ABC - sábado , 3 de maio de 2025

Vício em apostas é similar a dependência em drogas, diz especialista

Segundo o Instituto Locomotiva, 25 milhões de pessoas passaram a fazer apostas em plataformas eletrônicas de janeiro a julho de 2024, uma média de 3,5 milhões por mês. A informação sugere ascensão no número de apostadores nas chamadas “bets”, que por um lado sugere pessoas apostando seu dinheiro, comprometendo a própria renda, e ao mesmo tempo criando vícios e dependências nos jogos de azar, sejam jovens ou idosos, similares ao vício causado por drogas ilícitas.

Em entrevista ao RDtv, Angélica Capelari, docente nos cursos de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo e Fundação Santo André, diz que esse é um movimento preocupante que ascende o alerta em como é importante prezar pela saúde mental em meio aos vícios. Para se ter uma ideia do quanto os brasileiros “investem” nos jogos de azar, o Banco Central identificou 56 empresas de apostas que receberam, ao todo, R$ 20,8 bilhões em transferências de jogadores, apenas em agosto.

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(Foto: Reprodução/RDtv)

“Existem diversos fatores que favorecem a entrada das pessoas no mundo dos jogos de azar. Há a curiosidade de saber como funciona o sistema, e é nessa que o indivíduo se vicia, assim como se fosse uma droga ilícita”, diz Angélica. Além disso, reforça que a facilidade do acesso a uma plataforma é quase instantânea, seja pelo celular ou computador, sendo um degrau para a pessoa virar apostador.

Outro fator que atrai pessoas aos jogos de azar é o “boca a boca”. Segundo a docente, ao comentar entre um grupo que se soube de alguém que ganhou algum valor, ocorre o que ela chama de “prova social”, que conduz o indivíduo a não querer ficar de fora desse movimento. Também cita as redes sociais como uma ponte para as apostas, pois “direto surgem propagandas no YouTube, Instagram ou Tik Tok sobre jogos de azar, e por mera distração, podemos clicar no anúncio que nos redireciona para o site da bet”.

Sinais

Existem alguns alertas para identificar se a pessoa está viciada em apostas online, sendo o primeiro passo a fase de admitir que está com o vício. Quando o apostador se recusa a aceitar a sua dependência, aparecem outras questões em esferas maiores, como o atraso de pagamentos (renda desviada para bets), maior dedicação do tempo em sites de apostas, perde o horário com maior frequência e cria falta de compromissos sociais.

Angélica explica que, diferente de outras atividades como o bingo, que exigem na maioria das vezes a presença física nos eventos, a facilidade de acesso às plataformas de bets torna a aposta acessível, que por sua vez, desencadeia o vício e afeta a saúde mental.

Regulamentação e Educação

O ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), convocou, nesta quinta-feira (26/09), audiência pública para o dia 11 de outubro a fim de discutir o futuro da Lei das Bets no Brasil. A lei foi contestada integralmente pela CNC (Confederação Nacional do Comércio) no STF, e o ministro é o relator da ação. “É importante que esta pauta esteja presente nas esferas federais do país. Porém, a questão não é se existirão leis e regulamentações sobre as apostas, mas como será feita a fiscalização dessas atividades, ainda mais por comprometerem a saúde mental de milhares de pessoas”, comenta Angélica.

Além de apoiar a discussão sobre as bets no STF, a docente reforça a importância de educar sobre o perigo do uso das plataformas. Isso porque, ainda mais em sites que solicitam verificação de idade (e que muitos burlam o sistema), é importante mostrar para jovens e idosos, principais públicos que utilizam as bets, sobre as consequências das apostas.

“Esses são os dois públicos mais atingidos por problemas de saúde mental causadas por apostas. O jovem, que por vezes está entrando no mercado de trabalho, questiona como conseguir as coisas mais rápido, e se submete às apostas. O idoso, por sua vez, possui mais tempo livre, e por lidar com a perda de entes queridos ao longo de sua vida, se entrega  às plataformas, utilizando por vezes os seus benefícios para apostar”, explica. Um dos exemplos citados se refere ao Bolsa Família, em que beneficiários do programa gastaram R$ 3 bilhões de reais em sites de bets somente no mês de agosto.

“A realidade é que o sistema feito em sites de apostas apresenta uma certa ilusão de ganho, mas que em boa parte é de perda. É importante que as pessoas que realizam esse tipo de atividade se atentem ao quanto as apostas estão impactando em suas vidas, não só financeiramente, mas como em optar por apostar do que viver uma vida de lazer e com a família”, comenta Angélica.

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