O número de casos de dengue no ABC teve aumento significativo em 2024. Para se ter ideia, entre janeiro e setembro deste ano, foram confirmados 39,7 mil casos da doença, número 77 vezes maior do que o contabilizado no mesmo período do ano passado, quando 510 pessoas foram diagnosticadas. Os dados são provenientes das secretarias de saúde de seis das sete cidades que compõem a região.
São Bernardo foi a cidade com o maior crescimento até então, com 7.480 casos autóctones (transmitidos dentro da cidade), além de 263 casos importados e 11 óbitos. Em 2023, o município tinha registrado apenas 29 casos autóctones e 47 importados no período, sem mortes. O aumento representa variação de 25.793% nos casos autóctones.
Santo André também teve números alarmantes, com 13.889 casos de dengue confirmados e 15 óbitos em 2024. Em comparação a 2023, quando houve 257 casos e nenhum óbito, o crescimento foi de 5.304%. Já São Caetano apresentou aumento de 60 casos em 2023 para 8.762 em 2024, o que representa variação de 14.503%. A cidade também registrou quatro óbitos este ano, enquanto no ano passado não houve mortes relacionadas à dengue.
Ribeirão Pires contabilizou 425 casos autóctones e 251 importados em 2024, totalizando 676 casos. Não houve óbitos na cidade, nem neste ano nem no ano passado. A prefeitura não divulgou os números de 2023. Em Diadema foram 9.171 casos de dengue e nove óbitos até setembro de 2024. Em 2023, o município notificou 221 casos e nenhum óbito, resultando em aumento de 4% no número de casos.
Rio Grande da Serra foi a cidade com menos casos de dengue, com 221 registros em 2024. Apesar do número relativamente baixo, também representa aumento significativo de 4.320% em comparação com 2023, quando foram registrados apenas cinco casos.
A Prefeitura de Mauá não respondeu até o fechamento da reportagem.
Variações climáticas interferem nos índices
O crescimento expressivo dos casos de dengue na região é amplamente atribuído às variações climáticas extremas, exacerbadas pelo aquecimento global. Neste ano, o inverno teve temperaturas mais altas do que o habitual, contrariando as características normais da estação.
Em julho deste ano, o RD publicou matéria sobre o aumento da dengue, comparando os dados do primeiro trimestre de 2024 com o mesmo período de 2023. Na ocasião, o portal conversou com o infectologista e professor Juvêncio Furtado, do Centro Universitário FMABC, que alertou sobre o risco de aumento da doença em períodos mais quentes.
“O inverno é uma época de clima instável. Com o aquecimento global, os ovos do mosquito eclodem em maior quantidade, o que eleva o número de larvas, mosquitos e, consequentemente, os casos de dengue”, explicou o especialista.
A parasitologista e professora da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), Alaíde Mader Braga Vidal, destacou que o Aedes aegypti prolifera-se em condições de calor e umidade. “A dengue é transmitida por um mosquito que precisa de um clima quente e úmido para completar seu ciclo de vida”, afirmou.
Vidal também observou que, apesar das temperaturas altas e secas recentes, a tendência de clima mais árido, principalmente na primavera, tem levado ao armazenamento de água, o que pode agravar a situação. “Em períodos de seca, é comum o armazenamento de água, mas esses reservatórios podem se tornar focos do mosquito, reforçando a necessidade de limpeza e vistoria constantes”, alertou.
Outro fator preocupante é a resistência dos ovos do mosquito, que podem sobreviver em ambientes secos por até um ano e eclodem rapidamente com a chegada das primeiras chuvas.
Recomendações
Diante desse crescimento alarmante, as prefeituras do ABC intensificaram as campanhas de prevenção e combate ao mosquito. As autoridades destacam a importância de eliminar focos de água parada, usar repelente e procurar atendimento médico ao apresentar sintomas. O combate ao Aedes aegypti, causador da dengue, chikungunya e zika, envolve o monitoramento de áreas de risco, visitas domiciliares e nebulização em locais com casos confirmados.
Os números mostram um cenário preocupante para a saúde pública no ABC, com a doença se espalhando rapidamente, mesmo em períodos de clima menos propício para a proliferação do mosquito. A conscientização e a prevenção permanecem fundamentais para conter o avanço da dengue na região.