
O Procon vai fazer, em todo o Estado um expediente especial para atendimento dos consumidores que foram lesados de alguma forma pela falta de energia ocasionada por temporal na sexta-feira (11/10), mas que a Enel não conseguiu solucionar por completo até a noite desta segunda-feira (14/10), mais de 72 horas depois do evento climático que deu causa ao apagão. Segundo Carina Minc, assessora técnica do Procon paulista, o consumidor pode ser ressarcido pelos mantimentos e medicamentos perdidos por falta de refrigeração, além claro de prejuízos com aparelhos elétricos queimados por conta da oscilação de energia.
Diversos consumidores ainda estavam sem energia na noite desta segunda-feira (14/10) e mesmo aqueles onde a luz já voltou às suas casas enumeram os prejuízos que tiveram por causa do apagão. Caso do morador da Vila Vivaldi, em Santo André, Eduardo Dittrich. Ele mora em um condomínio que tem 44 apartamentos e todos ficaram sem energia desde a noite de sexta-feira até o fim da noite de sábado, portanto mais de 24 horas sem energia. “Eu só não perdi tudo que tinha na geladeira porque fui até o posto de gasolina e comprei sacos de gelo. Mas foi um verdadeiro transtorno, além do gasto, o condomínio ficou com a portaria sem energia. Eu acho um desrespeito da Enel demorar tanto assim para religar a energia, parece que só visa o lucro”.
Camila Muniz dos Santos, moradora do Jardim Guiomar, em Rio Grande da Serra, disse que a energia voltou em sua casa somente as 15h30 desta segunda-feira, mais de 60 horas depois do início do blecaute. Ela conta que sua mãe, que trabalha para complementar a renda da família vendendo picolés, perdeu todos os produtos que estavam estocados no freezer. “Também perdemos toda a comida que tinha na geladeira, e para tomar banho tem que esquentar água no fogão, foi horrível”, conta.
Sandra Heski, moradora do Jardim Vila Rica, disse que ficou mais de 40 horas sem energia e perdeu todos os alimentos que estavam na geladeira também. “Mesmo a gente evitando abrir a geladeira teve uma hora que não deu mais, tivemos que jogar tudo fora. O meu caso nem é tão grave quanto o de muitas pessoas que ainda não tiveram a energia religada. É muito complicada essa demora em reestabelecer a energia; a Enel não atende bem”, reclama.
A situação é mais grave na casa de Ali El Khouwyer que vive com a esposa e o filho em um condomínio na rua Ângelo Davi Tomé, no bairro Rudge Ramos, em São Bernardo. Pelo bairro a energia foi religada, mas no quarteirão onde ele mora, ainda falta energia porque há um poste em que os galhos das árvores tocam na fiação gerando curto circuito e até princípio de incêndio. Segundo Khouwyer, isso está assim desde o temporal de sexta-feira, bombeiros e a Enel já foram chamados e não resolveram o problema. “A energia voltou no sábado, mas aqui no nosso quarteirão não voltou. E fica essa labareda direto no poste. Já vieram técnicos aqui, umas três vezes e nada de resolverem”, diz o morador que vive no apartamento com a esposa e o filho.

Khouwyer diz que o seu prejuízo já passou de R$ 1 mil considerando os alimentos perdidos na geladeira a compra de sacos de gelo e também o período sem energia. Ele também diz que já faltam no comércio local, gelo e velas. “O gelo que custava R$ 9 o saco, cobraram R$ 20 do meu filho ontem e já quase não tinha mais. Fomos atrás de velas e também não encontramos mais para comprar. Por enquanto estamos nos virando, mas se faltar água – e a caixa do nosso prédio está com o nível baixo – vamos ter que ir para a casa de algum parente. Aqui nesse breu a gente se sente um pouco vulnerável e dá até uma depressão”, completa.
Segundo Carina Minc o consumidor tem o direito ao ressarcimento por aparelhos queimados e também pelos alimentos e medicamentos perdidos. “Como um órgão administrativo o Procon recomenta que o consumidor junte o máximo de documentos que puder, como por exemplo as notas fiscais de compra dos produtos. Mesmo o consumidor que não perdeu alimentos pode acionar a Enel pelo tempo que ficou sem energia que é um serviço essencial que tem que ser fornecido com qualidade e regularidade”, explica.
O consumidor deve provar também que tentou resolver a situação diretamente com a concessionária de energia e, sem sucesso, procura o órgão de defesa do consumidor. “A pessoa deve ligar para a companhia e anotar dia, hora e número de protocolo, se não conseguiu falar anotar dia e horário e juntar na documentação”, orienta a assessora do Procon.
Carina explica que em novembro, quando a região metropolitana foi duramente afetada por um apagão que persistiu por dias, foi criada uma Comissão para Eventos Climáticos Extremos, para que essa situação de demora para a religação de energia não voltasse a acontecer. “Não foi a primeira vez que isso aconteceu, tivemos o apagão de novembro e agora novamente, o consumido está cansado disso também. É preciso apurar onde houve fala no plano de contingência. Em novembro multamos a Enel (em R$ 12,7 milhões) e hoje (segunda-feira, 14/10) emitimos um auto de notificação. Quanto ao atendimento dos consumidores vamos atender a todos que nos procurarem”, completa.
Até o fechamento desta matéria a Enel não se pronunciou sobre quantos imóveis ainda estavam sem energia no ABC e nem sobre prazo para regularizar a situação.
Prefeitos cobram ações efetivas da Enel
Os prefeitos do ABC resolveram abraçar a luta dos moradores para a solução dos problemas de falta de energia. Considerando cinco cidades da região, já que Diadema não contabilizou e São Caetano não informou, foram 145 quedas de árvores em razão do temporal de sexta-feira (11/10).
O prefeito Guto Volpi (PL), de Ribeirão Pires, divulgou nota de repúdio contra a Enel porque nesta segunda-feira (14/10) após a interrupção do fornecimento, os bairros Jardim Represa, Jardim Planteucal, Vila Bonita (Quarta Divisão), Jardim Pastoril e áreas de Ouro Fino permaneciam sem energia elétrica.
O Hospital São Lucas, da rede pública de saúde, ficou 48 horas sem o fornecimento de energia elétrica. Cabe informar que, neste período, a unidade manteve o atendimento a 24 pacientes internados em clínica médica e três pacientes em leitos de UTI, fazendo uso de gerador para garantir o suporte médico hospitalar.
O primeiro chamado junto à Enel, no caso específico do Hospital e da UPA Santa Luzia, foi aberto logo após a queda da energia, por volta das 20h de sexta-feira (11). Foram nove pedidos formalmente protocolados junto à ENEL. O prefeito de Ribeirão Pires, Guto Volpi, solicitou diretamente à equipe gestora da companhia na cidade prioridade para o caso – sem retorno. Somente às 19h do domingo (13) o fornecimento de energia foi restabelecido nas unidades de saúde. A prefeitura registrou um boletim de ocorrência contra a operadora de energia.
Em Ribeirão Pires, 20 árvores caíram com o temporal de sexta-feira. E nesta segunda-feira a unidade de saúde do Jardim Caçula ainda ainda estava sem energia.
A prefeitura de Rio Grande da Serra informou que 11 árvores caíram na cidade e que a energia há tinha sido restabelecida em todo município.
Em São Bernardo foram 63 quedas de árvores e segundo a prefeitura 98% delas já foram removidas. Segundo a Enel informou à prefeitura, 28.100 imóveis em São Bernardo amanheceram sem energia nesta segunda-feira (14/10).

O prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior (PT) tem cobrado insistentemente a regularização do abastecimento de energia na cidade. Ele esteve pessoalmente na madrugada de sábado, verificando os estragos causados pelo temporal. Em nota, a prefeitura diz que a Enel trata com descaso as solicitações. “Desde as primeiras horas em que 80% da cidade de Diadema ficou sem luz, o prefeito Filippi vem cobrando incisiva e sistematicamente a Enel, com reuniões presenciais com a direção da empresa, e contato direto com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para cobrar providências e solução do problema na cidade.
O Procon Diadema criou um canal específico para receber queixas contra a Enel. As reclamações podem ser enviadas pelo número de Whatsapp 11 94227 2472 ou email procon@diadema.sp.gov.br. O objetivo do canal é agilizar e concentrar as queixas dos moradores, alguns com mais de 60 horas sem fornecimento de energia elétrica. O apagão também afetou o abastecimento de água em algumas regiões da cidade, devido ao desligamento de bombas que operam no sistema de saneamento. O gabinete de crise vai continuar atuando até que a situação se normalize.
Segundo a Secretaria de Proteção e Defesa Civil da prefeitura de Mauá, no temporal da noite da última sexta-feira (11/10), os ventos chegaram perto dos 80 km/h. Ao todo, foram registradas a queda de cinco árvores. O reservatório da Sabesp, localizado no Jardim Cerqueira Leite, ficou sem energia elétrica da noite de sexta-feira, até o início da tarde desta segunda-feira, o que comprometeu o abastecimento de água em parte da cidade, que foi sendo normalizado ao longo da tarde desta segunda-feira.
A falta de energia afetou o atendimento à saúde de Santo André. “Foram registradas 46 quedas de árvores e 84 quedas de galhos na cidade. A queda de energia afetou o abastecimento de energia no final de semana nas unidades de saúde Vila Guiomar, Centro de Saúde Escola, Vila Palmares, Recreio da Borda do Campo, Parque Andreense e Jardim Sorocaba. Por conta disso, as vacinas foram remanejadas para outras unidades. O atendimento ao público não chegou a ser prejudicado porque essas unidades não funcionam de fim de semana. Houve queda de energia no fim de semana na UPA Sacadura Cabral. Foi necessário acionamento de gerador e o funcionamento da unidade não chegou a ser prejudicado.