Quase 70 ganhadores do Nobel pedem que Milei reverta cortes de orçamento na ciência

Em carta ao presidente da Argentina, Javier Milei, 68 laureados com o prêmio Nobel de diversas disciplinas manifestaram preocupação com os ajustes adotados por seu governo no setor da ciência e pediram que ele restabeleça os valores orçamentários. A redução de investimentos em ciência, bem como em outras áreas, faz parte do projeto de Milei de forte ajuste econômico cujo objetivo é alcançar o déficit zero.

“Congelar os programas de pesquisa e reduzir o número de estudantes de doutorado e de jovens pesquisadores causará a destruição de um sistema que levou muitos anos para ser construído e que exigiria muitos mais para ser reconstruído”, alertaram os cientistas em carta distribuída por Richard Roberts, Nobel de Medicina de 1993.

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Como parte de seu plano de redução do déficit fiscal, o governo de Milei manteve para 2024 o mesmo orçamento que o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) teve em 2023, o que, em um contexto de 254% de inflação nos últimos 12 meses, o deixaria falido.

“Tememos que a Argentina esteja abandonando seus cientistas, estudantes e futuros líderes da ciência. Nos preocupa que a dramática desvalorização dos orçamentos do Conicet e das Universidades Nacionais reflita não só uma dramática desvalorização da ciência argentina, como também uma desvalorização do povo argentino e do futuro da Argentina”, afirmaram os ganhadores do Nobel.

A carta, dirigida também ao chefe do gabinete, Nicolás Posse, ao presidente do Conicet, Daniel Salamone, a deputados e senadores, enumera uma longa lista de contribuições de cientistas argentinos em diversos temas.

“Se não fosse pela ciência argentina, as causas do câncer de pulmão e do diabetes permaneceriam um mistério por décadas. Se não fosse pela ciência argentina, não teríamos o conhecimento e a tecnologia que permitem a um país com chuvas modestas alimentar a sua população e o mundo. Se não fosse a ciência argentina, não teríamos elementos-chave para a nossa compreensão do universo, desde o desenvolvimento de um simples vírus até seus átomos”, continua a carta.

Os ganhadores do Nobel, a maioria nas áreas de Medicina, Economia, Física e Química, questionaram os impactos econômicos da medida de Milei: “Qualquer economia moderna como a Argentina deve ser capaz de gerar novas tecnologias focadas e aplicar outras estrangeiras em contextos locais. Seríamos ingênuos se não entendêssemos que qualquer país que dependa apenas deste último perderia a sua independência econômica. Mas sem uma infraestrutura para a ciência, um país cai no desamparo e na vulnerabilidade. Sem desenvolver tecnologia própria para avançar ou formar pessoas ou desenvolver a infraestrutura necessária para o conhecimento científico e tecnológico dos problemas nacionais e regionais, em que situação ficaria a Argentina?”

Por fim, destaca que “todos esses avanços foram consequência do apoio governamental à pesquisa básica”.

Milei defende plano de ajuste

Na terça-feira, 5, Milei havia defendido seu plano econômico, prevendo uma desaceleração da inflação nos próximos meses. Falando a produtores agrícolas reunidos na feira agroindustrial Expoagro, o presidente argentino disso que há consenso de que o indicador do mês de fevereiro ficará em torno de 15%, quase cinco pontos menos do que em janeiro.

O aumento de preços em dezembro foi de 25,5% e em janeiro de 20,6%, enquanto o aumento anual atingiu 254,2%. O Instituto Nacional de Estatística e Censos divulgará a taxa de fevereiro na próxima semana.

A inflação é a principal preocupação dos argentinos, segundo pesquisas de opinião. No âmbito do seu plano ortodoxo, o governo Milei realizou uma desvalorização do peso de mais de 50% logo após tomar posse em 10 de dezembro, o que acelerou a inflação. Ele também implementou uma desregulamentação de preços que foi controlada e eliminou subsídios a determinados setores como transporte público e energia.

Estas medidas, que segundo o presidente eram necessárias para corrigir distorções na economia, dispararam o valor dos alimentos e de outras necessidades básicas, bem como dos transportes, da eletricidade, dos serviços privados de saúde e de educação.

A inflação, por sua vez, desencadeou a pobreza, que segundo o governo afeta seis em cada 10 argentinos, aumentando a agitação social e as exigências de aumentos salariais e ajudas estatais.

Desmaios durante visita

Também nesta quarta, Milei se viu no meio de uma situação inusitada durante uma visita à escola onde estudava, quando dois alunos desmaiaram e o presidente culpou a esquerda.

Pela primeira vez após assumir o cargo, Milei frequentou a escola Cardenal Copello, no bairro Villa Devoto, em Buenos Aires, e durante mais de uma hora revisou anedotas de sua infância e juventude diante dos alunos e defendeu seu plano de ajuste econômico.

No meio de sua apresentação, o presidente relembrou sua experiência na universidade na década de 1970 com um professor “bastante canhoto” (esquerdista), quando um aluno que o acompanhava no palco desmaiou.

“Como veem, mencionar os comunistas é tão perigoso que sempre gera problemas”, afirmou o presidente em tom de piada após o aluno desmaiar, provocando risos na plateia.

O jovem se recuperou após receber atendimento do médico que acompanha o presidente. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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