Empresariado do ABC vê com reservas pacote de R$ 300 bilhões para a indústria

Geraldo Alckmin e Lula no lançamento do Nova Indústria Brasil. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O presidente Lula lançou na segunda-feira (22/01) o programa Nova Indústria Brasil que prevê investimentos de R$ 300 bilhões até 2026 para fazer a indústria brasileira deslanchar. O plano elege cinco áreas estratégicas para o investimento federal; bioeconomia e descarbonização, agroindústria e agricultura familiar, indústria digital, fármacos e vacinas e Infraestrutura e mobilidade. O diretores dos Ciesps (Centros das Indústrias do Estado de São Paulo) no ABC, ouvidos pelo RD, têm ressalvas em relação ao pacote federal.

“Tudo o que vier para incentivar a indústria é positivo”, disseram os diretores Mauro Miaguti, de São Bernardo, e Anuar Dequech Júnior, de Diadema. Ambos concordam que a indústria precisa de mais atenção por parte do governo, mas ambos também enxergam que faltou estabelecer estratégias mais regionais e também ajudar outras áreas, além de falta de prioridade para as médias e pequenas indústrias.

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“Foi importante definirem setores prioritários, mas não se sabe ainda como esse dinheiro vai estar a disposição da indústria. Há uma dificuldade muito grande do investimento chegar na ponta. Em geral só chega para as grandes e nunca para as pequenas e médias”, diz Miaguti.

Sobre a questão regional, o diretor presidente do Ciesp de São Bernardo diz que faltou analisar a característica de cada parte do país. “O ABC, por exemplo, precisa se reinventar. Manter o que temos e atrair novos investimentos. A indústria automobilística enfraqueceu, mas ainda temos Scania, Mercedes-Benz, Volkswagen, então temos que aproveitar bem o que temos e atrair investimentos para esse setor, atrair novas empresas nesse segmento, mas, além disso, atrair investimentos em outras áreas e para isso temos que escolher o perfil, ou seja, o que queremos ser daqui a dez anos. Queremos ser um polo de design, de biotecnologia ou de defesa? Podemos ser qualquer um, mas tem que ter planejamento”, diz.

O empresário de São Bernardo avalia que foi acertada a escolha dos segmentos pelo governo, porém ele aponta ainda outro setor, o de energia. “O carro elétrico, toda a infraestrutura para ele, como carregadores, distribuição de energia, baterias, entre outras áreas. O ABC pode ser um polo disso tudo, e nós já estamos atrasados, essa é uma tendência, um caminho sem volta, isso tem que ser pensado”.

Midiático

Para o diretor titular do Ciesp de Diadema, o governo não pensou em algumas situações, como, por exemplo, reduzir a carga tributária do empresário. “Temos que ver de onde está vindo esse dinheiro, porque o governo tem aumentado impostos e agora envolve o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nesse pacote e isso esbarra na dificuldade de acesso. Já tivemos no Ciesp de Diadema um posto do BNDES, mas para ter acesso é uma quantia muito grande. A pequena e média empresa recorre ao seu banco privado por crédito do BNDES, e o banco prefere ele emprestar dinheiro então fica muito difícil”, diz Anuar Dequech Júnior.

Mais pessimista, o empresário de Diadema diz que o ano eleitoral contamina o anúncio do governo. “Em ano eleitoral é um tanto duvidoso o alarde desse dinheiro liberado. A indústria precisa ser competitiva então vejo que uma grande ação seria a redução do gasto público e a consequente diminuição da carga tributária. Esse pacote me parece um paliativo midiático até o fim do ano para o governo sair bem falado”, diz.

Dequech Júnior diz que as áreas prioritárias definidas pelo governo foram as erradas. “O agronegócio emprega muito, mas infinitamente menos do que a indústria e nós não estamos perdendo mercado no agro, mas temos problemas em outras áreas. No passado a indústria já foi 35% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, hoje é apenas 10%, então precisamos recuperar a competitividade e isso passa pelos impostos e o custo Brasil que carregamos. Eu não comemoro enquanto não tirarem o peso das costas da indústria, é só tirar que ela voa”, completa.

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