Região se mobiliza para entrar no programa de reindustrialização

As universidades, as entidades representativas da indústria e da economia regional já se mobilizam para fazerem parte do programa federal de reindustrialização com recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O RDTv Momento Econômico ouviu o professor Volney Gouveia, gestor do curso de Ciências Econômicas e gestor adjunto da Escola de Gestão e Negócios, da USCS (Universidade de São Caetano do Sul) e o presidente da CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas) de São Caetano, Alexandre Damásio, para falar do assunto e a conclusão é que há certa empolgação com o tema, mas ainda faltam informações sobre como acessar uma fatia do recurso previsto de R$ 300 bilhões, previstos para todo o país.

Tanto Gouveia como Damásio concordam que independente de como o programa foi articulado para tentar reativar a indústria, o importante é voltar a falar no tema, que há muito não se falava. “Há muito tempo não falávamos de política industrial e na nossa região isso é importantíssimo. Todo reflexo de riqueza que vem da indústria é muito interessante, então devemos ver isso criticamente, mas também com ufanismo, como tática que dará certo”, comenta.

Newsletter RD

“Olhando o plano de reindustrialização eu vejo a importância primeira de lançar o tema na sociedade, dar importância à industrialização que é o que gera mais empregos, que gera melhor remuneração e que gera melhor produtividade para o sistema econômico”, diz Gouveia.
O professor da USCS diz que apesar da iniciativa os recursos ainda são tímidos.

“Representa muito pouco em relação às necessidades de recursos do país. Estamos falando de R$ 300 bilhões, estamos falando de 3% do PIB apenas é algo ainda muito reduzido, o que não é suficiente para dobrar a participação da indústria em relação ao PIB. Só para ter uma ideia lá nos anos 80 nós tínhamos uma indústria representando quase 25% do PIB brasileiro, trazendo para os dias de hoje é como se tivéssemos uma indústria de R$ 2,5 trilhões de um volume de R$ 10 trilhões que o país produz, hoje estamos com uma indústria que representa 10%, ou seja, desse volume apenas R$ 1 trilhão é gerado pela indústria, então tivemos uma perda importante de participação da indústria. O Brasil enfrenta essa necessidade de reindustrializar com sustentabilidade, mas temos a maior matriz energética limpa e no entanto nós não produzimos equipamentos de energias sustentáveis”, comenta o economista da USCS.

Regional

Alexandre Damásio diz que é importante a articulação regional embora isso não esteja claramente previsto no programa federal de reindustrialização. “A agência de Desenvolvimento ainda não é um agente, os consórcios intermunicipais também não são agentes dessa política, no entanto já existem reuniões, para a gente falar como comitê de reindustrialização para que os consórcios também sejam agentes desta política de reindustrialização. Eu gosto, mas acho que ainda está distante, isso é algo para implementação em cinco ou seis anos. Esse ano de 2024 é um ano de eleição municipal, nós vamos trocar três grandes municípios, mesmo que os prefeitos façam sucessores, os grupos mandatários se alternam, de sorte que eu acho neste ano vai caber a nós, iniciativa privada e terceiro setor e o quarto poder que é a mídia, deixar o assunto bem mastigado para poder tratar em 2025”, analisa o presidente da CDL de São Caetano.

Volney Gouveia lembra que o Brasil nas últimas décadas se tornou dependente das importações por falta de política industrial. “Percebemos logo após o lançamento do programa uma reação negativa do mercado, com queda de bolsa e subida de dólar. Estou colocando essa perspectiva porque a bolsa não cai e não tem subida de dólar quando o país abre a sua economia e gera um maior número de desemprego por não ter uma política industrial. Houve essa reação negativa que, na minha leitura, é absolutamente despropositada, temos que falar exatamente o contrário, o nosso desafio hoje é fazer um trabalho de adensamento das cadeias produtivas. Como exemplos temos o setor de Defesa; o Brasil tem a Embraer que é a terceira maior fabricante de aviões do mundo e importa insumos que o Brasil poderia produzir. Não à toa, a defesa é um dos eixos contemplados com recursos do BNDES. Vou pegar o setor de Saúde, como outro exemplo, um setor que mostrou a sua importância principalmente depois da pandemia; o Brasil importa equipamentos médicos que nós poderíamos produzir. Estes são exemplos que mostram a importância do país ser industrializado”, aponta o professor.

Para o presidente da CDL de São Caetano, um diagnóstico bem feito do setor industrial da região seria o primeiro passo rumo a busca pelos recursos federais. “O ABC é muito pujante em estrutura. O governo de São Paulo tem mapeada a indústria paulista, através da DesenvolveSP, talvez nós devessemos melhorar esse mapeamento. É dever da gente no ABC entender onde estamos, qual é o nosso parque industrial, qual dele é aproveitável, qual pode ser alterado e reaproveitado e eu vejo isso com urgência. Isso é importantíssimo e a maioria dos municípios não tem”, avalia.

Para Damásio o choro do setor financeiro é natural. “Usar o BNDES foi um baita acerto. O sistema especulativo tem que chorar quando se para de dar ênfase na especulação para falar em produção. Para quem ganha muito dinheiro com especulação falar em reindustrialização não é bom”.

Integração

O programa prevê recursos para as empresas que integrarem seus processos a outras, especialmente com ênfase à sustentabilidade. “A inovação do programa vai na tentativa de integrar esses elementos, Nessa linha do mapeamento, vai financiar de maneira gradativa se o processo produtivo estiver integrado com outro setor produtivo, por exemplo, o Brasil importa macas, se achar uma empresa que produza macas, mas com materiais sustentáveis, assim sobram mais dólares conosco e se gera mais empregos para o mercado interno. É um desafio e o BNDES está atento a essa problemática. Tem que destacar que são mais de R$ 300 bilhões num momento em que o governo está lutando para fechar as contas, o governo produz para esses R$ 300 bi aumentarem a arredadação e se transformarem em R$ 500 bi 600 bilhões. O desafio é implementar o programa integrando setores”, observa Volney Gouveia.

Avanços

Só a divulgação do programa, já gerou discussões importantes na região, de acordo com Alexandre Damásio, começando pelas universidades. “As cadeiras de tecnologia, reversão, e meio ambiente em produção já estão olhando para isso. O ambiente de tecnologia atrelado aos centros de inovação e as startups também precisam mediar uma reflexão. As empresas que pensaram em êxodo industrial também param para olhar o quadro. Não significa que a política de reindustrialização será uma política doméstica, mas vai recolocar o ABC no mapa do Brasil e do Mundo. Nós do ABC estamos muito à frente do resto do Brasil, cabe um pouco aproveitar a gente”, completa.

Por fim, o professor de economia diz que a região deve se aproveitar da interlocução que tem com o governo federal e avançar na busca de elaboração de projetos visando a verba. “É um projeto político importante, com repercussões econômicas relevantes. Os atores do ABC devem se articular junto ao Governo Federal para essa estruturação do programa de financiamento. Temos a Agência, o Consórcio e existem técnicos nas municipalidades para a pensar essa integração de cadeia produtiva. O caminho é intensificar essa interlocução, tivemos o presidente Lula recentemente no ABC para anunciar investimentos na região com a Volkswagen e isso dialoga muito com o programa de industrialização. Temos no ABC importantes universidades com muita capacidade acadêmica que podem ser integrados nesse modelo de reindustrialização junto com as associações, com o consórcio e a agência”, finaliza.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes