O uso de celulares e outros dispositivos digitais com telas, por crianças, traz comodidade a muitos pais, porém o excesso pode provocar sérias complicações para a saúde dos pequenos e adolescentes, como alterações no sono, risco de obesidade, transtornos de saúde mental e problemas com a saúde dos olhos. Quem alerta é a pediatra e neurologista infantil do Centro Universitário FMABC (Faculdade de Medicina ABC), Bruna Cappellano Casacchi, em entrevista ao RDtv. Segundo a médica, o desenvolvimento da ansiedade é o principal problema registrado nos consultórios.
Bruna ressalta que hoje com os aplicativos de vídeos curtos e streaming, as crianças conseguem tudo não hora que quiser com muita facilidade. “Isso acarreta na saúde mental delas, sobre a questão de não saberem esperar, e isso deixa elas ansiosas e nervosas quando não têm o que elas quer na hora”, afirma .
Tempo limite de uso das telas
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, as crianças só podem ter contato com os aparelhos eletrônicos visuais a partir dos dois anos. “O ideal é não manter os bebês perto dos celulares “, recomenda Bruna. Entre dois a quatro anos, um tempo de tela de uma hora por dia. De cinco a sete anos de duas horas por dia e acima de sete anos três horas por dia.
Algumas escolas brasileiras já aderiram aos dispositivos digitais como matérias escolares, que substitui os cadernos e apostilas. Porém, para a pediatra da FMABC, esse novo ensino pode trazer problemas para as crianças e jovens. “O uso excessivo dos celulares pode refletir na escola, no aprendizado. É algo bastante discutido essa nova revolução de substituir as apostilas e a escrita, isso porque tem um tempo de tela recomendado para o uso das crianças e jovens”, cita.
A dificuldade na escrita, segundo a médica, é o principal problema evidente do uso de celulares e tablets em escolas. “Temos observado um decréscimo na habilidade de escrita das crianças. Hoje em dia, tem crianças que não conseguem nem escrever por exemplo na letra cursiva, somente na letra de forma, o que torna bastante preocupante o quadro”, expõe.
Outro problema citado pela neurologista é o má desenvolvimento da fala. Vídeos educativos devem ser evitados, segundo Bruna. “Achamos que vídeos educativos ajudam a criança falar, mas geralmente não é, a criança é estimulada a conversar através de conversa e não ouvindo palavras soltas, ela aprende a conversar quando conversam com ela”, explica.
Como resolver
Como saída, a médica diz que as famílias podem propor atividades e passeios durante as férias para divertir as crianças longe das telas. Também recomenda um contato maior com a natureza e a leitura. “Isso ajuda muito no desenvolvimento cognitivo da criança e no sono”, acrescenta. Para Bruna, é preciso deixar a criança ser criança e estimular a criatividade com brincadeiras e jogos, isso faz a criança seja um adulto mais maduro e responsável. “Quando nós pensamos em deixar uma criança brincar, estamos pensando em formar um adulto mais completo no futuro”, afirma.