ABC carece de iniciativas no combate a enchentes

O mapeamento de áreas suscetíveis a enchentes tem ganhado cada vez mais espaço nas discussões de pautas relacionadas a chuvas de verão. Acontece que apesar dos estragos e registros recorrentes no ABC, ainda são poucas as ações efetivas no que se refere ao monitoramento e soluções para as inundações em regiões mais afetadas pelos temporais, como é o caso dos centros comerciais e principais vias de acesso aos municípios.

Avenida Santa Clara enche de água nos dias de chuva (Foto: Reprodução/Facebook)

Em Ribeirão Pires, quem precisa acessar a avenida Santa Clara em dias de chuva já sabe que vai enfrentar problemas, e apesar do problema já ser conhecido, nada é feito. É o caso da dentista Mayara Cruz Fonseca, 28, que na última semana precisou faltar dois dias no trabalho por conta de enchente na região. “Quando chove muito já até sei que não vou conseguir sair de casa”, diz. A moradora do bairro Santa Luzia comenta que para chegar ao trabalho, precisa passar pela via, mas não arrisca atravessar a avenida com o carro que utiliza para trabalhar. “É pedir para empacar na lama”, diz.

Newsletter RD

Segundo a reclamante, várias solicitações já foram feitas na Prefeitura da cidade, mas até agora a avenida segue na mesma situação. “Vários moradores já se mobilizaram para reclamar do problema, visto que é uma avenida com bastante fluxo, mas ninguém faz nada, sequer fiscalizam o que acontece nos dias de chuva”, salienta a munícipe ao lembrar que até mesmo os ônibus deixam de acessar a região. “Nem eles tem coragem de vir até aqui. Fica uma lamaceira sem fim”, reclama.

Em nota, a Prefeitura de Ribeirão Pires informa ter conhecimento do problema e diz monitorar a região assim como os bairros Santa Rosa, Centro (margens do córrego), Ouro Fino (divisa com Suzano SP 031) e avenida Capitão José Gallo (próximo ao Rodoanel), que também registram enchentes. Ao todo, foram 17 registros de ruas alagadas na cidade este ano.

Inundações no centro comercial

Em São Bernardo o problema é parecido, mas dessa vez, para quem precisa acessar o centro comercial na avenida Prestes Maia. Um comerciante da região, que prefere não se identificar, conta que desde que se instalou na região, há 16 anos, sofre com a questão das enchentes. Inclusive, em duas oportunidades, chegou a ter prejuízos em sua loja. “Foi em 2017. Choveu tanto que a água entrou dentro da loja e molhou os sapatos que estavam expostos nas caixas logo na entrada”, lembra.

São nesses dias de chuva forte que o comerciante diz perder boa parte da clientela, porque além de precisar fechar a loja mais cedo para conseguir chegar em casa, a chuva afasta quem conhece a região. “As pessoas sabem que aqui enche de água, por isso não se arriscam a andar pelo centro em dias de chuva”, conta. Questionado sobre a situação ‘histórica’ na região, o comerciante observa as ações de combate às enchentes realizadas pela Prefeitura de São Bernardo como falhas. “Estamos no centro da cidade, onde isso jamais isso poderia acontecer, mas sequer enxergam o que enfrentamos por aqui”, reclama.

Em nota, a Prefeitura de São Bernardo informa que, assim que acionada sobre um ponto crítico de chuva na cidade, a Defesa Civil encaminha equipe para vistoria de estrutura e drenagem no local, que verifica também o estado estrutural e de limpeza. Desde o início deste ano, a administração informa que foram registrados acúmulos de água nas avenidas José Fornari, Tiradentes, Brigadeiro Faria Lima (entre a Alameda Glória e av. Prestes Maia) e av. Barão de Mauá.

Motoristas precisam esperar água baixar na av. João Ramalho (Foto: arquivo pessoal)

Já em Mauá, quem acessa a avenida João Ramalho em dias de chuva também corre o risco de ficar preso na enchente. Exemplo é o entregador Raphael de Souza, 23, que na última semana precisou estacionar a moto no restaurante Habib’s até que a água da avenida baixasse. “Não dava pra passar porque a avenida estava literalmente inteira embaixo d’água”, comenta. Segundo ele, não é a primeira vez que o problema acontece, é chover um pouco mais forte, que a avenida inunda.

Para quem depende de transporte público o problema é o mesmo: é preciso esperar a água baixar para seguir viagem. “Os trens da CPTM ficaram parados por, pelo menos, uns 20 minutos. Até que a água baixou e conseguimos seguir viagem”, comenta um passageiro que acessou o serviço na tarde do último dia 24, e que também prefere não ser identificado.

Questionada, a Prefeitura de Mauá não se manifestou até o fechamento da reportagem.

Monitoramento

Diadema informa monitorar cinco pontos com risco de alagamentos na cidade, sendo dois no Centro, um na Vila Lídia, um na Vila São José e um no Casagrande. Assim como as demais cidades, no período de chuvas, a Defesa Civil foi acionada por chamados de alagamento: foram seis casos, todos sem maior gravidade ou perdas materiais significantes.

Já Rio Grande da Serra informa monitorar os seguintes pontos: Parque América, Estrada do Rio pequeno, av. Jean Lieutaud, no bairro Santa Teresa e av. Guilherme Pinto Monteiro no bairro Monte Alegre.

Mauá e São Caetano não responderam até o fechamento da reportagem.

Planos de drenagem

O Consórcio Intermunicipal ABC iniciou o caminho para a revisão do Plano Regional de Drenagem, projeto que contará com 24 meses para realizar as mudanças, ou seja, com finalização prevista somente para 2026. Na estratégia traçada pela entidade, o objetivo é buscar um olhar mais moderno para encontrar soluções que evitem alagamentos e enchentes na região.

Sandra Malvese, coordenadora do GT Drenagem e coordenadora de Programas e Projetos do Consórcio ABC, relata o desafio de realizar uma série de projetos que levem em conta a emergência climática e a impermeabilização do solo. Segundo ela, a atualização do Plano Regional de Drenagem ocorre a partir do financiamento do Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos), e até o mês de maio deste ano, o Consórcio deve licitar a contratação da empresa que realizará o trabalho.

Neste período, algumas cidades já se mobilizam na tentativa de driblar o problema. Exemplo é Santo André, que investiu na utilização de bueiros inteligentes, instalação de 110 câmeras de monitoramento e de 28 pluviômetros nas estações meteorológicas, além da ampliação do piscinão de Santa Teresinha e entrega do piscinão do Jardim Irene.

Já São Caetano aposta na construção do Piscinão Jaboticabal, com entrega prevista para o fim de 2024, como principal aliado no combate aos alagamentos. Em entrevista ao RDtv, o coordenador da Defesa Civil de São Caetano, Juscelino Roque Brilhante, destaca que, durante a chuva, a água que irá chegar ao bairro Fundação, será armazenada no piscinão até o fim das chuvas e depois, liberada gradativamente. “Com isso, os impactos ambientais causados pelos grandes temporais serão minimizados e ajudará muito do trabalho da Defesa Civil”, afirma.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes