O surgimento de casos da coqueluche acende alerta para a aplicação da dose de reforço contra a doença, que atinge de crianças à idosos. Ao RDtv, Valter Pinho, pediatra, infectologista e professor da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), comenta sobre a importância da vacinação contra a patologia e ressalta que a baixa cobertura vacinal é o principal motivo do aumento de casos.
A coqueluche é uma infecção respiratória, transmissível e causada por bactéria (Bordetella pertussis) que pode atingir de recém-nascidos até a terceira idade. Segundo o CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica) de São Paulo, foram registrados 139 casos de coqueluche, até o momento, no Estado. “Quando nascemos já tomamos três doses da vacina, sendo estas a de coqueluche, tétano e difteria. O problema é que não temos uma calendário vacinal que conte com o reforço da segunda dose de coqueluche, que deve ocorrer aos 4 anos”, explica Pinho. Além disso, a dose primária não garante que a pessoa não contraia a doença em outras fases.
Bem como o calendário vacinal, outro fator destaque para o não reforço da coqueluche é a sua cobertura vacinal. O infectologista comenta que a dose oferecida pelo SUS (Sistema Único de Saúde) é destinada somente para crianças, não disponibilizando doses avançadas para adolescentes, por exemplo, que só usufruem da segunda dose de tétano e difteria. “A dose destinada a esse público só é oferecida na rede privada de saúde, dificultando o acesso da população”, explica o médico.
Essa dose oferecida somente no sistema privado de saúde é disponibilizada principalmente para gestantes. “Esse ponto foi um avanço importante na medicina pois, há cinco anos, recebíamos casos de internações de crianças com coqueluche em situação grave. Quando vacinamos a gestante, oferecemos a prevenção até mesmo ao bebê, com uma proteção parcial contra a doença, se tornando fundamental e indispensável para este público”, diz o especialista.
A contaminação da coqueluche ocorre brandamente e é até confundível com outras doenças como a gripe, que circula através da transmissão respiratória. Pinho explica que para diferenciar a coqueluche de outras doenças respiratórias existem duas fases. A primeira se baseia no contato com alguém que tenha coqueluche, demorando de 5 a 15 dias para surgirem os sintomas. A princípio, são sentidos sinais como resfriado, febre baixa, coriza e tosse. Em sua segunda fase, a doença persiste por mais tempo e chama a atenção pela tosse mais forte e com surtos intermitentes que fazem com que a pessoa vomite e fique vermelha.
A não vacinação pode provocar, ainda mais em crianças mais novas, quadros graves como insuficiência respiratória, broncopneumonia, infecções e eventuais hemorragias. “Os principais transmissores da coqueluche são os adultos, aqueles que não tomaram a dose de reforço como a de tétano e difteria. Pessoas com comorbidades, gestantes, crianças e idosos devem se atentar ao reforço vacinal para evitar complicações futuras”, relata Pinho.