ABC - quarta-feira , 22 de janeiro de 2025

Em Diadema e São Bernardo a maioria dos lares é chefiada por mulheres, diz IBGE

Mulheres responsáveis por domicílios já são maioria em duas das sete cidades da região.  (Foto: Divulgação/EMTU)

O número de mulheres responsáveis pelos domicílios, ou seja, onde são elas as provedoras do lar, aumentou no país, nos últimos 12 anos, é o que revela a pesquisa “Censo Demográfico 2022: Composição domiciliar e óbitos informados”, divulgada nesta sexta-feira (26/10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No ABC a situação não é diferente, em todas as cidades o número de mulheres chefiando famílias aumentou em relação ao Censo de 2010 e em duas cidades, Diadema e São Bernardo, os lares onde a mulher é a responsável já são maioria.

Diadema a diferença entre domicílios administrados por mulheres e os administrados por homens é maior. Na cidade, segundo a pesquisa do IBGE 52,77% das famílias são chefiadas por mulheres, contra 47,23% por homens. Em 2010 as mulheres respondiam por 42,4% dos lares.

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Em São Bernardo o resultado da pesquisa mostra uma realidade mais equilibrada entre homens e mulheres na responsabilidade pelos lares, com ligeira vantagem para as mulheres. Na cidade 50,93% das famílias são chefiadas por elas, enquanto que eles ficam com 49,06%.

Nas demais cidades há mais homens no comando das famílias, porém a diferença é bem pequena. E Mauá 51,80% das famílias são chefiadas por homens e as mulheres ficam com 48,19%. A participação da mulher no comando da casa aumentou bastante em 12 anos. Em 2010 35,9% das famílias tinham a mulher como responsável.

Em Ribeirão Pires, os homens são responsáveis por 53,22% dos lares e as mulheres 46,78%. Há doze anos as mulheres eram 35,7% na responsabilidade sobre as famílias na cidade. Em Rio Grande da Serra os números também são parecidos; 53,76% da chefia do lar para os homens e e 46,23% para as mulheres que, em 2010 respondiam somente por 30,5%.

Em Santo André a diferença entre as famílias cujos responsáveis são homens ou mulheres é de 1,6 ponto percentual. Homens chefiam 50,8% das famílias e as mulheres 49,2%. No censo anterior elas comandavam 36,9% dos lares.

Em São Caetano também cresceu a presença das mulheres como responsáveis pelos lares, em 2010 elas respondiam por 40,1% e neste último levantamento são 48,92% contra 51,09% de lares comandados por homens.

A pesquisa mostra ainda que a maioria das mulheres responsáveis pelos lares não convivem com marido ou companheiro e cuidam sozinhas de filhos ou enteados. (Veja quadro).

Para a socióloga, ex-secretária de Políticas para as Mulheres de Santo André e atual presidente do Cesco (Centro de Estudos de Saúde Coletiva) da Faculdade de Medicina do ABC, Silmara Conchão, a pesquisa ratifica o que já é conhecido na prática, de que as mulheres estão assumindo o controle das famílias e das suas vidas e estão menos dependentes dos homens. Porém, segundo ela, as famílias chefiadas por mulheres estão mais nas periferias e isso aponta para a necessidade de mais políticas públicas para atender a essas mulheres e seus filhos.

“Essa questão das famílias chefiadas por mulheres a gente assiste isso em todas as camadas sociais, mas a gente vê muito também nas favelas. Analisando economicamente as famílias mais pobres são as chefiadas por mulheres e num país onde a desigualdade salarial entre mulheres e homens é uma realidade ainda se soma a dificuldade de conciliar trabalho e as responsabilidades familiares. Essas são barreiras que limitam o potencial econômico de uma família chefiada por mulher que vai refletir também na capacidade de investir no futuro dos filhos, que também crescem nesse ambiente de dificuldade”, analista Silmara.

Apesar destas dificuldades, a socióloga considera que o resultado da pesquisa mostra que as mulheres estão conquistando mais autonomia e muitas acabam seguindo esse caminho após um casamento permeado por violência doméstica. “A ascensão das mulheres como chefes de família também reflete um processo de empoderamento feminino, onde as mulheres estão fazendo escolhas sobre suas vidas, conquistando a sua autonomia e o seu direito de estar ou não num casamento. Isso pode ser visto também como resultado de avanço da política de igualdade de gênero, do acesso das mulheres à educação e também do acesso das mulheres no mercado de trabalho, então ter a mulher provedora pode representar uma valorização da participação feminina. A Autonomia das mulheres para fazerem escolhas sobre seus relacionamentos é fundamental na nossa sociedade, aliás muitas perdem né sua vida por fazer escolha”, sustenta.

Silmara Conchão (Foto: reprodução RDTv)

Olhando para os números divulgados nesta sexta-feira (25/10) pelo IBGE, Silmara diz que são necessárias políticas públicas para proteção da mulher e dos seus filhos. “Numa sociedade desigual a gente precisa estar mais atento às políticas para as mulheres. Os poderes Executivo e Legislativo têm que estar atentos para que a gente consiga avançar. Numa família chefiada para mulher há muita dificuldade econômica, de ascensão social e a gente vê muito a luta dessas mulheres chefes de família nas favelas. Quando elas podem contar com seus companheiros a gente percebe que a família ela tem uma uma sustentabilidade maior nessa luta contra a pobreza, os dois juntos conseguem sobreviver mesmo nessa condição de pobreza. São muitas as dificuldades, mas ainda é assim é importante essa autonomia, o que não pode é manter uma relação que já acabou, uma relação violenta, nem manter a dependência emocional e econômica”, completa a socióloga Silmara Conchão.

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