Uma pesquisa realizada pelo curso de Administração da Fasb (Faculdade São Bernardo) e publicado na 29ª Carta de Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) mostra que o eleitor da região ainda mistura apego a determinados partidos políticos, que pouco discute sobre política no dia a dia e que tem dificuldade de discernir quais são os partidos de esquerda, de centro ou os de direita. A pesquisa ouviu 2.312 pessoas em maio deste ano e foi coordenada pelos professores Antonio Aparecido de Carvalho e Reginaldo Braga Lucas.
Carvalho, que é doutor em Administração e coordena o curso desta disciplina na Fasb falou ao RDTv sobre os principais pontos levantados durante pesquisa, dentre os quais que 53,4% dos entrevistados consideram que o voto deve continuar obrigatório. “Algumas pessoas ainda entendem o voto como um dever cívico, que precisam colocar sua opinião em relação ao voto, mas quando a gente olha que está muito empatado, acho que isso explica o constante movimento que temos de abstenções de votos nulos e em branco”, aponta o professor.
A pesquisa não encontrou nenhum, dentre os entrevistados, que dissesse ter o hábito de falar sobre política e também aponta que 12,2% ainda dizem detestar o tema. “Eu acredito que nas últimas eleições, nós vivemos uma polarização, então a ideologia política é muito grande por isso muitas pessoas se abstém de falar de política porque entendem que vai ser algo conflituoso. Eu creio que, para evitar intriga, confusão, muitos preferem não falar sobre política, mas eu acredito que o grande motivo disso ainda é a falta de educação política. Quando falo disso não é para colocar o lado A ou lado B, ou o certo e o errado, mas explicarmos o que realmente é política, falar de projetos para a população como um todo não para classe A, B, C ou D, para que todos tirem proveito daqueles projetos políticos, do dinheiro que a gente contribui. Falta a sociedade entender que falar de política não é briga, não é confusão. Acredito que a gente tem que levar isso para as escolas, mas sem falar de partidos políticos, algo totalmente neutro e dizer que a política é boa para todos então é preciso entendê-la”, sustenta o professor da Fasb.
A pesquisa foi dividida em três partes, a que analisa o comportamento social, a análise do comportamento psicológico e o economicista – aquele que analisa as possibilidades de forma mais racional. “Nós entendemos que o comportamento social é aquele que é influenciado pelos grupos onde ele vive, como os amigos, a classe social onde está inserido, a igreja, então ele acaba justificando o voto dele por causa desses grupos. O psicológico é aquele efeito afetivo por gostar de determinado político, por gostar de um partido ou é filiado a ele. E o economicista vai ver que benefícios os projetos de tal candidato trarão para ele”, detalha o professor.
“Entendemos que o nosso eleitor é um misto disso tudo, ele ainda recebe a influência dos seus grupos sociais, que tem um afeto muito grande por aquele partido ou aquele político e invariavelmente ele vai pensar se aquilo vai ser bom para ele, ou seja o candidato tem que ter projetos que sejam satisfatórios para eles. Eu creio que, partindo de uma educação política, o ideal seria o equilíbrio entre os três, mas acho que esse equilíbrio está um pouquinho longe da gente conseguir. Muitas pessoas estão acostumadas a votar naquele partido, porque as pessoas do roll de amigos dela influenciaram. A gente tem um caminho longo para que as pessoas tenham discernimento real para o que será bom para o coletivo e não somente para elas”, aponta Carvalho.
Falta, segundo o professor uma análise crítica dos partidos e dos candidatos. “Posso ser muito fã de um determinado partido, mas tenho que saber quais foram os erros e acertos que ele trouxe; pesar os prós e contras para decidir sobre determinado político. A gente tem que sentar e estudar os candidatos”.
Propostas
Apesar de destacar a necessidade do eleitor em analisar as propostas dos candidatos e dos partidos, ele também avalia que há poucas propostas colocadas nas campanhas e até nos debates políticos e, quando há, são propostas difíceis de serem concretizadas. “Muitos políticos se deixam levar pelo carisma que ele acha que tem e que o eleitor vai escolher por características subjetivas. Até porque não se conhece o político direito, não se está do lado dele o tempo todo, alguns nós conhecemos somente na época da eleição. Os políticos já entendem que o que mais consegue votos é o seu carisma e falar o que as pessoas querem ouvir, mas não deveria ser assim, penso que a gente deveria se atentar mais aos projetos políticos, para ver se aquilo realmente é possível de ser feito”, aponta Carvalho.
A pesquisa apontou ainda que 24,7% não consegue diferenciar os partidos de esquerda, centro e de direita, 26% afirma que domina esse tipo de conhecimento e 49,3% tem certo conhecimento. “Eu entendo que as pessoas responderam o politicamente correto, dizendo que entendem, mas eu vejo que 74% não tem o conhecimento amplo sobre o assunto e muitas vezes as pessoas confiam em informações errôneas distribuídas por fake news, pelo whatsapp, na internet, as pessoas não pesquisam, então as pessoas precisam mesmo falar mais de política, entender mais, deixar mais os partidos de lado e entender o que está acontecendo. As pessoas têm que se aprofundar um pouco mais e não falar sobre política só nas eleições”.
Para o professor coordenador do curso de Administração da Fasb, toda essa realidade apontada no estudo é resultado de falta de conhecimento sobre como funciona a política. “Temos que entender cada um dos partidos, cada uma das propostas que existem se as propostas são executáveis ou não então tem que parar um pouco e não ir no que o outro disse. Eu gostaria muito que as escolas tivessem uma disciplina para ensinar realmente o que é política para os jovens”, completa.
Veja a íntegra do estudo: