Perdido na selva, piloto dormia ‘quando o cansaço vencia o medo’

“De cada dez helicópteros que caem na floresta amazônica, quatro não são encontrados e em praticamente todos os acidentes há registro de óbitos”, relata o piloto Josilei Albino de Freitas, de 51 anos, ao dize que considera um milagre ele, o engenheiro da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) José Francisco Vieira e o mecânico Gabriel Assis terem sobrevivido à queda de um helicóptero no interior do Amapá, no último dia 16. Eles ficaram até sábado, 19, perdidos na floresta.

A aeronave estava a 900 metros de altura, sobre uma área de reserva na Serra do Navio, a 130 km de Macapá, destino da viagem, quando teve pane mecânica e caiu sobre duas árvores, que amorteceram a queda. Vieira bateu a cabeça e Assis trincou uma costela. O piloto saiu ileso.

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Era a última viagem da equipe que fazia atendimentos de saúde a comunidades indígenas que não são acessadas por estradas nem por aviões. O contrato com o Ministério da Saúde terminaria no dia 17 e eles retornavam da aldeia de Bona para Macapá, um voo de cerca 2 horas. O helicóptero caiu a 10 minutos do destino.

Além dos alimentos do kit de sobrevivência, eles transportavam duas caixas com cerca de 7 kg de peixes. “Era um calor insuportável e os peixes rapidamente iam apodrecer. Então, defumamos parte deles”, conta Freitas.
No kit havia também barracas e redes, mas eles não conseguiam dormir nas barracas devido ao calor. “Dormia na rede, mas só pegava no sono por volta das 3h da madrugada, quando o cansaço vencia o medo. E era com uma faca e lanterna na mão”, conta o piloto.

Para afugentar os animais, principalmente onças, eles mantinham uma fogueira acesa e faziam as necessidades fisiológicas nos limites do local onde se instalaram para afastar os bichos. “O animal entende que a área tem dono.”
O helicóptero só tinha um rádio com alcance limitado. Freitas mandava mensagens a fim de alcançar alguma aeronave que sobrevoasse o local. Eles também soltaram rio abaixo uma garrafa pet com as coordenadas do local e R$ 70. “Para incentivar quem achasse a nos enviar socorro”, conta Freitas.

COLCHÃO INFLÁVEL

Na sexta, sem nenhum retorno no rádio, o mecânico Assis desceu o rio em um colchão inflável, que furou no mesmo dia. Na manhã de sábado, o piloto e o engenheiro ouviram o barulho de um avião e mandaram uma mensagem de rádio, que foi captada pela aeronave do Pará. Por volta das 14h, a Força Aérea Brasileira fez o resgate de Freitas e Vieira no local e de Assis, que estava em uma pedra no rio, a 12 km.

Na chegada em Macapá, todos estavam severamente desidratados. As causas do acidente são sendo investigadas e Josilei Freitas já foi autorizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a reabilitar sua carteira, que tem 25 anos. Ele já está em casa, em Valparaíso de Goiás.

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