No próximo dia 25/5, Dia da Indústria, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), deve lançar na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) pacote de medidas para incentivar a indústria a produzir veículos básicos, porém mais acessíveis à população. O governo chama a proposta de volta do carro popular, que nos anos 1990 elevou as vendas de 0 km no País. Os modelos simples são os mais procurados, mas segundo o mercado, o consumidor não aceita mais vidro manual ou carro sem ar condicionado ou direção hidráulica. Porém, para oferecer isso as montadoras terão de economizar em alguns itens e contar arruelas de parafusos para cortar gastos.
Pela proposta do governo essa faixa de veículos deveria custar entre R$ 50 mil e R$ 60 mil. Hoje o carro mais barato do mercado é o Renault Kwid na versão Zen, com motor 1.0 de 71cv e que custa R$ 66.590. Depois dele vem o Fiat Mobi Like (R$ 66.990) e o Citröen C3 Live (R$ 69.990) ambos com motor 1.0.
Segundo a Fenabrave (Federação Nacional das Distribuidoras de Veículos Automotores), no acumulado até abril desde ano foram vendidos somente no ABC 5.872 carros novos. Seguindo a mesma lógica nacional, dos 10 modelos mais vendidos, seis são os chamados “carros de entrada”, os que custam mais barato. Mobi e Kwid são os mais emplacados. A GM que é a líder em veículos emplacados, considerando todos os segmentos, não está muito afeita à proposta do governo, porém marcas como a Renault, a Volkswagen e Fiat negociam com o governo. A Fenabrave não quis comentar o assunto.
Para quem trabalha há décadas com compra e venda de carros, vê com ressalvas a medida. Segundo João Carlos Figueiredo, vendedor de automóveis há 34 anos e que atua hoje na Carflex do Premium Auto Shopping, em São Bernardo, a medida pode ser boa para vender carro novo, mas a longo prazo, quando esses veículos chegarem ao mercado de usados podem ter desvalorização maior e o consumidor pode voltar a optar pelo seminovo com mais itens de conforto e motores mais potentes.
“Sem dúvida vai ter uma movimentação muito grande, porque vendendo carro novo, sempre entre o seminovo na troca e isso é bom para o mercado. Também vai ser bom para renovar a frota, porém eu não compraria um carro novo pelado, ou seja sem opcionais, no lugar de um modelo melhor. Por R$ 50 mil dá para comprar um (Hyundai) HB20 2015 ou 2016 ou ainda um (Toyota) Etios do mesmo ano, ou ainda um Honda Fit 2014 ou 2015, que são carros muito bons, confiáveis e confortáveis. Eu não trocaria esses modelos por um carro popular, pequeno e sem opcionais”, opina o vendedor.
Para ele num primeiro momento, para realizar o sonho do carro 0 km o consumidor pode ser seduzido pelo preço, mas depois, ao pesar custo-benefício do bem, pode voltar atrás. “Pode acontecer igual na crise econômica de 2008 quando o consumidor saiu do carro novo e passou a comprar usado. Esse movimento pode voltar quando esses novos carros populares chegarem ao mercado de usados”, analisa.
No meio dessa discussão de incentivo para a indústria produzir carros financeiramente mais acessíveis está o ABC, que tem em seu território duas das principais montadoras de automóveis do país, Volkswagen e General Motors. Na segunda-feira (15/05) São Bernardo recebeu a 5ª edição do Fopa (Fórum Paulista de Desenvolvimento) com a presença de Alckmin. Na ocasião o ministro esteve reunido com representantes das montadoras Volkswagen e Scania e Mercedes-Benz e reforçou o anúncio do dia 25. “Se agirmos nas causas, a economia cresce de maneira sustentável e aí tem uma outra questão relevante. A pergunta sempre foi: onde é que eu fabrico bem e barato? O consumidor quer um produto que funcione, de qualidade e acessível ao bolso dele”, disse o vice-presidente da República.