São Bernardo pode ser a primeira cidade do Estado a ter um centro especializado no atendimento de pessoas com autismo em parceria com o governo estadual, porém, desde o anúncio, feito em abril deste ano, nada mais de concreto foi anunciado sobre essa medida. Outras cidades também não apresentam nenhuma novidade no atendimento a esse público e na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla (de 21 a 27/08) especialista denuncia dificuldades para a população acessar uma série de serviços, principalmente nas áreas de educação e saúde.
Para Maria de Fátima Rebouças da Silva, assistente social e especializada educação inclusiva em deficiência intelectual, as prefeituras têm atendimento, mas o investimento ainda é pequeno para atender a todas as necessidades. Há também falta de comunicação entre os diferentes serviços que atendem não apenas as crianças, mas todas as pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista).
“As famílias têm dificuldade de expressar o que acontece com elas e também os profissionais não têm paciência para ouvir, porque as consultas são muito rápidas e em 10 minutos não dá para avaliar, muitas vezes também a criança está agitada o que não permite uma avaliação, então o médico manda voltar e uma nova consulta demora três ou quatro meses. Se perdem detalhes sobre a situação durante uma consulta, são os detalhes que fazem o atendimento diferenciado e poucos profissionais têm tempo esse atendimento de qualidade e isso não é culpa do profissional é do sistema”, analisa Fátima, que é moradora de São Caetano, mas atua na Capital como conselheira municipal.
A caminhada para quem depende do serviço público, principalmente na área de saúde é difícil, na maioria das cidades do país, e é mais agravada na região metropolitana, onde os atendimentos estão dispersos, longe um do outro e se depende de transporte. Para Maria de Fátima essa logística é outra grande dificuldade do atendimento público. “Essa mãe e esse pai que levam a criança, precisam do transporte público e nem sempre a criança fica tranquila em um ônibus. E são encaminhados para diferentes locais para exames, por exemplo, então essa família fica cansada e machucada com tanto estigma. Falta também uma comunicação entre os setores, essa comunicação quando muito se faz por relatórios preenchidos automaticamente, sem muitos detalhes. Então essa demora entre as consultas e a falta de um atendimento multidisciplinar em que as áreas se comunicam são as grandes barreiras. Uma demora de um ano, para uma criança é muito, principalmente quando ainda se busca fechar um diagnóstico”.
Saída
Para a conselheira a mobilização popular, a união dessas pessoas em grupos que façam pressão sobre o poder público é a única forma de se encontrar soluções para o atendimento às pessoas com TEA. “A gente enxerga que as melhorias feitas no sistema das prefeituras em geral têm avançado pouco, vejo algo um pouco melhor em São Paulo, mas isso só acontece por conta da pressão feita pelas famílias, que montam instituições e grupos para cobrar a prefeitura. Um avanço, por exemplo, foi incluir as crianças autistas no serviço de transporte Atende. Isso foi um avanço muito importante porque o Atende só transportava deficientes físicos. Agora se estuda uma melhoria porque nem toda a criança consegue ficar muito tempo em uma van com outros pacientes em um roteiro muito grande. Talvez um transporte com carros menores seja a solução e eu vou propor isso na audiência pública que vai acontecer neste sábado (26/08) na Câmara de São Paulo”, explica.

“Sem uma mobilização não se conseguirá avanços. Se eu não mostro o que preciso sendo isso o meu direito as coisas não vão sair do papel, tem que ir para a rua. Essa é a nossa proposta no grupo Sou Humanidade (www.souhumanidade.com.br) que é levar informação, para que as pessoas sabiam os seus direitos e cobrem”, completa Maria de Fátima Rebouças da Silva.
A mobilização passa pela realização de encontros com o Poder Legislativo. Para Alessandra Caturani neuropsicóloga, psicopedagoga e coordenadora do NEA-FMABC (Núcleo de Especializado em Aprendizagem da Faculdade de Medicina do ABC) cita mobilizações e debates e diz que o Centro Universitário da faculdade conta com atendimento específico que complementa o trabalho das prefeituras. “Como coordenadora do NEA-FMABC observo que os municípios mostram ações consistentes de conscientização sobre a existência do quadro e realizam debates e sessões solenes para discutir as necessidades de fluxo e de atenção ao TEA, conforme ocorreu em 01/04 na Câmara de São Bernardo a qual participamos como palestrantes. O centro universitário possui ambulatório específico para atendimento médico em neurologia infantil ao educando com TEA ou com suspeita de TEA, tanto na identificação como no direcionamento da abordagem medicamentosa, quando essa se faz necessária”, resume.
São Bernardo
Sobre o Centro de Referência ao Tratamento de Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, a prefeitura de São Bernardo diz que ainda está em negociação com o governo do Estado. Não há ainda definição do local nem qual será o investimento estadual ou municipal. “A Prefeitura de São Bernardo informa que o endereço do futuro Centro de Referência no Atendimento a Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) está sob análise de viabilidade. Conforme escopo da proposta, a unidade vai oferecer serviços voltados à orientação de pessoas com TEA e seus familiares, envolvendo seus direitos, acesso aos serviços públicos, além de atendimentos com especialistas médicos, psiquiatras, psicólogos, psicopedagogos e assistentes sociais. A unidade pioneira na cidade dará pontapé inicial na rede integrada de saúde e assistência ligada ao Governo do Estado. O município, por sua vez, está incumbido em ceder o local que vai abrigar o novo equipamento”, diz a administração, em nota.
Mauá
Mauá informou que só na cidade foram emitidas 580 carteiras de identificação, as Cipteas (Carteiras de Identificação de Pessoa com Transtorno do Espectro Autista). “De fevereiro a junho deste ano foram atendidas 305 crianças com TEA no CER (Centro Especializado de Reabilitação). O cuidado oferecido aos usuários com suspeita de diagnóstico do TEA é realizado pela equipe multidisciplinar e neuropediatra ou psiquiatra infantil. As principais portas de acesso ao serviço, para que sejam realizadas as avaliações e exames necessários, são as 23 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do município, por meio da equipe da Atenção Básica”, diz a prefeitura, em nota. Na educação a cidade aumentou o número de profissionais que ajudam no desenvolvimento desses alunos. “Desde janeiro de 2021, a quantidade de AAEIs (Auxiliares de Apoio à Educação Inclusiva) foi ampliada de 33 para 83. A administração municipal também aumentou o número de professores de AEE (Atendimento Educacional Especializado). Eram 12 em 2021 e hoje são 68. Além disso, foram reabertas as salas de recursos (implantando o contraturno nos 15 polos em ambos períodos). Foram criados ainda, cargos de professores formadores nas áreas do público-alvo da educação especial, estes dão suporte aos demais profissionais da rede. A lista com os endereços e os telefones dos CRAS de Mauá pode ser acessada pelo link https://www.maua.sp.gov.br/pSecretaria.aspx?SecretariaID=6”, informa o paço mauaense.
São Caetano
São Caetano informa que tem 601 crianças cadastradas em atendimentos do município. Segundo a administração o CTNEN (Centro de Triagem Neonatal e Estimulação Neurossensorial) e a USCA (Unidade de Saúde da Criança e do Adolescente) fazem o diagnóstico, por meio de equipe multiprofissional e as crianças são encaminhadas para tratamento e acompanhamento no próprio CTNEN ou no CER IV – Apae (Centro de Especializado em Reabilitação), onde eles têm acesso a diversas terapias. Essa equipe de profissionais é composta por 34 pessoas. A prefeitura sancaetanense diz ainda que a cidade terá em breve um Complexo de Atenção à Pessoa com Deficiência com equipes multiprofissionais especializadas e capacidade de 2,5 mil atendimentos por mês e diz ainda que desde abril de 2022 foram emitidas 446 Cipteas para crianças de até 12 anos.
Santo André
A Secretaria de Saúde de Santo André estima que mais de 400 crianças com suspeita ou confirmação de TEA sejam atendidas em algum ponto da rede municipal de saúde. “São ofertados atendimentos às crianças e orientação às famílias/responsáveis com foco no desenvolvimento global da criança, além de atendimentos odontológicos. São ofertadas ainda diversas modalidades terapêuticas de reabilitação por meio de atividades lúdicas, sensoriais e motoras. Para crianças com intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes é ofertado acolhimento e atividades específicas caso a caso. As equipes estão organizadas em diversos pontos da rede de saúde, deste modo, as 34 unidades de saúde da atenção primária, o Reabilita (Centro Especializado em Reabilitação), os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) e as 7 UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) atendem crianças diante das suas necessidades”, diz a prefeitura.
Na área de Educação, são 1.181 alunos com TEA matriculados na rede municipal andreense. “O município segue os princípios da política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva a fim de garantir o acesso, permanência e a qualidade no ensino aos alunos público alvo da educação especial matriculados na rede de ensino”, diz a prefeitura, em nota.
Ribeirão Pires
Em Ribeirão Pires foram emitidas 423 Cipteas e, segundo a prefeitura, são 230 alunos com TEA matriculados nas escolas municipais. Na saúde o CAPS Infantil, atende paciente com transtornos graves e persistentes, bem como o Centro de Especialidades Médicas. Além, das UBS que realizam o primeiro encaminhamento. Na Educação a prefeitura diz que conta com o APSE – Apoio Psicossocial Escolar, que conta com assistente social, psicólogos e psicopedagoga, além de estagiários.
Diadema
Em Diadema a porta de entrada das crianças com TEA é a UBS (Unidade Básica de Saúde) que são 20 na cidade e além delas a Rede de Atenção Psicossocial de Diadema conta com cinco Centros de Atenção Psicossocial (CAPSs), unidades especializadas no cuidado multiprofissional, não somente dos casos de autismo, mas das condições de sofrimento mental. “Os pais podem procurar esses serviços para acolhimento inicial. Vale ressaltar que cada caso é avaliado na sua individualidade, a partir das demandas apresentadas, e após o acolhimento é traçado o Projeto Terapêutico Singular, onde o acompanhamento pode ser feito na própria UBS de origem, no CAPS InfantoJuvenil ou ainda, encaminhando para atendimento na APAE. No CAPS InfantoJuvenil atualmente 120 pacientes estão em avaliação. A unidade oferta estimulação precoce, atendimento em grupo, individual, médico e medicamentoso. Também oferta orientação nutricional, de fonoaudióloga e terapeuta ocupacional”, informa a prefeitura diademense.