
O MDV (Movimento em Defesa da Vida do ABC) preparou carta compromisso com metas sobre preservação do meio ambiente, sobretudo da Represa Billings, que vai levar aos candidatos a prefeito da região. A expectativa é que todos os prefeituráveis assinem a carta antes de 6 de outubro, dia da eleição.
A intenção, segundo a bióloga e coordenadora do IPH-USCS (Índice de Poluentes Hídricos da Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Marta Marcondes, é fazer com que os candidatos, ao assinarem, se comprometam com as questões ambientais do ABC.
Marta, que também integra do MDV, tentou sexta-feira (27/9) obter a assinatura da candidata Bete Siraque (PT), de Santo André, mas disse que uma mudança de agenda impediu o contato. “Nós estamos nos dividindo para tentar cobrir todo o ABC levar a carta para todos os candidatos”, explica.
O documento é fruto da iniciativa “ABC Para Onde Vamos?”, cujo último encontro ocorreu no dia 17 de setembro, no campus Centro da USCS e reuniu ambientalistas, lideranças indígenas, professores universitários e ativistas para falar da situação da represa Billings, que abastece cerca de 8 milhões de pessoas na região metropolitana, como Diadema, Santo André, São Bernardo, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, além de parte da Capital. A represa completa 100 anos em 27 de março de 2025.
O documento faz recomendações para os candidatos em sete áreas. A primeira é a proteção e recuperação ambiental, onde o MDV sugere a preservação das matas ciliares o congelamento da utilização das margens da represa para atividades rurais, galpões logísticos ou outros empreendimentos e reflorestamento.
A segunda área é Saneamento e Controle da Poluição, que inclui a descontaminação da represa e limpeza de córregos com as cidades, em parcerias e apoio do Consórcio Intermunicipal. O MDV sugere uma rigorosa fiscalização e punição a crimes ambientais, como despejo de esgoto e lixo na represa.
No tema Inclusão e Participação das Comunidades, o movimento ambientalista defende que as comunidades indígenas devem ser consultadas sobre empreendimentos próximos aos mananciais. Outro tema é Educação e Sensibilização Ambiental em que são citadas atividades de educação ambiental nas escolas, universidades, igrejas, núcleos de representação da sociedade civil, empresas e equipamentos públicos além de ampliação de Ecopontos.
A quinta área citada na carta compromisso é o Incentivo ao Ecoturismo e Sustentabilidade. O documento trata ainda de Gestão, onde fala da participação das prefeituras no Subcomitê Billings-Tamanduateí, para potencializar a função da represa como produtora de água para a região metropolitana e o último tema é o fortalecimento do Consórcio Intermunicipal como órgão regional responsável pela governança das questões ambientais da região.

Mortandade de peixes
A Billings está com nível bastante baixo no último mês por conta da falta de chuvas e ambientalistas também apontam desmatamento em áreas de preservação que estariam reduzindo a capacidade do reservatório e concentrando poluentes que estão matando os peixes. No dia 24 de julho, o RD noticiou em primeira mão a mortandade de peixes no Rio Grande, principal afluente do Braço Rio Grande da Billings.
Centenas de milhares de peixes morreram e se acumularam nas margens do rio. O IPH-USCS analisou, na mesma semana, a água e constatou a altíssima concentração de metais pesados, fruto de processos industriais.
Segundo a análise, o cromo hexa-valente estava presente nas amostras do trecho afetado pela morte de peixes em uma vez e meia acima do tolerado; a concentração de cobre estava 16 vezes acima do aceitável; mercúrio, três vezes; cádmio, oito vezes entre outras substâncias, todas advindas de processos industriais.
Cetesb colheu amostras
A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) esteve no local no dia 25 de julho, coletou amostras de água e de peixes mortos. O resultado saiu esta semana e apontou contaminação dos peixes sem, contudo, estabelecer a origem dos poluentes.
“No evento em análise foi constatada a morte de traíras, bagres, lambaris e crustáceos. Os indícios levantados apontam que a morte dos peixes e desses outros organismos foi causada por contaminação, mas não foi possível identificar precisamente o composto e tampouco sua fonte. No entanto, a constatação da ecotoxicidade crônica, nos três pontos amostrados, repete um padrão já encontrado em outros atendimentos. Considerando uma suposta contaminação por composto a base de cloro, com base apenas em relatos da população local, a menor vazão do rio pode ter tido um efeito aditivo na ação de contaminantes, dificultando sua diluição. Por se tratar de composto extremamente volátil, não foi possível confirmar esse lançamento de cloro por análises químicas, na ocasião do atendimento, no entanto, a presença de clorofórmio reforça esses relatos”, diz o relatório da companhia ambiental.