samba, maracatu, coco e de outras expressões culturais. Entre os nomes citados estão Tia Ciata, Madrinha Eunice, Clementina de Jesus, Dona Olímpia e a Mestra Joana, do Maracatu
A concentração será às 10h na Praça do Carmo – Concha Acústica, em Santo André, com saída do cortejo às 12h. O trajeto segue pela rua Campos Sales até o Calçadão da Oliveira Lima e finaliza no cruzamento com a rua Luís Pinto Fláquer.
Além disso, o bloco andreense planeja trazer a participação especial da Mestra Penha, referência da cultura popular paraibana, sob o lema: “Viva as matriarcas, firmes como raízes vibrantes como o tambor”.

História
A primeira saída oficial do bloco aconteceu em fevereiro de 2019. Desde então, a coletividade cresce e encanta com cortejos que ocupam ruas, becos e vielas da cidade. “Nosso bloco não é apenas um espaço de celebração, mas também de aprendizado e transformação. Muitas mulheres nunca tiveram a oportunidade de aprender a tocar, dançar ou cantar. Aqui, fazemos tudo isso juntas, numa comunidade de apoio e crescimento”, comenta Rita, uma das fundadoras do projeto.
O repertório do bloco traz ritmos tradicionais, como o ijexá, maracatu, ciranda, samba de coco e funk. Entre as inspirações musicais estão nomes, como Lia de Itamaracá, Clara Nunes, Mestra Joana Cavalcante e grupos tradicionais, como o Afoxé Filhos de Gandhi e Nação Estrela Brilhante de Recife.
Além disso, o Mulheres do ABC se destaca pela criação coletiva de letras próprias, que debatem questões sociais relevantes, como o aumento dos casos de violência doméstica e feminicídio, especialmente intensificados durante a pandemia.
A coletividade também se dedica a atividades fora do período carnavalesco, como oficinas de percussão, rodas de conversa e apresentações públicas. Já realizaram dois ciclos de oficinas de iniciação à percussão e uma oficina de confecção de agbês, com o objetivo de difundir a cultura popular brasileira e empoderar as participantes.
As atividades são inclusivas, promovem iniciativas, como o revezamento com crianças para permitir que mães participem e a integração de mulheres surdas no grupo. “Atualmente, temos três mulheres surdas que tocam conosco. Embora apenas uma integrante saiba libras, seguimos aprendendo e nos esforçando para garantir que elas se sintam parte. Nosso espaço é para todas as mulheres”, conta Rita.
O Mulheres do ABC também reforça sua preocupação em incluir mulheres trans. Em oficinas realizadas na Casa Neon Cunha, de São Bernardo, por exemplo, o bloco disponibiliza instrumentos e acolhe integrantes de diferentes vivências.
Presença em diversos locais

Além de atuar no ABC, o bloco já participou de eventos, como o Festival de Paranapiacaba e a Festa de Nossa Senhora do Rosário, em Cordislândia (MG), onde foram convidadas pelo mestre Ditinho da Congada, de São Bernardo.
Com figurinos, estandartes e camisetas criados coletivamente, o Mulheres do ABC consolida sua identidade e reafirma a missão de transformar o Carnaval em um espaço de inclusão, resistência e protagonismo feminino. “O mais importante é nos firmarmos todos os anos como um grupo que promove as potências e os sonhos das mulheres”, comenta.