
Na última terça-feira (05/09), dois guardas-civis municipais de Santo André salvaram uma bebê de apenas cinco dias de vida que tinha ficado sem respirar após se engasgar com leite materno. Acontece que, cada vez mais, cenas como essas são comuns, e poucos sabem a forma adequada de socorrer uma criança em um momento de emergência.
Pensando nisso, o RD entrevistou a coordenadora do setor de emergência pediátrica da disciplina de Pediatria da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Luciana Satiko, que orientou o que fazer e o que não fazer caso uma criança engasgue.
Segundo Luciana, a principal maneira de detectar que alguém não consegue respirar corretamente, devido a um engasgamento, é por meio da cor do rosto, que começa a ficar azulado. “Diferente do que muitos pensam, palmadas nas costas da pessoa para que ela se desengasgue não é o procedimento correto para o desengasgo e não estará ajudando em nada. O primeiro passo após perceber o engasgo, é pedir para ela tossir com força. Caso isso não seja suficiente, deve-se preparar para aplicar a manobra de Heimlich”, afirma.
Para realizar a manobra de Heimlich em crianças acima de três anos e em adultos, é necessário:
- Se posicionar atrás da vítima, envolvendo-a com os braços;
- Fechar uma das mãos, com o punho bem fechado e o polegar por cima, e posicioná-la na região superior do abdômen, entre o umbigo e o a caixa torácica;
- Colocar a outra mão acima do punho fechado, segurando-a com firmeza;
- Puxar com força ambas as mãos para dentro e para cima. Caso essa região seja de difícil acesso, como pode acontecer em obesos ou gestantes nas últimas semanas, uma opção é localizar as mãos sobre o tórax;
- Repetir a manobra por até cinco vezes seguidas, observando se o objeto foi expelido e se a vítima respira.
Para realizar a manobra em si próprio, o procedimento inclui:
- Cerrar o punho da mão dominante e posicioná-la na parte superior do abdômen, entre o umbigo e o final da caixa torácica;
- Fazer o movimento de “J”, de baixo para cima.
- Pode-se utilizar o encosto de uma cadeira também, pressionando a parte superior do abdômen nela.
Quando se trata de um bebê:
- Coloque o bebê de bruços em cima do seu braço e faça cinco compressões no meio das costas.
- Vire o bebê de barriga para cima em seu braço e efetue mais cinco compressões sobre o osso que divide o peito ao meio, na altura dos mamilos.
- Tente visualizar o corpo estranho e retirá-lo da boca delicadamente.
- Se não conseguir, repita as compressões até a chegada a um serviço de emergência (pronto socorro ou hospital).
Luciana ressalta que esses procedimentos são válidos somente se a pessoa engasgada estiver consciente. “No caso de vítimas inconscientes, é necessário um atendimento hospitalar da maneira mais rápida possível, contatando o Samu pelo número 192”, sugere. Os primeiros socorros para asfixia ou engasgo devem ser tomados até que seja possível o atendimento especializado.
Entre os erros mais comuns cometidos pelas pessoas ao tentar ajudar alguém engasgado, a pediatra destaca a elevação dos braços de quem está tossindo, o que pode tornar a situação mais perigosa. “O movimento dos braços influencia o movimento do pescoço e tronco da criança, o que, por sua vez, pode fazer o alimento que está provocando o engasgo se deslocar e bloquear as vias aéreas. É importante que as pessoas evitem dar ‘tapinhas’ nas costas, quando a criança está tossindo, já que isto pode fazer com que o alimento caia nas vias aéreas e bloqueie a passagem de ar”, orienta.
Luciana afirma ainda que para avaliar a perda de oxigênio, além de ficar com os lábios azulados, a vítima também começa a perder a consciência e deixa de responder as solicitações dos pais. “Se as manobras de desengasgo não forem eficazes, o ideal é pedir apoio de outras pessoas e, caso nada funcione, inicie massagem cardíaca externa, que é ensinada em treinos de primeiros socorros e de reanimação cardíaca”, explica.
Salvamento de crianças engasgadas
Além do caso citado, entre janeiro e agosto deste ano, a GCM de Santo André contabilizou mais um caso de criança engasgada. Em casos como este, as equipes de GCMs verificam se há respiração, pulsação e inicia manobras para desobstrução das vias aéreas e faz o cálculo do tempo de chegada de socorro especializado (Samu). O chefe da equipe tem autonomia para embarcar a criança na viatura, caso verifique que tal ação antecipará o socorro, e conduzir para a UPA mais próxima ou ao encontro de uma ambulância do Samu.
Em São Bernardo, entre janeiro e agosto, apenas uma criança de 8 anos foi salva pela GCM após engasgar com uma bala na EMEB Estudante Flamínio Araújo de Castro Rangel. A ocorrência foi em junho. No mesmo período do ano passado, foram duas crianças recém-nascidas salvas pela GCM com o mesmo quadro.
Já São Caetano não teve nenhum salvamento de criança engasgada pela GCM esse ano. Em 2022, houve um salvamento de criança de 11 meses, com procedimento aprendido em cursos específicos para este tipo de salvamento. O último caso de criança engasgada salva por GCMs em Diadema foi em março deste ano, mas a administração não divulgou os números de 2022.
Embora a Guarda Civil Municipal de Mauá realize esse tipo de atendimento, nenhum salvamento de crianças engasgadas foi realizado em 2023. O mesmo acontece em Ribeirão Pires.
Rio Grande da Serra não se manifestou até o fechamento da reportagem.