De um total de 1.195 ônibus que transportam passageiros nas linhas municipais do ABC, só 15 deles, ou 1,25% do total são elétricos, sendo que a maior frota de coletivos elétricos está em Diadema que tem sete veículos deste tipo que disputam espaço com 131 que consomem diesel. Para ambientalistas e técnicos da área de eletrificação já é hora de aumentar o uso desta tecnologia que não emite poluentes durante sua operação, diferente dos motores à combustão.
Enquanto os carros elétricos são a sensação do mercado, superando em vendas muitos modelos movidos a combustíveis fósseis, com os ônibus a situação ainda não se verifica e um dos motivos é o custo. Um ônibus novo cujo motor é alimentado por baterias, custa mais do que o dobro de um ônibus à diesel, dependendo de potência e modelo essa relação pode chegar a três vezes. No entanto, a médio prazo a garagem de ônibus tem uma economia em relação à manutenção, já que o conjunto mecânico, o powertrain, tem menos componentes se comparado ao motor à combustão.
Para o professor do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia) e especializado em mobilidade elétrica, Fabio Delatore, o conjunto mecânico do ônibus elétrico sofre menos durante o uso e pode ter uma manutenção bem menor do que o ônibus a diesel. “Até mesmo o fluido de arrefecimento que restria o inversor e a bateria, se não tiver vazamento ou contaminação, nem precisa ser substituído. Não temos muito acesso aos planos de manutenção das garagens, mas esse custo deve ser menor. Para o passageiro tem mais conforto, mais silêncio e, na condução, o elétrico é muito parecido com o ônibus automático à diesel. O desgaste maior em um ônibus elétrico é mesmo o da bateria, que vai sofrer ao longo do tempo. É igual um notebook que com o tempo a sua bateria vai perdendo a capacidade de armazenar carga. Num ônibus a bateria deve durar de 8 a 10 anos e hoje já se pode trocar partes danificadas da bateria ou troca total, depende da condição”, explica.
A autonomia dos ônibus é outro ponto, isso porque o reabastecimento de um veículo à diesel é rápido, mas a recarga de baterias pode demorar horas e isso pode atrasar as partidas. “Um ônibus que roda o dia todo tem uma autonomia de 300 ou 400 quilômetros, não dá para rodar mais que dois dias, já o ônibus a diesel, com o tanque cheio roda mais. Uma bateria demora de 2 a 3 horas para a carga”, diz Delatore, que por essa razão não acredita que, neste momento, não seja viável uma frota totalmente elétrica. “Além disso tem a demanda de energia que é um fator limitante, um desafio para as empresas de ônibus e para a Enel”, diz o professor que atua no ensino e pesquisa em Eletrônica Automotiva e Sistemas de Controle.
Duas formas de contornar o problema são colocadas pelo professor da Mauá. A primeira é que os ônibus tenham um extensor pantográfico que alcance uma rede de abastecimento durante os pontos de parada, recuperando a carga e aumentando assim sua autonomia. Outra sugestão do professor são ônibus híbridos que, além do motor elétrico, tenham acoplado ao conjunto um motor movido a etanol. “Esse último, para a nossa realidade atual considero o mais adequado”, aponta. Contudo, os custos, ao passo que cada vez mais se sabe sobre os resultados dos ônibus elétricos, vão se equalizando. “Comparando com um carro, o gasto com manutenção de um veículo elétrico é 1/3 mais barato, com o tempo a troca vai ser inevitável”, analisa.
É indiscutível de que a troca de um ônibus a diesel por um elétrico traz ganhos para o meio ambiente e deste ponto de vista, os acadêmicos apontam que a eletrificação do transporte público, assim como no transporte individual é um desafio a ser encarado. “Se levarmos em consideração a quantidade e durabilidade de baterias e o consumo do diesel, podemos dizer que ainda existe uma vantagem, porém é necessário investir em pesquisas para o reaproveitamento dos materiais que são utilizados para a produção dessas baterias. A tecnologia está aí para criar baterias com uma outra proposta e reaproveitar o material utilizado para a sua fabricação”, aponta a bióloga e ambientalista, Marta Marcondes, que é professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul).
A professora considera que, se o avanço tecnológico em relação às baterias permitir, o ideal seria a substituição total da frota de ônibus pelos elétricos. “A frota toda ser substituída talvez essa seja o caminho mesmo, com certeza o impacto para a atmosfera será bem menor. Segundo estudos realizados pela Politécnica da USP, após a realização dos cálculos, foi observado que os ônibus elétricos começam emitindo mais carbono do que os veículos tradicionais a diesel, principalmente porque a produção das baterias elétricas possui valor elevado de emissão. Contudo a eficiência do motor elétrico para converter energia em quilometragem e o uso de fontes renováveis de energia fazem ele emitir cerca de 90% menos carbono do que os motores a diesel”, reproduz.
“Eu sou super favorável às tecnologias que promovam a descarbonificação da atmosfera, afinal de contas a gente não pode mais se dar ao luxo de produzir tantos gases de efeito estufa e que essas mudanças climáticas piorem mais ainda. Acho que a gente tem que investir em pesquisa para o reaproveitamento dessas baterias para uma longevidade maior porque aí sim a gente vai conseguir substituir os ônibus a diesel pelos elétricos, um combustível muito mais sustentável”, completa a professora.
Cidades
A prefeitura de Ribeirão Pires não informou o tamanho da sua frota de ônibus municipais e quanto aos elétricos disse apenas que estuda a possibilidade de implantação. A cidade não tem nenhum veículo elétrico rodando. Em recente resposta ao RD, a prefeitura informava uma frota de 38 ônibus.
Em São Caetano são 57 ônibus que fazem as linhas municipais, mais seis veículos em reserva. Esse sistema transporta, em média, 72 mil passageiros por dia. No último dia 13/6 o primeiro ônibus elétrico começou a circular em caráter provisório e a prefeitura diz que tem estudo para aumentar a frota elétrica de forma gradual.
Frota
Dona da maior frota de veículos elétricos da região, a prefeitura de Diadema diz que neste ano a pesquisa anual de satisfação dos usuários sobre o sistema de transporte vai incluir quesitos específicos sobre o quanto os usuários gostam ou não gostam dos ônibus elétricos. “As pesquisas de satisfação normalmente são feitas no mês de agosto e a partir deste ano serão inseridas perguntas referentes a esse tipo de veículo”.
A frota de Diadema é operada pela Suzantur e conta com 138 ônibus que transportam cerca de 52 mil passageiros por dia. Do total de coletivos, sete são elétricos e somente eles transportam 1,8 mil passageiros diariamente, segundo informa a prefeitura. A administração municipal, no entanto, não tem ainda uma projeção do quanto pretende incrementar a frota elétrica. “Não há projeção nesse sentido. Testes estão sendo feitos pela empresa de transporte para avaliar custo, manutenção e eficácia desse tipo de veículo nas vias da cidade, mas ainda não há previsão sobre substituição”, diz nota do paço diademense. A prefeitura diz ainda que a Suzantur avalia a eficácia e os custos deste tipo de veículo.
São Bernardo tem 387 veículos que fazem as 66 linhas municipais e apenas um deles é elétrico, que opera de forma experimental e, segundo a prefeitura, esta experiência tem se mostrado positiva. “Cerca de 200 mil pessoas utilizam o sistema de transporte público diariamente. A partir do final do ano passado, em caráter experimental, a Linha 20 (Pq. Imigrantes/Paço), via Demarchi, circula com um veículo elétrico (a baterias), a qual tem apresentado eficiência. Essa linha transporta uma média de 4.000 passageiros por dia. O contrato vigente estabelece a substituição gradativa da frota por tecnologia limpa”, informou a administração municipal que diz ainda que um ônibus elétrico custa cerca de R$ 2,5 milhões.
Em Santo André apenas um ônibus elétrico e um híbrido circulam dentre os 309 que fazem parte da frota municipal. Ao todo o sistema transporta 133 mil passageiros, em média, por dia, em 48 linhas. Apesar do número pequeno de elétricos, o município diz que os coletivos à diesel usam tecnologia moderna que os torna menos poluentes. “Destacamos que atualmente 100% da nossa frota é composta por carros com os sistemas Euro 5 e Euro 6, que permitem uma menor emissão de poluentes decorrentes do óleo diesel. Neste ano foram entregues 21 veículos 0 km Euro 6 e até agosto mais 21 carros com a tecnologia serão incluídos na frota”, aponta nota do paço andrense.
A prefeitura de Mauá, não respondeu aos questionamentos do RD, mas recentemente a Suzantur, que opera o transporte coletivo na cidade, anunciou o aumento da frota de elétricos na cidade de dois para quatro veículos. A licitação do transporte coletivo na cidade determina 248 ônibus.
Rio Grande da Serra tem uma frota aproximada de 18 coletivos. A prefeitura não informou se há algum elétrico em funcionamento na cidade.