ABC - quarta-feira , 19 de março de 2025

Operários denunciam condições insalubres na Bridgestone de Santo André

Óleo lubrificante e solventes se misturam à água da chuva e segue pelo sistema de drenagem sem tratamento. (Foto: Reprodução)

Uma denúncia recheada de imagens onde operários são submetidos ao trabalho em um galpão com risco de queda da estrutura, fiação elétrica improvisada, esgoto a céu aberto e sujeitos a picadas de animais peçonhentos. Essa é a situação de um galpão da Bridgestone, em Santo André, onde cerca de 25 funcionários de uma empresa terceirizada atuam. No local onde é feita a manutenção de empilhadeiras há também uma questão relacionada ao meio ambiente; o óleo lubrificante das máquinas, por falta de drenagem adequada, acaba sendo jogado na rede de esgoto sem nenhum tratamento. A multinacional, que tem sede no Japão, diz que vai averiguar a denúncia.

Um funcionário que pediu para não ser identificado, denunciou ao RD a situação do galpão e as condições de trabalho. “O pessoal tem que trabalhar ao lado de um esgoto semi-aberto, por ali circulam vários tipos de animais venenosos”, diz. As imagens mostram grandes lesões de pele em pelo menos dois funcionários que podem ter ocorrido no galpão.

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“A oficina funciona em um galpão muito antigo sem nenhuma manutenção, onde uma viga pode cair a qualquer hora na cabeça de um trabalhador, a fiação é improvisada e em vez de ferramentas adequadas usam pedaços de cano de ferro para apertar parafuso de roda. O óleo da máquina fica esparramado pelo chão e depois quando lava vai tudo para a rede de esgoto. Não sei como não aconteceu um acidente mais grave ainda”, aponta o trabalhador que fez a denúncia. O funcionário disse ter levado esses problemas a seus superiores, mas nada foi feito. “O pessoal tem medo de perder o emprego então se sujeita a tudo isso e se acostuma a trabalhar num lugar assim”, completa o denunciante.

Pressão

A manutenção de empilhadeiras é feita por uma empresa terceirizada. O denunciante não revelou o nome da empresa e a Bridgestone também não disse o nome, mas todos os trabalhadores, diretos ou indiretos são amparados pelo Sintrabor (Sindicato dos Borracheiros da Grande São Paulo e Região). O presidente a entidade, Márcio Ferreira, disse que não importa se o trabalhador é ligado à Bridgestone ou à uma empresa terceira, todos tem que ter os mesmos direitos, mas não é o que se encontra na Bridgestone. “Tratam os trabalhadores terceirizados como cidadãos de segunda classe, por isso esse tipo de denúncia não me surpreende. Se temos problemas com o convênio médico até dos funcionários diretos, imagina dos outros que são ligados a outras empresas que a Bridgestone não fiscaliza. A pressão lá dentro, por produtividade, é tão grande que um trabalhador tentou suicídio há poucos dias. A empresa só quer produtividade e ainda teve aquela ameaça de fechar a fábrica e isso só aumenta a pressão”, analisa.

Trabalhador mostra picada no braço. (Foto: Reprodução)

Ferreira se refere à ameaça de demissão de até 700 trabalhadores, feita pela empresa em junho de 2023. Naquela ocasião a linha de produção de pneus para veículos de passeio foi transferida para a Bahia. Após longa negociação o volume de demissões caiu para 581 dentro de um plano de demissões voluntárias mais vantajoso para os trabalhadores que aderiram. A unidade ficou apenas com a produção de pneus para veículos pesados como caminhões, ônibus e tratores.

“Estamos correndo risco até de uma greve por causa dessa questão do convênio médico, que os trabalhadores pagam caro por um serviço ruim”, diz Márcio Ferreira. Após receber as fotos da denúncia o sindicalista espera um relatório das condições de trabalho no local para marcar uma reunião com a Bridgestone e com a empresa terceirizada. “A gente pode pedir para a Bridgestone trocar a empresa por outra que assuma esses trabalhadores, porque dessa forma não pode ficar”, diz o líder sindical. Em junho a direção do sindicato vai até o Japão, em uma delegação que envolve outros sindicatos do Brasil e de outras partes do mundo onde a empresa tem fábrica. “As práticas antisindicais não acontecem só em Santo André ou no Brasil, é no mundo todo, por isso a gente tem esse encontro marcado com os japoneses para tratar disso”, completa Ferreira.

Estrutura do telhado do galpão apresenta sinais de fadiga. (Foto: Reprodução)

Comunicada pelo RD sobre o óleo lubrificante que chega às galerias de esgoto, a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) respondeu, em nota, que vai averiguar a situação. O Sintrabor vai denunciar o caso ao Ministério Público do Trabalho.

Empresa

Em nota, a Bridgestone diz que exige das empresas contratadas a observância de normas de segurança. “A Bridgestone está comprometida com a segurança e o bem-estar de todos os profissionais que atuam em suas operações, sejam eles colaboradores diretos ou terceirizados. A empresa segue rigorosamente as normas de segurança, saúde e meio ambiente e reforça que exige, também de seus fornecedores, o cumprimento integral das normas vigentes. Denúncias são apuradas com seriedade e, caso sejam identificadas irregularidades, medidas corretivas são adotadas imediatamente”, diz o comunicado.

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