
O aluno Matheus Santos de Jesus, de 12 anos, que foi vítima de racismo pela quarta vez no último dia 29/09 dentro da escola Ângelo Raphael Pellegrino, no bairro Mauá, em São Caetano, vai mudar de escola. A definição foi anunciada aos pais da criança em reunião ocorrida na Secretaria de Educação do município, na quinta-feira (06/10). Os pais registraram boletim de ocorrência pelo crime de racismo e este foi o segundo relato à polícia de pelo menos quatro episódios ocorridos no colégio. O menino vai ser transferido para a escola Oscar Niemeyer, que fica em outro bairro.
A reunião contou ainda com a presença de advogada da família, representantes de outros alunos que teriam sido vítimas de racismo e assessores da deputada federal Érica Hilton (PSOL). Segundo o pai Luiz Fernando de Jesus, os representantes da secretaria pouco disseram sobre o que efetivamente será feito para combater o racismo na Raphael Pellegrino. “Ficaram só falando que estão estudando, que estão analisando, ficaram só no gerúndio, mas nada de concreto. A gente gostaria que implantassem um programa de combate ao racismo na escola para que isso não acontecesse mais. Denunciamos outra situação em março, também fizemos boletim de ocorrência, mas desdenharam da gente, não fizeram nada e aconteceu de novo”, diz o pai, que tem outros dois filhos, de sete e nove anos, estudando na mesma escola.
O pai lamenta ter de mudar o filho de escola. “Fica um sentimento que parece que o racismo venceu, mas não seria o nosso filho que teria de mudar, a escola é que tem que mudar; tem que tirar aquela direção porque não houve acolhimento do meu filho e de nós como pais, mesmo com o BO que fizemos em março quando um aluno disse para o meu filho se ele não queria ser seu escravo, ou se queria ser seu pet. Naquela ocasião disseram para nós que isso era brincadeira de criança, mas não é. Racismo é crime e essas situações não podem ser relativizadas”, diz o pai.
Para Luiz Fernando de Jesus, que também sofreu preconceito quando criança, nada mudou em 40 anos. “Parece que a gente enxuga gelo. A gente fala para os nossos filhos que a luta contra o racismo tem que ser contínua. Em São Caetano que se orgulha do melhor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do País isso não poderia acontecer, mas o racismo na cidade é estrutural, os professores são despreparados. Onde tem o melhor IDH? Para famílias pretas isso não é verdade, por isso nós vamos até a última instância contra essa situação; fizemos boletim de ocorrência, vai ter inquérito policial e se precisar vamos até o STF (Supremo Tribunal Federal) até todas as escolas de São Caetano estarem preparadas para combater o racismo”, completa.
Em nota divulgada esta semana sobre o caso, a prefeitura diz que está tomando as providências e que não compactua com o racismo. “A Secretaria de Educação de São Caetano reitera seu compromisso inabalável de não compactuar com qualquer forma de racismo ou preconceito na comunidade educativa. Corroborando com o nosso compromisso por uma educação que garanta o direito de todos os alunos, mais uma vez nos reuniremos com familiares, Conescs (Conselho Municipal da Comunidade Negra de São Caetano do Sul) e o Grupo Decolonial do Cecape. O objetivo dessa reunião é ampliar o diálogo sobre as questões apresentadas e pensar estratégias que envolvam a sociedade no combate ao racismo. É importante destacar que o Grupo Decolonial fornece formação permanente aos nossos professores. Isso não se limita a combater eventuais comportamentos racistas, mas também a promover ativamente uma educação antirracista em nosso sistema educacional”, diz a nota.
A Prefeitura também diz que o tema será abordado na iniciativa Escola de Pais, já nesta semana. “Além disso, nesta semana iniciaremos a Escola de Pais. Será um mês de palestras com especialistas em diversos temas. Essas palestras são voltadas às famílias, com a intenção de produzir uma reflexão de educadores e familiares sobre a garantia de direitos de nossas crianças e adolescentes. Reafirmamos nosso compromisso inabalável com uma educação justa, inclusiva e antirracista. Estamos trabalhando incansavelmente para garantir que todas as nossas escolas sejam lugares seguros e acolhedores para cada aluno e, mais do que isso, que esse debate se estenda a toda a sociedade – dentro e fora da escola”, acrescenta o comunicado.