Não é de hoje que o Polo Petroquímico do Capuava, em Santo André, deixa moradores da região preocupados em relação aos impactos dos poluentes emitidos na instalação à saúde. Mas a detecção de um pó branco em meados de março, despertou uma série de desconfianças nos residentes. A pesquisadora em poluição e doenças pela USP (Universidade de São Paulo) e doutora em Endocrinologia pela USP, Maria Angela Zaccarelli Marino, afirma que esse pó branco não é tão novo na região e que, vários estudos realizadas em torno do Polo com animais de experimentação apontam que a proximidade com os poluentes pode causar uma série de alterações na composição de vários órgãos e gerar doenças graves no futuro.
Em entrevista ao RDtv, Maria Angela destaca que o último estudo realizado foi focado nos impactos do poluentes em gestantes e nos bebês que foram gerados em torno do Polo e, os resultados são preocupantes. “Ao colocarmos esses animais expostos ao pó branco, pudemos observar que a série de elementos químicos presentes no local, como metais pesados e gases tóxicos, faz com que os filhotes destes animais nasçam com baixo peso, com baixo desenvolvimento e é alta a taxa de mortalidade no primeiro ano de vida e isso pode ocorrer também em humanos”, diz.
Desde 1989, a pesquisadora realiza estudos na região para observar os impactos dos poluentes no organismo e, ressalta que os residentes da região devem investir em exames rotineiros, em especial exames voltados para a tireoide. “A incidência de casos de tireoide autoimune é cinco vezes maior em moradores que residem perto de indústrias químicas e, a consequência dessa doença é o hipotireoidismo (deficiência de hormônios da tiroide). Sem esse hormônio, as crianças que nascem perto de indústrias químicas não tem um crescimento adequado e acabam tendo uma dificuldade grande de desenvolver as funções cognitivas, como memória, raciocínio e concentração e, justamente por isso, é importante sempre estar com todos os exames em dia”, frisa.
Maria Angela comenta ainda que entende a importância do Polo para a economia e para a geração de emprego na região, mas é necessária uma mudança urgente no que se trata de cuidados com a poluição. “Não somos contra as empresas, mas somos a favor da saúde e as empresas precisam ter respeito com a população. Vivemos em um mundo muito tecnológico e as empresas precisam usar essa tecnologia para criar filtros que impeçam ou diminuam a passagem desse pó e desse poluentes e, só assim, poderemos notar uma melhora na saúde daqueles que precisam viver em volta da instalação”, acrescenta.