ABC - domingo , 10 de novembro de 2024

Zerar filas de vagas em creche é ponto positivo em planos de governo

Zerar a fila de espera por vagas em creches e a valorização e formação continuada de professores foram pontos citados (Foto: Pedro Diogo)

A série de reportagens do Repórter Diário analisou as propostas de educação dos 33 candidatos a prefeito do ABC, totalizando cerca de 500 sugestões, das quais aproximadamente 120 são dos cinco concorrentes em São Bernardo. Embora os documentos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contenham diversas promessas, Lucas Landin, mestre em gestão de políticas públicas, destacou apenas três iniciativas como positivas: zerar a fila de espera por vagas em creches e a valorização e formação continuada de professores. Ele apontou como ponto negativo a ênfase de muitos candidatos na construção de escolas, com poucas medidas focadas no aprendizado.

“Um dos pontos que mais aparece nos planos é zerar a fila de vagas em creches. Esse é ponto muito importante, pois a creche é um direito das crianças, garantido pela Constituição Federal. Ampliar a oferta de vagas é evitar que se faça distinção entre as crianças, priorizando dar a vaga para filhos de pais que trabalham”, elogiou Landin, formado em gestão de políticas públicas na Universidade do Chile, professor na escola técnica do Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (Cepam) e membro do Iede, onde atua na coordenação do QEdu, plataforma que reúne e apresenta dados sobre a educação básica no Brasil.

Newsletter RD

Mas se a ‘promessa’ dos candidatos de acabar com as filas de espera por vagas em creche recebe a chancela de Lucas Landin, o investimento em novas unidades é alvo de críticas indiretas, sobretudo porque os planos de governo praticamente não tratam de iniciativas para reforçar o aprendizado dos alunos. “Analisando os planos no geral, um ponto negativo é que muito se fala em construir novas estruturas escolares, e pouco em melhorar o aprendizado dos alunos. Menos ainda em equidade. Construir grandes estruturas de escolas modelo pode garantir votos e boas propagandas em redes sociais, mas não necessariamente melhoram a qualidade da educação”, criticou.

O especialista, inclusive, usou Diadema para apontar que a desigualdade social tem reflexos claros no aprendizado, mesmo entre estudantes da rede pública. “Em Diadema, por exemplo, o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) aponta que há uma forte desigualdade entre os alunos mais pobres em comparação com o grupo dos alunos de maior nível socioeconômico, isso na própria rede pública. Mas nenhum dos candidatos têm propostas específicas para essa situação.”

Para Landin, merece destaque também o fato de que a esmagadora maioria dos candidatos elenca entre suas propostas implementar políticas voltadas a garantir melhores condições aos professores, tanto na questão salarial quanto em cursos de aperfeiçoamento e atualização. “No geral, outro ponto positivo é que parece haver um consenso entre os candidatos de que é necessário promover a valorização dos professores, assim como investir em formação continuada, que é um problema não só do ABC, mas nacional. Ter professores mais bem formados e motivados é fundamental para garantir um ensino de boa qualidade”, avaliou.

Na extensa relação de propostas analisadas a pedido do RD, o especialista citou nominalmente apenas uma, do candidato governista do Paço de Santo André Gilvan Júnior, iniciativa que pode ser importante reforço no ensino de matemática, segundo avalia. No documento levado ao TSE, o tucano expõe: “Implementar gradativamente tecnologias, com aulas de Robótica, para todos os anos do Ensino Fundamental I”, consta no plano de governo do nome indicado pelo Paço Municipal para disputar a sucessão do prefeito Paulo Serra.

“Especificamente, o plano do candidato Gilvan em Santo André se destaca pela sua proposta de levar a robótica para as escolas municipais. No Saeb 2023, a principal avaliação educacional do País, a cidade teve uma queda no aprendizado de matemática no Ensino Fundamental com relação aos dados de 2019. Portanto, valorizar a robótica pode ajudar os alunos na construção de um letramento matemático”, comentou Landin, para depois justificar a comparação dos dados do Saeb.

“A pontuação de Santo André no Saeb matemática dos anos finais da rede pública foi de 264 pontos em 2019 e 256 em 2023. Nos anos iniciais da rede municipal foram, respectivamente, 234 pontos em 2019 e 234 em 2023. Quando consideramos todo o Ensino Fundamental, houve queda.”

Em que pese os cinco candidatos de São Bernardo, somados, liderarem o ranking de propostas entre os sete municípios, com 118 das cerca de 500 levantadas pelo jornal, Lucas Landin verificou que um dos pontos que deveria ser tratado com especial atenção sequer foi mencionado, nem mesmo de forma superficial, por Alex Manente (Cidadania), Flávia Morando (União Brasil), Luiz Fernando Teixeira (PT), Marcelo Lima (Podemos) e Claudio Donizete (PSTU).

“Em São Bernardo, um dos grandes gargalos é a alta reprovação de alunos nos anos iniciais do Ensino Fundamental, isto é, logo no começo da vida escolar. Em 2022, 3,3% dos alunos da rede municipal reprovaram, o que, apesar de parecer um baixo índice, na verdade é um grande problema, pois representa 1.404 alunos do município já começando a vida escolar com pelo menos um ano de atraso. E, ao longo do ciclo básico, essas crianças podem vir abandonar a escola. Apesar disso, nenhum dos candidatos apresenta políticas para superar a alta taxa de reprovação”, argumentou.

Números

Professor Rafinha, candidato do Psol em São Caetano, foi o candidato com o maior número de propostas relacionadas no plano de governo, com 53, seguido do petista de São Bernardo Luiz Fernando, com 36, e Luiz Zacarias (PL), que disputa o Paço de Santo André, com 34. Líder na quantidade de ‘promessas’ quando somados todos os candidatos de cada uma, São Bernardo

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes