Bióloga prevê danos ambientais com usina fotovoltaica na Billings

Usina fotovoltaica em teste na Billings. (Foto: Divulgação)

O governo do Estado, por meio da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), quer usar as águas da represa Billings que abastece o ABC e parte da região metropolitana para instalar placas flutuantes para captação de energia solar. Alega que há vantagens da geração de energia, mas a bióloga, ambientalista e coordenadora do IPH-USCS (Índice de Poluentes Hídricos da Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Marta Marcondes, vê vários riscos ao meio ambiente com a implantação do projeto.

Essas placas para energia fotovoltaica seriam instaladas inicialmente na parte da represa que margeia a Capital, mas próxima à Diadema. Um teste de viabilidade já foi feito pelo consórcio que reúne a Emae e a KWP Energia. A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) concedeu no fim de agosto a Licença de Instalação dos equipamentos. Para o governo a iniciativa só trará benefícios. “Instalar essa modalidade de usina interfere menos no meio ambiente e produz sombra, que reduz em até 70% a evaporação da água”, diz nota da Cetesb.

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Desmatamento

O empreendimento consiste na instalação de uma ilha fotovoltaica flutuante de 5 MW, com nove mil painéis solares, que ocuparão área total 44.406,57 m² de superfície do lago, localizada nas proximidades da borda da Represa Billings, próximo à Usina Elevatória Pedreira. Segundo a Cetesb, a licença de instalação tem vigência de seis anos e a autorização para a supressão de vegetação nativa tem duração de três anos. O consórcio assinou um Termo de Compromisso de Recuperação Ambiental, para restaurar 0,6 hectares de vegetação, como compensação às intervenções.

Para a bióloga, não foram apresentados estudos que garantam que a biodiversidade presente no reservatório não serão afetadas. Toda a oportunidade de energia alternativa, diz, é bem vinda, mas tem que ter muito cuidado ao se colocar essas balsas com placas de captação de energia em cima do reservatório, porque haverá impedimento da entrada de luz solar numa área que já é muito impactada.

Aumento de temperatura

Marta aponta preocupação, porque existem dois projetos na região da pedreira, um é esse da energia solar e o outro é o hidroviário que, teoricamente, ficariam no mesmo local onde os barcos iriam atracar, e não se sabe como esses dois projetos se conversam. “Outra coisa é que essa tem profundidade de quatro a cinco metros, quando o reservatório está bem cheio, na estiagem isso baixa para três ou dois metros e a entrada de luz solar é extremamente importante para garantir a ciclagem de nutrientes para fotossíntese e para a produção de oxigênio. Me preocupa que esses painéis possam aumentar a temperatura da água e isso pode causar desequilíbrio grande para esses microorganismos. Essas placas podem favorecer, ainda, o surgimento de outros microorganismos patogênicos, que vão gerar doenças. Eu queria saber se eles fizeram esse estudo, principalmente se vai favorecer a produção de metano, de carbono em reação à matéria depositada no fundo do reservatório, gases que aumentam o efeito estufa”, ressalta.

A professora e pesquisadora da USCS diz que há inúmeras outras formas de se utilizar a energia solar e há diversos locais onde pode ser instalada sem gerar nenhum impacto ambiental. “Por que não pegar as placas de captação de energia solar e colocar em estacionamentos de shopping, hipermercados e vez de por em cima do reservatório, não seria muito melhor?”, indaga. “Se estão querendo colocar em cima de um local de produção de água, que é um bem essencial à vida, imagina se pensarem em colocar isso em área de mata, espero que essa não seja a ideia do governo. É preciso ter energia alternativa, mas antes tem de se pensar melhor em que áreas vamos colocar, essa (da represa) eu não acho que é a melhor opção, eu sou contra”, completa.

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