200 maiores empresas do Brasil correspondem a 63,5% do PIB, aponta pesquisa

Inspirado em um levantamento internacional, o pós-doutorando em Saúde Pública, coordenador científico e pesquisador do Centro de Estudos de Saúde Coletiva, da Faculdade de Medicina do ABC, Eduardo Rodrigues, realizou um estudo em que as 200 maiores empresas do Brasil correspondem a 63,5% do PIB (Produto Interno Bruto Nacional). Ao RDtv, Rodrigues chama a atenção sobre o cenário que cria ainda mais dificuldades para que todos possam alcançar plenamente determinados serviços, como o fornecimento de energia elétrica.

Aliás, o levantamento aponta que os setores de energia elétrica, bancos e saúde privada são os que mais dominam o PIB nacional. Entre as 29 maiores empresas do País, apenas seis são estatais, as demais são privadas ou contam com o histórico de privatização como a Eletrobras e a Vale.

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O estudo, que conta com supervisão do professor Ladislau Dowbor, aponta que o Brasil caminha “em um sentido diferente” de outros países que contam com serviços essenciais considerados como os melhores do mundo. Rodrigues alerta que diversos países reestatizaram suas empresas de energia elétrica e saneamento básico devido a falta de qualidade do serviço privado, diferente do debate que ocorre em terras brasileiras.

Rodrigues aponta os principais problemas causados pela concentração de poucas empresas dominando a maior parte do mercado corporativo no Brasil (Foto: Reprodução)

“Quando você privatiza empresas, como a Eletrobras, de energia elétrica, você está apenas trocando o monopólio estatal para o monopólio privado. E sabemos que as empresas privadas, a primeira preocupação delas é a obtenção de lucro para ser distribuído para seus acionistas. Se ela não está distribuindo lucro para esses acionistas, ela não está cumprindo com o objetivo dela”, explica.

Um exemplo está com a Enel. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, a empresa dobrou o seu faturamento desde sua chegada em São Paulo, em 2019, porém, no mesmo período houve uma redução de 35% no número de funcionários, o que aumentou a demora para o atendimento dos clientes, conforme já foi apontado pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

A crise das últimas semanas com a Enel também atingiu o debate sobre a privatização da Sabesp. O governo do Estado segue com a proposta de aumentar a participação privada na estatal, assim reduzindo a participação pública, que pode ficar entre 15% e 30%, dependendo do cenário. Nos últimos dias, o noticiário aponta uma dificuldade do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em ter apoio para aprovar o projeto, principalmente após a crise de distribuição elétrica.

“Sabemos que a maior parte da população brasileira tem salários muito baixos. Cerca de 80% dos trabalhadores ganham até dois salários-mínimos. Será que esse trabalhador ele vai conseguir pagar um serviço médico privado de qualidade? Vai conseguir pagar água cara? Vai conseguir pagar energia cara? Eu acredito que não”, comentou Rodrigues.

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