ABC - sábado , 15 de março de 2025

Busca por saúde mental cresce no ABC com aumento de 2,3 mil atendimentos

Alta nos atendimentos reflete maior conscientização da população sobre a importância do bem-estar emocional (Foto: Divulgação)

A procura por cuidados com a saúde mental continua em alta no ABC. De acordo com dados recentes das prefeituras, entre 2023 e 2024, os atendimentos na região passaram de 140,9 mil para 143,3 mil, um aumento de mais de 2,3 mil consultas. Especialistas apontam que esse crescimento reflete tanto uma maior conscientização da população sobre a importância do bem-estar emocional quanto os desafios enfrentados para atender à demanda crescente por serviços especializados.

Segundo Líbano Abiatar Csernik, psiquiatra do Hospital São Luiz São Caetano e Hospital Brasil, o aumento nos diagnósticos é resultado de um maior acesso e atenção à saúde mental, mas também evidencia dificuldades que precisam ser superadas. “Muitas pessoas têm buscado ajuda e encontrado alívio em terapias e medicações, mas a sobrecarga dos sistemas de saúde e a escassez de profissionais especializados em algumas regiões limitam esse avanço. Outro desafio é a demora no início do tratamento, o que muitas vezes agrava os sintomas e as consequências dos transtornos”, destaca o psiquiatra.

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Somente em São Caetano, entre os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) e o Programa de Saúde Mental Escolar, foram registrados mais de 79 mil atendimentos em 2024. Em Santo André, foram atendidos 31.795 pacientes no ano passado, enquanto Diadema contabilizou 17.447 e Rio Grande da Serra, 15.137. Os demais municípios não enviaram os dados até o fechamento da reportagem.

Elizabeth Gouveia Marques, de 46 anos, foi uma das pacientes que precisou utilizar a rede pública em São Caetano e se surpreendeu com o diagnóstico que recebeu. “Procurei ajuda porque estava muito ansiosa para ir trabalhar e no final das contas descobri que tenho um grau de transtorno de ansiedade generalizada. Agora estou medicada”, conta. Ela revela que lidou com a situação por pelo menos três anos antes de ser diagnosticada. “Achei que fosse reflexo da minha rotina pesada, do consumo constante de café ou algo assim, mas, no final, era algo que eu já tinha e só não tratava”, explica.

Outro paciente da rede pública de São Caetano, que prefere não se identificar, relata que enfrentou a depressão sem tratamento por dois anos, até ser diagnosticado. “Fazia algumas sessões de acompanhamento psicológico porque tinha mudanças de humor muito drásticas, mas nunca fui diagnosticado com medicamentos, até que, por indicação profissional, procurei um psiquiatra e comecei o tratamento”, conta.

Depressão: a doença do século

Em entrevista ao RD, o psiquiatra apontou a depressão como a “doença do século” no campo da saúde mental. De acordo com ele, essa condição é uma das principais causas de incapacidade no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Ela afeta milhões de pessoas globalmente e, frequentemente, está associada a transtornos de ansiedade, formando um quadro ainda mais complexo”, explica o médico.

Os sinais de transtornos mentais podem variar, mas alguns dos mais comuns incluem tristeza profunda, irritabilidade, alterações no sono, dificuldade de concentração, fadiga constante e perda de interesse em atividades prazerosas. Em casos graves, podem surgir pensamentos de desesperança ou suicídio, alertou o especialista.

De acordo com Abiatar, certos grupos são mais vulneráveis a transtornos mentais devido a fatores biológicos, psicológicos e sociais. “Mulheres, por exemplo, apresentam maior prevalência de transtornos de ansiedade e depressão, enquanto homens têm taxas mais altas de dependência química e suicídio”, explica. Jovens também são impactados pelo uso excessivo de tecnologia e pressões sociais, enquanto idosos enfrentam desafios como solidão e doenças crônicas.

Por este motivo, na avaliação do psiquiatra, campanhas como o Janeiro Branco têm desempenhado um papel fundamental na promoção da saúde mental. “Esse período incentiva as pessoas a refletirem sobre sua condição emocional e a buscarem ajuda especializada, especialmente após as festas de fim de ano, que podem intensificar sentimentos de solidão ou frustração”, ressalta.

Como ajudar quem precisa?

O psiquiatra destaca a importância do acolhimento para quem enfrenta transtornos mentais. Ouvir sem julgamentos, incentivar a busca por profissionais de saúde mental e observar sinais de risco, como fala sobre desesperança ou suicídio, são algumas das medidas essenciais indicadas pelo médico. “A principal atitude é criar um ambiente seguro e de confiança para que a pessoa se sinta amparada”, conclui o especialista.

Atendimento gratuito no ABC

O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional e prevenção ao suicídio por meio de atendimento gratuito e confidencial, disponível 24 horas por dia, por telefone, chat e e-mail. Para ser atendido, é possível utilizar as seguintes opções:

  • Telefone 188: Ligação gratuita e disponível 24 horas por dia.
  • Chat: Disponível todos os dias da semana em horários definidos (consulte no site do CVV).
  • E-mail: Envie uma mensagem para apoioemocional@cvv.org.br ou preencha o formulário diretamente no site do CVV.
  • Atendimento presencial: Dirija-se ao posto de atendimento mais próximo da sua residência.

Para atendimento no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), é necessário comparecer pessoalmente à unidade mais próxima e levar os seguintes documentos: RG, Cartão do SUS e comprovante de endereço.

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