Um tanque da Braskem, dentro do Polo Petroquímico de Capuava, em Santo André, explodiu na manhã desta quinta-fera (22/06). O tanque estava em manutenção e funcionários de uma empresa terceirizada faziam a pintura da estrutura. Em nota, a empresa Tenenge, especializada em manutenção industrial confirmou que no local estavam cinco funcionários e um deles morreu ao ser socorrido, dois se encontram internados e dois tiveram apenas ferimentos leves.
Segundo o Corpo de Bombeiros, as duas primeiras vítimas tiveram ferimentos leves e foram atendidas no ambulatório da própria empresa. A terceira vítima, socorrida pela própria Braskem, estava com queimaduras em 90% do corpo e foi encaminhada para o Hospital São Matheus, o mesmo que recebeu a quarta vítima que estava com queimaduras na face e nas vias aéreas.
A quinta vítima, que também estava com queimaduras em 90% do corpo, foi transportada pelo helicóptero Águia até o PS Tatuapé. As outras duas vítimas estavam com contusões nas pernas após queda e foram atendidas pelo PS Notredame. No auge da operação só o Corpo de Bombeiros manteve 33 homens e 11 viaturas no combate às chamas. A corporação deu por encerrado o combate às chamas por volta das 13h30.
Em comunicado, a Braskem afirmou que “providenciou a evacuação imediata do local e as causas dessa ocorrência estão sendo investigadas”. “Vale ressaltar que os órgãos técnicos competentes já foram comunicados”. A empresa disse ainda que está acompanhando e em contato com os familiares das vítimas, “para prestar todo o apoio necessário”.
Para o engenheiro químico e professor de Engenharia e Segurança do Trabalho da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e da Fatec, Edelson Lourenço, nas situações envolvendo a manutenção de tanques como o da Braskem que explodiu nesta quinta-feira, diversos procedimentos de segurança devem ser seguidos. “A população do entorno não deve entrar em pânico, existem diversas medidas de segurança que as empresas do Polo de Capuava seguem e tem ainda a fiscalização pela Cetesb, bombeiros e as seguradoras também. Há várias barreiras de risco que devem ser seguidas, quando algum procedimento não é seguido, há uma falha humana ou de equipamento é que podem ocorrer acidentes e somente uma minuciosa investigação vai apurar onde houve a falha”, explica o engenheiro químico que é especializado em incêndio e pânico e tem 26 anos de experiência na área de petróleo.
O especialista explica como devem ser os procedimentos para a manutenção nestes tanques. “É obrigatório ventilar o tanque em pelo menos cinco vezes o seu volume, além disso deve ser feito o monitoramento constante, antes e durante a manutenção porque pode ficar algum resíduo e uma variação de temperatura pode criar uma atmosfera explosiva. O ramo do petróleo é muito detalhista e exigente e no caso deste acidente a Braskem é a maior interessada na apuração”, completa Lourenço.
A Defesa Civil da prefeitura de Santo André esteve no local. O órgão municipal participa do PAM (Plano de Auxílio Mútuo) do Polo Petroquímico de Capuava e foi acionada para apoio, bem como nas ruas próximas ao acidente para atendimento à população. Segundo a prefeitura o tanque atingido ficou inutilizável e a petroquímica terá que seguir as orientações da Cetesb se for implantar novo tanque. “A Defesa Civil busca junto à comunidade do entorno dar toda a assistência necessária, bem como vistorias nas casas que, por um acaso, tenham sofrido algum abalo em face da explosão. Caso necessário, a população pode acionar a Defesa Civil pelo número 199”, informou a prefeitura.
A manutenção no tanque não era de conhecimento da prefeitura pois esse tipo de atividade, segundo o paço andreense não precisa de alvará emitido pelo município. “A Secretaria de Planejamento Estratégico e Licenciamento de Santo André não recebeu nenhuma solicitação de alvará de obra na Braskem. Pelo Código de Obras, intervenções rotineiras como pintura não necessitam de alvará, pois não há previsão legal para este tipo de exigência. A equipe de Fiscalização Ambiental do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) também esteve no local na manhã desta quinta-feira e dialogou com a equipe de meio ambiente da Braskem, que ainda está verificando o acidente. Foi solicitado pelo Semasa, via email, que a Braskem encaminhe um relatório completo dos motivos e causas que levaram ao acidente. Posteriormente à entrega e análise do relatório, o Semasa se reunirá com a Cetesb – órgão licenciador do Polo Petroquímico – para analisar as providências que devem ser tomadas pelo município”, diz nota da prefeitura de Santo André.
Meio Ambiente
A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) acompanha a situação no Polo Petroquímico desde o momento em que as chamas eram combatidas por brigadistas e bombeiros. Em nota, a companhia diz que o tanque que estava em manutenção tinha resíduos de Tolueno, produto inflamável, e que a água usada para apagar o fogo, misturada a resíduos passará por tratamento. “Equipes da Cetesb, do setor de Atendimento a Emergências e da Agência Ambiental do ABC 1, em apoio à equipe do Corpo de Bombeiros, estão atendendo um incêndio ocorrido hoje, 22/06, por volta das 09h00, na unidade de Q3CK da Braskem, localizada no Polo Industrial de Capuava. Apurações indicam que um tanque vazio, com vapores do produto químico Tolueno, durante um serviço de manutenção, explodiu. O tolueno é um produto volátil e inflamável. O fogo foi controlado, por homens do Corpo de Bombeiros. A água residual do combate ao incêndio ficou retida no sistema de contenção da unidade da Braskem e seguirá para o sistema de SAO – Separação Água e Óleo e depois para uma estação de tratamento da empresa. As equipes da Cetesb permanecerão no local orientando e acompanhando o atendimento, com o objetivo de mitigar eventuais impactos ambientais”, informou a companhia.
O MDV (Movimento em Defesa da Vida do ABC) também divulgou nota sobre o ocorrido em que cobra investigação sobre o acidente. “Consternados com o acidente esperamos e temos fé que os trabalhadores acidentados consigam se recuperar, bem como os moradores e familiares do entorno, que sejam devidamente e efetivamente investigadas com seriedade e lisura as condições de trabalho na fábrica, o sistema operacional fabril, bem como avaliar e mensurar as consequências socioambientais do acidente, a poluição e possíveis consequências a saúde da população na região, e a integral garantia de qualidade de vida e segurança dos moradores, familiares e trabalhadores da região. Importante ressaltar que a ocorrência do acidente demonstra efetivamente a urgente necessidade e a responsabilidade de haver maiores mecanismos e procedimentos controle sobre os processos industriais do Polo Petroquímico pelo poder público, pelos órgãos ambientais, principalmente para garantir a segurança, a tranquilidade, os direitos e a qualidade de vida dos funcionários e de toda a
comunidade da região de Capuava, que constantemente são afetadas pelas inúmeras poluições que afetam a tranquilidade e sossego sejam elas atmosféricas, luminosas e ou sonoras, produzidas pelas empresas do Polo”, diz o movimento ambientalista, em nota.
O vereador de São Paulo e presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga a poluição do Polo Petroquímico, Alessandro Guedes (PT) também falou sobre o acidente. “Nossa CPI da Poluição Petroquímica está trabalhando na conclusão do seu relatório final e buscou a relação entre a poluição e a saúde da população de bairros da zona leste na divisa com o Polo para apurar denúncias de alto incidência da doença autoimune Tireoide de Hashimoto, mas sem dúvida a segurança na região tem que ter um monitoramento efetivo e frequente e o nosso relatório também irá apontar essa necessidade. Vamos incluir em nosso relatório final a necessidade de que todos os envolvidos no processo produtivo industrial na região do Polo Petroquímico de Capuava, na divisa com os bairros da zona leste de São Paulo, que também sofrem os impactos da poluição química, reforcem e participem mais efetivamente das medidas e protocolos de segurança adotados na produção. É necessário que haja maior fiscalização, não apenas por parte da Cetesb, mas também das prefeituras, órgãos responsáveis, conselhos e movimentos da sociedade civil”, sustentou o vereador, em comunicado.
Confira a nota emitida pela Braskem:
“Informamos que hoje (22/06), por volta das 9h, no Polo Petroquímico do Grande ABC – SP houve um incêndio em um tanque que estava em manutenção. Imediatamente a brigada de emergência foi acionada, juntamente com viatura do Corpo de Bombeiros local, que estão controlando o foco do incêndio. A Braskem providenciou a evacuação imediata do local e as causas desta ocorrência estão sendo investigadas. Vale ressaltar que os órgãos técnicos competentes já foram comunicados”.
Confira a nota emitida pela Tenenge:
“A Tenenge informa que as cinco pessoas atingidas no acidente ocorrido na manhã desta quinta-feira (22), durante uma atividade de pintura, na planta da Braskem, localizada no Pólo Petroquímico do Grande ABC, em Santo André (SP), são integrantes da empresa. Com imenso pesar, confirmamos que lamentavelmente um deles veio a óbito no final desta manhã, apesar de todos os esforços realizados pela equipe médica no local e na instalação hospitalar, para onde o funcionário foi encaminhado com o apoio do Corpo de Bombeiros. Dos outros quatro funcionários, dois estão hospitalizados em unidades da região e dois apresentaram ferimentos leves, sendo atendidos prontamente. A Tenenge, através de suas equipes especializadas, segue focada no apoio às vítimas, seus familiares e colaborando com os agentes públicos no local“.