Docentes da USCS (Universidade de São Caetano) chamam atenção sobre um tema pouco discutido, porém que envolve esferas públicas, sociedade e eventos climáticos: o racismo ambiental. Para entender as nuances do assunto, a docente de Psicologia da USCS, Ellen Taline de Ramos, e o professor-pesquisador da USCS/Norec (Agência Norueguesa de Cooperação e Intercâmbio), Aquiles J. Santodomingo Varela, explicaram ao RDtv como foram as pesquisas para entender o fenômeno.
O racismo ambiental é um conceito que envolve a relação entre dados demográficos e geográficos, em que áreas mais sujeitas a sofrerem danos por desastres naturais e fontes de maiores índices de poluição são regiões de concentração de pessoas autodenominadas pretas ou pardas. “Esse termo surgiu nos anos 1980 nos Estados Unidos, e trazendo para o Brasil, analisamos essa relação com o histórico do País, em que passamos por processos escravatórios que constituem o que chamamos hoje de racismo estrutural”, explica Ellen.
A partir desta concepção, Ellen e Varela iniciaram suas pesquisas para identificar padrões que entrem em conflito com as estatísticas. “Um dos exemplos que encontramos foi no bairro Heliópolis, em São Paulo. Depois de uma pesquisa, identificamos que este comportamento acomete até os pensamentos das pessoas, que entendiam estarem em uma zona de risco, mas que não tinham o que fazer”, afirma Varela.
Segundo o professor, independente de ocorrer um calor intenso ou uma chuva severa, as regiões recebem o clima de diferentes maneiras. Nessas regiões, foram registradas altas concentrações de poluição no ar, esgoto ao ar livre, além de zonas propicias a desabamentos.
A partir de um censo demográfico apresentado pela Defesa Civil de SP, identificaram que mais da metade da população daquela região se autodeclara preta ou parda. Esse padrão foi identificado em outros locais da cidade, como no Jardim Helena, Jardim Ângela, São Miguel, Itaim Paulista e Itaquera. Segundo eles, neste ponto surgem duas demandas que devem ser atendidas por essas comunidades, partindo principalmente das gestões públicas: identificação e prevenção de desastres ambientais, e acolhimento das famílias que passam pelas catástrofes.
Por parte da Psicologia, Ellen comenta que cada vez mais a área está envolvida nos desastres naturais, principalmente na atuação na gestão de risco diante emergências. Ela diz que é importante que as pessoas saibam identificar uma área de risco, e que, em um eventual desastre, sejam acolhidas por equipes capacitadas que tranquilizem essas pessoas.
“Só a psicologia ou a legislação não resolvem. Precisamos de uma ação multidisciplinar entre as esferas públicas para que as pessoas em zonas de risco sejam atendidas, além de receberem um acolhimento humanizado que por vezes falta quando ocorrem essas situações”, comenta Ellen.