Filme revê legado do artista chinês Chang Dai-Chien

Foi em uma propriedade charmosa de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, que Chang Dai-chien (1899-1983), um dos importantes artistas chineses do século 20, produziu os trabalhos mais relevantes de sua carreira – enquanto também embarcava em uma jornada espiritual. Sua história é resgatada pelo documentário Da Cor e da Tinta, que integra a 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, com sessão nesta sexta, 27, no Espaço Itaú de Cinema (R. Frei Caneca, 569, Sala 5, às 14 horas).

Inicialmente ligado à pintura tradicional chinesa, Chang Dai-chien foi o primeiro pintor do país a vencer as barreiras ocidentais e expor em grandes museus europeus e americanos, como o Louvre, em Paris, e o Metropolitan, em Nova York.

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O estilo de Chang evoluiu drasticamente ao longo do tempo, levando o pintor a se aproximar da arte moderna ocidental e a receber a alcunha de “Picasso chinês”.

O exílio do artista nas Américas sempre foi cercado de mistério, principalmente na China, onde por longo período não se soube o que havia acontecido com ele, conta a diretora do filme, a cineasta sino-americana Weimin Zhang. “Por muito tempo eu tentei entender qual era a sua real motivação. Por que Chang escolheu a América do Sul? E por que viver tão longe do centro das artes, sendo um artista?”

No Brasil, Chang encontrou um clima parecido com o da sua terra natal, Sichuan. Passava horas pintando, concentrado. Mas não foi um ermitão: ele criou laços com a comunidade. O Brasil foi um terreno fértil para a transformação da sua arte. Durante seus anos em Mogi, ele mudou radicalmente sua pintura, adotando o estilo pocai, de cor salpicada e névoas, se aproximando do expressionismo abstrato.

CONEXÃO

Foi também no Brasil que Chang realizou um ideal, afirma Zhang. “Ele acreditava em uma profunda conexão Oriente e Ocidente. Chang nunca tentou se adaptar, nunca usou roupas ocidentais. Personificava a China tradicional porque acreditava na importância de trazer esse espírito oriental para se fundir e se conectar ao espírito ocidental.”

Zhang conta que, 12 anos após o início da produção, finalmente encontrou respostas. “Chang acreditava em um mundo ideal, unido. Ele cruzou tantas distâncias porque achava que não deveriam existir diferenças na China, no Brasil ou em qualquer lugar.”

“Era uma crença, mas também um experimento. Ele era tão competente que imaginava ser capaz de construir algo em qualquer parte do mundo – Argentina, Brasil, Califórnia. Para ele, se você tem algo dentro de si, é capaz de florescer em qualquer lugar”, completa a cineasta.

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