Pesquisa realizada pela CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas) de São Caetano em parceira com a Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC mostra que a inadimplência nas sete cidades cresceu 10,75% em agosto deste ano se comparado com o mesmo período do ano passado. A maior parte das dívidas é com os bancos, 70,36%, em segundo lugar chamam atenção despesas básicas como água e luz. Em dezembro do ano passado a mesma pesquisa mostrava que pouco mais de 10% das dívidas eram deste grupo, agora o percentual cresceu para 14,57%.
Cerca de 672 mil pessoas da região estão com o nome sujo no SPC, que fornece a base de dados para a pesquisa. Isso significa uma em cada quatro pessoas está negativada, se considerada a população total das sete cidades, mas se considerada apenas a PEA (População Economicamente Ativa), a relação cai para dois negativados para cada quatro habitantes, ou seja, metade da PEA.
Para o presidente da CDL de São Caetano, Alexandre Damasio Coelho, o crescimento da faixa de devedores de contas de água e luz é muito preocupante. “Ou tarifa está muito cara ou as pessoas estão ficando tão pobres que nem água e luz conseguem pagar mais. Isso pode significar que essas pessoas já fizeram refinanciamento das dívidas e não conseguiram honrar os pagamentos”, analisa.

Coelho diz que a situação, além de demonstrar a queda da renda, mostra também que as concessionárias não são eficientes no sentido de oferecer condições para ajudar o consumidor a quitar os débitos, com isso ele fica inadimplente e perde crédito. “O que será que as concessionárias estão fazendo para ajudar o consumidor? Porque a gente enxerga que a situação está piorando muito. Mesmo em se tratando das dívidas com os bancos, se considerarmos que mais de 70% das compras são feitas no cartão, parte dessa dívida bancária é do varejo também”, diz o presidente da CDL.
Concessionárias
O RD questionou as concessionárias Enel (energia) e Sabesp (água e esgoto) sobre as formas de renegociação de dívidas e as facilidades oferecidas para que o consumidor possa quitar os débitos e limpar seu nome. A Enel, que foi alvo de cinco comissões parlamentares de inquérito nas câmaras municipais do ABC desde 2020 e no momento é investigada também por comissão parlamentar da Assembleia Legislativa de São Paulo, não quis comentar o assunto.
A Sabesp respondeu, em nota, que mantém abertos os canais de negociação, mas não revelou o número de acordos fechados no ABC. “A Sabesp informa que seus canais de atendimento ao cliente sempre estão disponíveis para a renegociação de débitos, com a possibilidade de parcelamento e outras facilidades. A Companhia também organiza frequentemente a campanha Acertando Suas Contas com a Sabesp, como a que está acontecendo nos meses de agosto e setembro. Desde o início do mutirão já foram fechados cerca de 173,4 mil acordos com clientes dos municípios onde opera, sendo 102,7 mil somente na Região Metropolitana de São Paulo. O cliente tem a oportunidade de quitação de débitos com condições especiais, garantindo a continuidade dos serviços. Os interessados também podem acessar os canais de atendimento ao cliente: telefone 0800 055 0195, pelo WhatsApp 11-3388-8000 (mensagens de texto) ou na Agência Virtual pelo site www.sabesp.com.br”, diz a nota da companhia.
Montante
O endividamento cresceu em número de dívidas e em montante. Em agosto de 2023, cada consumidor inadimplente residente no ABC tinha em média 2,132 dívidas em atraso. O número ficou acima da média da região Sudeste (2,122 dívidas por pessoa inadimplente) e acima da média nacional registrada no mês (2,082 dívidas para cada pessoa inadimplente).
Em agosto de 2023, cada negativado da região devia, em média, R$ 5.157,06, segundo a pesquisa. Os dados ainda mostram que 25,88% dos consumidores da região tinham dívidas de valor de até R$ 500, percentual que chega a 38,18% quando se fala de dívidas de até R$ 1.000. O tempo médio de atraso dos devedores do ABC é igual a 25,6 meses, sendo que 36,62% dos devedores possuem tempo de inadimplência de 1 a 3 anos.
Desenrola
Para o presidente da CDL de São Caetano, a falta de uma política de educação financeira, é o principal problema do programa federal Desenrola, que visa limpar o nome dos consumidores. Para ele o efeito da medida do governo não se viu ainda nas taxas de inadimplência, mas a médio e longo prazo o endividamento pode até piorar. “O reflexo do programa devemos ver lá para o mês de novembro, aí o consumidor tem o nome limpo para as compras de fim de ano, mas como não teve uma educação financeira, vai acabar se endividando mais e o efeito disso nós veremos em março de 2024”, prevê.