
Considerado essencial para a saúde neonatal, o teste do pezinho ampliado, capaz de detectar mais de 50 doenças, ainda não é oferecido gratuitamente na rede pública do ABC. O exame, realizado nos primeiros dias de vida, possibilita diagnóstico precoce e tratamento imediato, mas atualmente, na região, apenas a versão básica do teste, que identifica seis doenças, está disponível gratuitamente. Em 2024, 47.840 bebês nasceram na região até o dado mais recente disponível no Portal da Transparência do Registro Civil, consultado na quarta-feira (25/12), mas apenas aqueles cujas famílias podem arcar com o custo do exame na rede particular tiveram chances de um diagnóstico precoce para doenças graves, como a AME (Atrofia Muscular Espinhal).
A AME (Atrofia Muscular Espinhal), uma das doenças detectáveis pelo teste do pezinho ampliado, é uma condição genética rara e degenerativa que afeta diretamente a força muscular e a capacidade de movimento, podendo comprometer funções vitais, como a respiração e a deglutição. No entanto, se identificada precocemente e tratada com medicamentos específicos, terapias respiratórias e suporte fisioterapêutico, é possível melhorar significativamente a qualidade de vida do paciente, retardar a progressão da doença e aumentar sua expectativa de vida.
Em uma importante iniciativa para ampliar a detecção precoce de doenças, a Secretaria de Saúde de Minas Gerais anunciou, no dia 9 de dezembro, a ampliação do Programa de Triagem Neonatal (PTN-MG). A partir de janeiro de 2025, o exame será capaz de identificar até 60 doenças, um aumento significativo em relação às 23 doenças previamente triadas.
Tratamento
Em entrevista ao RD, o médico infectologista Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), destacou a importância do exame do pezinho para detectar doenças antes que os sintomas se manifestem. A identificação precoce possibilita o tratamento antes de complicações mais graves.
“Inicialmente, o teste do pezinho identificava apenas uma doença, a fenilcetonúria, que é de origem genética. Com o passar dos anos, o exame evoluiu e passou a diagnosticar diversas condições, desde doenças infecciosas até genéticas, como problemas enzimáticos e imunológicos”, explicou o especialista.
Otsuka ainda defendeu a ampliação do teste em toda a rede pública de saúde. “O teste do pezinho ampliado, já disponível na rede particular, precisa ser implementado no sistema público”, concluiu.
As prefeituras de Santo André, São Bernardo, Diadema, Mauá e Ribeirão Pires informaram que o teste do pezinho básico, oferecido gratuitamente em maternidades e Unidades Básicas de Saúde (UBSs), alcança 100% de cobertura nos municípios. Entre as doenças identificadas estão fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, doença falciforme, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase. Diadema, por sua vez, também realiza a triagem para toxoplasmose congênita. Apesar da abrangência do exame básico, especialistas ressaltam que o modelo ampliado, capaz de detectar mais de 50 doenças, seria crucial para evitar complicações graves e proporcionar maior equidade no diagnóstico e tratamento.
Veja os números de nascimentos no ABC em 2024:
Município | Nascimentos |
---|---|
Diadema | 5.601 |
Mauá | 6.114 |
Ribeirão Pires | 2.000 |
Rio Grande da Serra | 687 |
Santo André | 13.735 |
São Bernardo | 16.183 |
São Caetano | 3.520 |
Total | 47.840 |
Fonte: Portal da Transparência do Registro Civil
Estado
A Secretaria de Estado da Saúde informa que o Estado de São Paulo é aderente ao Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) e realiza a testagem conforme as atualizações do Programa. Atualmente no Estado, por meio do teste do pezinho, são triadas as seguintes doenças: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, anemia falciforme e outras hemoglobinopatias, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase.
Segundo a pasta estadual, o teste do pezinho básico está disponível em todo o Estado e pode ser realizado em maternidades, hospitais que realizam partos e UBS (Unidades Básicas de Saúde). Já o teste do pezinho ampliado é uma iniciativa de cinco municípios: Cidade do Tietê, Descalvado, Cerquilho, Jumirim e São Paulo.
De janeiro a outubro deste ano, foram realizados 1.423.249 exames do teste do pezinho em todo o Estado de São Paulo. Em 2023, foram realizados 1.798.168 exames; em 2022, foram 1.764.697; e em 2021, 1.815.858. Esses números correspondem aos cinco procedimentos do componente do teste do pezinho da tabela do SUS (Sistema Único de Saúde).
Em relação aos nascimentos, a secretaria estadual diz que, de janeiro a novembro de 2024, foram realizados 240.487 partos em hospitais do SUS no Estado. Em 2023, o total de partos via SUS foi de 310.751; em 2022, foram 315.409; e em 2021, 330.690 partos de nascidos vivos via SUS. “O teste do pezinho não se limita à realização de exames em recém-nascidos. Nos casos suspeitos, é necessário realizar exames confirmatórios específicos para cada uma das doenças diagnosticadas no teste”, sustenta a pasta, em nota enviada ao RD.