Quem é o secretário exonerado pelo prefeito de SP por dizer que ‘planeta se salva sozinho’

À frente da Secretaria da Mudanças Climáticas do município de São Paulo desde maio de 2021, Antonio Fernando Pinheiro Pedro foi exonerado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) nesta quinta-feira (13/07), após repercussão de declaração do secretário durante fórum de discussão sobre mudanças climáticas. O chefe da pasta disse que o “planeta se salva sozinho” do aquecimento global e que a Terra não será salva pelas pessoas. Segundo a prefeitura, o pedido de exoneração foi feito pelo próprio Pinheiro Pedro.

Advogado e consultor ambiental, o ex-secretário é sócio de um escritório de advocacia chamado Pinheiro Pedro, de onde esteve afastado desde quando assumiu a Secretaria da Mudanças Climáticas. Estudou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) entre os anos de 1978 e 1984 e fez especialização em Direito Privado e Processo Civil.

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No currículo dele, constam passagens por grupos relacionados ao meio ambiente, como a presidência da Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil na sessão de São Paulo (OAB-SP) e do comitê de Meio Ambiente da Câmara Americana de Comércio (Amcham), além de consultorias para o Banco Mundial e órgãos de justiça ligados à Organização das Nações Unidas (ONU).

Pinheiro Pedro tentou se candidatar duas vezes. A primeira foi em 2002, filiado ao Partido Verde, quando disputou a vaga de governador de São Paulo. Na época, obteve 52 mil votos (0,27% dos votos válidos). Após 12 anos, em 2014, concorreu como 1º suplente de senador no Estado, mas também não obteve sucesso.

Declaração foi rebatida por procuradora

A exoneração de Pinheiro Pedro veio após a repercussão da fala do ex-secretário em junho de 2023 ganhar repercussão nas redes sociais. No lançamento do Fórum Permanente de Mudanças Climáticas e Desastres Ambientais na sede paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), afirmou que o “planeta se salva sozinho” do aquecimento global e que a Terra não será salva pelas pessoas.

“O planeta não será salvo por nós. Ninguém salva o planeta Terra. Geralmente, ele se salva sozinho. Ele o faz a quatro bilhões e trezentos milhões de anos, e muda o clima em todo esse período. Quando o planeta se salva, ele geralmente se livra do que está na superfície dele. Já o fez várias vezes”, disse. “Nós somos parte do problema para a vida na Terra neste momento, mas a nossa solução é muito pequena. Os fatores são de ordem geológica, cósmica e solar”, disse.

A explanação dele foi rebatida pela procuradora federal Georgia Sena Martins, doutora em Geociências pela Unicamp, que o chamou de “negacionista”. “Desculpa, mas o senhor está negando toda a existência deste fórum, toda a ciência, todos os relatórios do IPCC, todos os estudos feitos até hoje. O senhor é um negacionista”, disse. “O que o senhor está falando não tem qualquer fundamento científico. O senhor está falando com base em achismos. Estamos em um fórum de mudanças climáticas e o senhor está negando as mudanças climáticas e falando um rosário de besteiras.”

Após a exoneração, Pinheiro Pedro afirmou em nota que foi vítima de “difamação”. “Sou leal e não permitirei que esse lixo difamatório atinja o gabinete do prefeito. Por isso, peço minha demissão”, justificou o secretário. A Prefeitura disse, por meio de nota, que Nunes esteve reunido com Pedro na tarde desta quinta e que a exoneração foi a pedido do secretário.

Ao anunciar sua saída do cargo, o secretário ainda sustentou que não tentou diminuir a influência dos seres humanos nos efeitos climáticos do planeta. “O fato de declarar que o planeta Terra passa por ciclos há quatro bilhões de anos e, por óbvio, sempre se ‘salvou’ sozinho, em nada se confunde com os esforços da humanidade para sobreviver e manter condições de clima e interação ecossistêmica”, defendeu em nota.

Leia a íntegra da nota do secretário

NOTA À IMPRENSA

Caros amigos,

Muito se diz e pouco se faz a respeito da resiliência e adaptação da humanidade em face das mudanças climáticas.

Na Prefeitura de São Paulo, resolvi FAZER, e obtivemos enormes avanços na área da gestão climática – que tornaram a gestão paradigma internacional.

Sob a batuta do Prefeito Ricardo Nunes, ampliamos a cobertura vegetal da Cidade de São Paulo, de 48% para 54%, em dois anos.

Estamos em vias de entregar uma frota de quase dois mil ônibus elétricos, executando o maior programa de descarbonização do transporte público no continente.

Embargamos mais de 200 hectares de áreas ilegalmente loteadas, em mais de 50 operações de defesa das águas, recuperando terreno num combate sem precedentes contra a especulação imobiliária, levada a cabo pelo crime organizado.

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Implementamos um Plano Climático para a cidade, com resultados mensurados e registrados em relatório, apresentado publicamente na data de ontem, 12 de julho, e já em sua segunda edição anual, envolvendo todas as secretarias e órgãos municipais.

Implantamos pelo segundo ano um Plano Preventivo de Chuvas de Verão, com o menor índice de danos nos últimos 18 anos, enfrentando o pior índice de precipitação de chuvas dos últimos cinco anos.

Fazemos, portanto, nossa parte no esforço global de enfrentamento às alterações do clima.

No entanto, fomos surpreendidos pela divulgação de uma gravação, montada fora do contexto, com objetivo difamatório, que busca extrair das declarações feitas conclusões absurdas.

Com efeito, as afirmações em nada se confundem com nossos esforços humanos de sobrevivência e manutenção das condições de clima e temperatura, que permitam resiliência e interação ecossistêmica.

O fato de declarar que o planeta terra passa por ciclos há quatro bilhões de anos e, por óbvio, sempre se “salvou” sozinho, em nada se confunde com os esforços da humanidade para sobreviver e manter condições de clima e interação ecossistêmica. Há uma sutileza nisso tudo. Nós estamos tentando melhorar nossa resiliência, se falharmos, o planeta seguirá procedendo a seus ciclos, com ou sem nós.

Não somos Deus, não determos poder sobre processos físicos que transcendem nossa capacidade. Essa constatação é de humildade e de alerta – jamais foi uma negação do protagonismo humano nas alterações sofridas na atmosfera do planeta, desde a revolução industrial.

Nada do que foi dito, se enquadra no contexto “negacionista” impingido de forma difamatória nas redes sociais. Muito menos a ação efetiva da gestão se enquadra nesse conflito artificialmente criado.

Fui vítima de um crime: DIFAMAÇÃO. Tenho quatro décadas de trabalhos dignos desenvolvidos em prol do meio ambiente de da construção da própria legislação ambiental e do clima.

Os loteadores ilegais, o crime organizado, os lacradores, os levianos, foram o alvo de nossa gestão. Espero que com minha saída não vençam.

A lealdade é a cicatriz no caráter do ser humano. Sou leal e não permitirei que esse lixo difamatório atinja o gabinete do prefeito. Por isso peço minha demissão.

Obrigado.

Antonio Fernando Pinheiro Pedro

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