
Desde novembro de 2021 os artistas e grupos que usavam a Concha Acústica da Praça do Carmo, no Centro de Santo André, para apresentações gratuitas estão sem espaço para as atividades como saraus e apresentações musicais e teatrais. É que a prefeitura fechou o espaço em novembro de 2021 para uma reforma prevista para ser concluída em 90 dias, mas a obra está parada e o local permanece interditado há 535 dias.
Em nota a administração disse que suspendeu a obra para reavaliação. “A Prefeitura de Santo André informa que o projeto de reforma da Concha Acústica está sendo reavaliado e passando por processo de readequação para posterior apresentação aos conselhos de patrimônio”.
Enquanto isso os grupos que utilizavam a Concha Acústica lamentam a falta de espaço para as atividades. O Sarau da Consciência era uma das atividades que aconteciam no local todas as terças-feiras à noite. Além deste movimento a Batalha da Palavra também tinha como palco a Concha Acústica. “Esses movimentos culturais são compostos por cidadãos da classe trabalhadora e estudantes de Santo André, expressando em sua composição uma diversidade de subjetividades, gêneros, etnias, e realidades socioeconômicas. Dentro dessa diversidade, o perfil preponderante dos integrantes é de jovens pretos trabalhadores, moradores das periferias da cidade”, relata Jonathan Machieli Benevento, que é participante e frequentador do Sarau e da Batalha.
“A produção cultural e artística que é planejada, apresentada e performada nestes coletivos, é uma expressão das subjetividades de cidadãos que representam sua linguagem, desejos, sonhos, memória e culto aos ancestrais, indignações, reflexões críticas e filosóficas, denúncias de violência e desrespeito aos Direitos Humanos e discurso político. Ainda, nestes eventos acontecem diálogos, debates, transmissão de conhecimento, sorrisos, abraços e lágrimas. Tudo deforma gratuita”, continua Benevento, que encaminhou ofício sobre a situação para a prefeitura e para os vereadores.
“Fiz três requerimentos solicitando informações e a previsão para a entrega urgente da reforma da Concha Acústica. Tem que embelezar o local, o prefeito se comprometeu comigo a dar um posicionamento em relação a esse assunto até o final deste mês. O último requerimento foi feito em março e a prefeitura tem 60 dias para me responder, mas eu conversei na semana retrasada com ele que falou que até o fim de maio dá um parecer sobre essa reforma”, explicou o vereador Renato Barros Santiago Filho, o Renatinho do Conselho (Avante). Também fizeram requerimentos pedido informações sobre a obra os vereadores Pedrinho Botaro (PSDB) e José Teixeira Mendes, o Zezão (PDT).
A Batalha da Palavra continua acontecendo. Em sua rede social o grupo informou ter realizado o último encontro no dia 6 deste mês na calçada da Casa da Palavra que fica em frente à Concha Acústica. O Sarau da Consciência também tem sido realizado na calçada, junto ao antigo espaço, todas as terças-feiras.
Segundo Janiely Martins Fernandes, organizadora do Sarau da Consciência, disse que fazer as apresentações na calçada trouxe um prejuízo muito grande para a atividade cultural. “É muito desconfortável porque, ou as pessoas ficam em pé, ou disputam os bancos da praça, por isso diminuiu muito o público que frequentava os saraus”, observa.
A organizadora do sarau, diz que apesar do anúncio de reforma, nada tem acontecendo por trás dos tapumes que fecham a Concha Acústica. “Não tem nada, nem material de obra por lá. A gente começou a denunciar isso, chegamos a fotografar a placa que falava da obra, do recurso e o prazo para conclusão aí a prefeitura retirou a placa e não colocou mais”, reclama. Janiely disse que os grupos culturais que usam o espaço preparam um ato, ainda sem data marcada, para denunciar a situação.
A Secretaria de Desenvolvimento Regional, do Governo do Estado, liberou R$ 250 mil para a reforma da Concha Acústica, em outubro do ano passado a pasta fez inclusive uma vistoria no local.