O trote universitário, uma das tradições mais antigas perpetuada entre os estudantes, agora é tema de livro. A obra ‘Faculdade de Medicina Ame-a ou Deixe-a: um Estudo Interseccional sobre o Trote Universitário’, escrita por Silmara Conchão, professora de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina do ABC, é uma pesquisa sociológica que busca explicações para o fenômeno conhecido trote universitário.
Assunto de sua tese de doutorado, a socióloga pesquisa o tema há mais de 12 anos e expõe um conceito denominado currículo oculto, que é um conjunto de tradições, valores, regras e rotinas não escritas em nenhum documento oficial, mas que são passadas de geração em geração, e podem deixar marcas nos estudantes. “Currículo oculto é um conceito que traz a tona a cultura trotista na universidade”, explica. Para Silmara, a prática do trote é um mecanismo de afirmação de poder, de manutenção de desigualdade e sustentação de privilégios”, diz.
O primeiro livro do qual a autora fez parte, lançado em 2012, buscava entender o motivo que os estudantes se submetem a situações de humilhação e violência durante o trote universitário.
Nesta segunda obra, a intenção foi ouvir os mais diferentes perfis de alunos, e como essa tradição afeta a trajetória acadêmica dos mesmos. “O trote esconde, atrás de uma máscara de brincadeira, um sistema permanente de exclusão”, afirma Conchão, doutora em Ciências da Saúde.
De acordo a professora, o trote não ocorre apenas na semana da recepção dos calouros, torna-se uma espécie de lei social. “Discutimos muito sobre bullying praticado nos ensinos fundamental e médio, mas não no superior; e para desconstruir essa lógica é necessário muito debate, reflexão e coragem”, afirma Silmara Conchão ao RDtv.
O livro ‘Ame-a ou Deixe-a: um Estudo Interseccional sobre o Trote Universitário’ tem lançamento aberto ao público no dia 31 de maio, às 17h30, no Auditório David Uip, localizado na Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André.