Piora na percepção fiscal e externa atrai realização de lucros e taxas sobem

Após uma sequência de quatro quedas consecutivas, os juros futuros fecharam a sexta-feira, 10, em alta, num movimento de realização de lucros que pela manhã se limitava às taxas curtas com respaldo do IPCA acima do consenso. À tarde, contaminou toda a estrutura a termo, dada a piora na percepção de risco fiscal e externo. A ponta longa inicialmente cedia, alinhada ao comportamento dos rendimentos dos Treasuries, mas passou a avançar à tarde, com um noticiário farto para as contas públicas e aumento da aversão ao risco em Wall Street. No balanço da semana, porém, a curva perdeu inclinação, com as taxas longas cedendo bem mais do que as curtas.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,16%, de 13,01% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 saiu de 12,21% para 12,38%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 12,65%, de 12,55%, e o DI para janeiro de 2029, com taxa de 13,06%, de 12,95%.

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Na semana, que teve quatro dias consecutivos de alívio nos prêmios de risco, as taxas curtas cederam em torno de 20 pontos-base, menos do que as longas, que caíram 50 pontos. Num dia de aversão a risco no exterior e de redução de otimismo na seara fiscal, era provável haver uma correção na rota, mas que não comprometeu significativamente as apostas para o ciclo de afrouxamento monetário.

Segundo a BlueLine Asset, a curva a termo segue precificando chance de início de redução da taxa básica de 13,75% em maio, de 25 pontos-base, mas pouco menores do que ontem. A probabilidade passou de 40% para algo entre 25% e 30%. O orçamento total de alívio recuou para 245 pontos, de 250 pontos ontem. O IPCA de fevereiro, de 0,84%, superou a mediana das estimativas (0,78%) e ficou mais perto do teto de 0,89%, com preços de abertura que não agradaram.

“O IPCA de hoje mostra que esse espaço para corte de juros que o mercado está precificando não existe”, afirmou o economista do Banco BV Carlos Lopes, que também não vê sentido numa antecipação de crise no mercado de crédito para justificar um alívio monetário. Ele lembra ainda que as expectativas de inflação estão desancoradas, o que ajuda a desautorizar o nível de otimismo da curva com relação ao ciclo de distensão monetária.

Com isso, as taxas curtas já oscilavam em alta pela manhã, enquanto a ponta longa cedia acompanhando o ritmo de fechamento da curva americana. O payroll nos Estados Unidos trouxe criação de 311 mil vagas em fevereiro, mas o aumento nos salários veio abaixo do esperado, o que embaralhou um pouco as apostas para o encontro do Federal Reserve em março, com a expectativa de alta de 25 pontos-base voltando a ganhar fôlego. À tarde, contudo, os DIs longos passaram a subir com o aumento da aversão ao risco gerada pelo colapso do Silicon Valley Bank, o maior banco americano a quebrar desde a crise financeira de 2008, que também penalizou o câmbio.

Além do exterior, a percepção de risco fiscal piorou com uma série de notícias negativas no dia. Lopes, do Banco BV, disse que o acordo que o governo fechou com os Estados para compensar perdas de arrecadação com a mudança na base de cálculo do ICMS sobre bens essenciais durante o governo Bolsonaro pesou sobre os vencimentos longos, ainda que o valor de R$ 26,9 bilhões tenha vindo um pouco menor do que os Estados estavam reivindicando. “Mas não deixa de ser significativo. Ainda que seja uma compensação, é algo negativo com o mercado à espera do novo arcabouço fiscal”, afirmou. A nova âncora será apresentada na próxima semana ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que dará a palavra final.

O reajuste nos valores da merenda escolar do ensino público a serem anunciados nesta sexta-feira pelo presidente Lula, que pode chegar a 39%, e a possibilidade de aumento de subsídio para faixa 2 do programa Minha Casa, Minha Vida, são outros fatores da cena fiscal que foram mal recebidos.

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