ABC - quarta-feira , 8 de maio de 2024

Aumento nos casos de AIDS em idosos está relacionado ao tabu sobre sexo acima dos 60

No último Boletim Epidemiológico HIV/Aids divulgado pelo Ministério da Saúde no fim de 2022, foi possível observar um aumento preocupante nos casos de HIV entre idosos. Para se ter ideia, 360 brasileiros com mais de 60 anos testaram positivo para o HIV em 2011, taxa que subiu para 1.738 em 2019 e, mesmo com toda a crise pandêmica dos últimos anos, foram 1.517 diagnósticos de HIV entre os brasileiros mais velhos em 2021. De acordo com o especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e doutorando em Saúde Pública pela USP (Universidade de São Paulo), o aumento de casos está diretamente ligado ao tabu que existe sobre idosos com uma vida sexual ativa.

Em entrevista ao RDtv, Diego Felix Miguel, destaca que a população idosa é colocada em uma posição de invisibilidade dentro da sociedade em alguns aspectos, entre elas a sexualidade. “Existe um mito de que idosos não possuem uma vida sexual ativa e que, na velhice, não existe espaço para essa práticas sexuais. Essa situação coloca aqueles acima dos 60 anos em uma situação de vulnerabilidade, dificultando o acesso à informação sobre como ter relações sexuais de forma cuidadosa, a importância das testagens de infecções sexualmente transmissíveis e, consequentemente, isso gera um crescimento no número de casos de idosos com HIV”, explica.

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Cerca de 360 brasileiros com mais de 60 anos testaram positivo para o HIV em 2011, enquanto em 2021 foram 1.517 diagnósticos de HIV

Ao ser questionado sobre a razão para que esse aumento fosse percebido, Felix ressalta que o principal motivo foi o aumento no número de testagens da doença no Sistema Único de Saúde (SUS). “A testagem nos ajuda a trazer uma visão mais próxima da realidade no que se trata de infecções sexualmente transmissíveis e, por isso, muitos profissionais da saúde acabam solicitando esses exames para os idosos, principalmente em casos onde a pessoa está doente mas não é possível identificar a causa”, expõe.

O especialista acrescenta que a população idosa passou por um processo de erotização com a popularização de medicamentos como o Viagra, que incentivam a ideia de que a vida sexual de uma pessoa acima dos 60 anos só pode ser ativa com o uso desses remédios. “Ao virarmos essa chave e mostrarmos que idosos podem ter relações sexuais sem utilizar meios externos, incentivamos o idoso a procurar um parceiro ou parceira sexual”, diz.

Felix reforça ainda que as campanhas de prevenção de HIV ficaram travadas nos discursos dos anos 1990, em que era orientado apenas o uso de preservativo, hoje não muito utilizado por idosos. “É importante que as campanhas ampliem os horizontes e mostrem não apenas a camisinha como forma de ser prevenir. Com a tecnologia atual, sabemos que existem outras opções para não contrair uma infecção sexualmente transmissível e é necessário trazer outras possibilidades além do preservativo que irão se adaptar a realidade dos idosos”, finaliza.

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