Neste ano Diadema será a cidade sede do Grito dos Excluídos do ABC que acontece juntamente com o movimento nacional, no feriado de 7 de Setembro. O tema deste ano é “Todas as vidas importam, mas quem se importa?”. A organização espera receber pelo menos 400 pessoas no ato que, apesar de iniciar com missa na Igreja Matriz da cidade, é inter-religioso e visa demonstrar jogar luz aos diferentes tipos de exclusão social, como o racismo, o preconceito, a falta de atenção aos moradores em situação de rua, a carência de serviços básicos de saúde e educação.
A missa tem início às 8h com previsão de término as 9h quando então começam os ato do Grito, com café da manhã para os participantes, saída em passeata com carro de som pelas avenidas Antônio Piranga, Fábio Eduardo Ramos Esquivel, Terminal Diadema, Praça Castelo Branco e finalizando na Praça da Moça. O movimento prevê várias paradas, onde pessoas que são vítimas de exclusão pelos mais diferentes motivos são convidados a relatar sua dificuldade. Representantes dos movimentos também vão falar.
Segundo o padre Ryan Matthew Holke, vigário episcopal para a caridade social da Diocese de Santo André, o Grito dos Excluídos que está na sua terceira edição no ABC é uma forma de mostrar as dificuldades da população e os diferentes tipos de exclusão, as paradas durante o trajeto são uma alusão à Via Crúcis em que Jesus Cristo tem 14 momentos de parada carregando a cruz. “Trata-se de uma construção coletiva, a igreja convoca a comunidade e abre para os movimentos sociais. O grito começa logo após a missa que está prevista para as 9h na Igreja Matriz de Diadema, faremos uma caminhada com algumas paradas onde temas sociais são abordados com falas de algumas pessoas nesta situação de exclusão social. Essas paradas têm uma ligação com a Via Crúcis. Essa sugestão veio de membro de um grupo da juventude, que não era católico, e nós abraçamos. A contemplação da Paixão de Cristo é a contemplação à humanidade; é algo de esperança”, explica o padre.
O Grito dos Excluídos do ABCDMRR em sua primeira edição já surgiu um fruto importante, que foi a criação do Fórum das Desigualdades Sociais. A cada ano, novos movimentos sociais, mesmo não católicos se agregam ao movimento. “Este ano teremos grupos de jovens de Diadema. No ano passado, em São Bernardo, finalizamos nossa caminhada em frente a sede do projeto Meninos e Meninas de Rua, portanto é um movimento capilar, que ganha força no boca a boca e nas redes sociais e por isso está crescendo. A igreja tem essa capacidade de acolher, temos sim divergências, mas nos apegamos ao que nos une. O Grito dos Excluídos é um movimento que veio para dar voz”, diz Holke.
Realizado em ano de eleição municipal pela primeira vez, o Grito dos Excluídos, não deve se confundir com propaganda política uma vez que não tem esse objetivo e todas as pessoas, independente de ideologia política, são convidadas a participar. “No ABC pode parecer que está tudo resolvido, mas temos ainda questões como o racismo, a violência, a falta de acesso a serviços básicos, por isso esse movimento que não tem cunho partidário, quer lançar luz sobre esses temas e temos esperança na Democracia, acreditamos nela pois ela foi conquistada como fruto de muita luta”, completa o padre.
Maria Carolina Pelosini, coordenadora da Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Santo André, explica que o grito tem como data o 7 de Setembro exatamente para uma reflexão sobre a data. “O Grito dos Excluídos no ABC, que acontece anualmente no dia 7 de setembro como uma reflexão crítica sobre o Dia da Independência, nos deixou um legado muito positivo por ter oportunizado, em todas as edições, significativa adesão e participação popular, desde movimentos sociais a povos tradicionais, em caráter ecumênico e interreligioso, com vistas a demandas de cidadania, do bem comum e do bem viver, com muitos momentos de escuta, debate e denúncia de violação dos direitos dos mais marginalizados. As manifestações dos anos anteriores ficaram marcadas pelo clamor por mudanças estruturais na sociedade como inclusão social, econômica e provocar autênticas políticas públicas que ajudem concretamente a população mais carente”, explica.
Da mesma forma que Holke, Maria Carolina considera a data um momento de esperança. “Trata-se de uma ocasião que nos convida a superar um patriotismo passivo em vista de uma cidadania ativa para construção de uma sociedade democrática, plural e fraterna, por meio da construção de uma nova política, um caminho de paz e cuidado, de distribuição dos recursos, acesso aos direitos básicos e preservação da vida. O Grito dos Excluídos é, sobretudo, uma manifestação que visa conscientizar para a partilha, justiça e dignidade da pessoa humana e, principalmente, que visa anunciar a esperança”.
Para Walter Veludo Neto, um dos organizadores a edição deste ano tem tudo para ser grande, tanto pelo amadurecimento do movimento na região como pela reciprocidade que a organização encontrou na cidade. “A mobilização, a ajuda, o apoio e a construção do ato pelas pessoas de Diadema deu orgulho de ter escolhido a cidade para acolher o ato esse ano. Nada aconteceria sem todo esse engajamento”, resume.