Especialistas projetam estabilidade para preços de alimentos em casa

O indicador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que mostra a inflação por faixa de renda fechou fevereiro com variação de 0,69% para o segmento familiar de renda mais baixa. Já no caso do grupo de maior renda, a inflação chegou a 1,05% no mês passado. No acumulado dos últimos 12 meses, o aumento ficou em 5,86%, para as famílias de baixa renda, e em 7,03% para o grupo de renda alta.

“A gente já estava esperando nas projeções para 2023 que a inflação seria um pouco melhor para as classes de renda mais baixa, porque a previsão era de que os alimentos fossem desacelerar”, disse Maria Andreia Parente Lameiras, técnica do órgão. “A safra está boa, não tem nenhum problema climático. Preços agrícolas no atacado estão com deflação em 12 meses. Fevereiro, confesso, foi melhor ainda do que esperávamos por conta de carnes, porque teve problema com a exportação para a China (houve embargo por conta de investigação de um caso do mal da vaca louca), sobrou mais carne no mercado doméstico e veio até mais baixo do que estávamos esperando. A ideia para 2023 é justamente essa: a inflação dos mais pobres correndo abaixo da dos mais ricos”, completou.

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Segundo Fábio Romão, economista da LCA Consultores, as famílias deverão pagar 22,6% a menos em 2023 pelos tubérculos, raízes e legumes. As carnes devem registrar queda de 3,3%, enquanto os preços de óleos e gorduras podem recuar até 5,5% no ano. Considerando os aumentos em outros itens, as compras nos supermercados subirão apenas 1% em 2023.

Romão projeta que os alimentos para consumo no domicílio fiquem próximos da estabilidade ou tenham deflação nos próximos sete meses, voltando a subir apenas no último trimestre, por um movimento sazonal de encarecimento dessa classe de produtos. Os recuos de preços previstos, porém, não devolverão os aumentos registrados nos anos anteriores, o que resulta numa sensação apenas parcial de melhora sobre o orçamento das famílias mais pobres.

“É como se você tivesse escalado uma montanha com aquele jipe 4×4 muito rapidamente. Chegou ao pico. Agora, você vai descer a pé. O nível de preços está muito alto. Então, para de piorar, e você começa a ter uma sensação, na margem, de melhora”, avaliou Romão.

Confiança

As famílias de renda mais baixa já mostraram uma melhora na confiança em março, com uma ajuda da trégua na alimentação, sugerem dados da Sondagem do Consumidor, da FGV. O índice de confiança do consumidor subiu 2,5 pontos em março ante fevereiro, na série com ajuste sazonal, para 87,0 pontos. Entre os consumidores com renda familiar abaixo de R$ 2.100,00 mensais, essa alta chegou a 4 pontos, para o patamar de 88,4 pontos – aproximando-se do nível de confiança da faixa mais rica (que recebe acima de R$ 9.600,00 mensais), cujo índice caiu 0,8 ponto, para 89,1 pontos.

A coordenadora das sondagens da FGV, Viviane Seda Bittencourt, disse que as famílias de menor poder aquisitivo relataram uma percepção de melhora da situação financeira, embora partam de um patamar extremamente baixo em termos históricos. Ela vê contribuição do novo Bolsa Família e da perspectiva pelo Desenrola, o programa de renegociação de dívidas que está sendo fechado pelo governo com os bancos.

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