ABC perde seis bibliotecas públicas em apenas um ano

Livros que estavam separados para serem descartados pela prefeitura de Ribeirão Pires. (Foto: Reprodução)

Em 2022 pelo menos seis bibliotecas públicas municipais fecharam no ABC. Em setembro do ano passado o RD mostrou o abandono do acervo da biblioteca de Ribeirão Pires, que jazia em um galpão junto ao Parque Oriental. Também em 2022 a biblioteca Malba Taham, foi desativada em São Bernardo para o prédio, no Rudge Ramos, abrigar  o CAV (Centro de Audiovisual). Em Mauá, a biblioteca Castro Alves, no Jardim Zaíra, também foi fechada e a prefeitura que alega mudança de endereço, mas não informou o novo local e nem prazo. Em Diadema a Biblioteca do Jardim Promissão está fechada por conta das obras do Quarteirão da Educação. Em Santo André, a Biblioteca Nair Lacerda está fechada para reforma com promessa de reabrir esse ano. A do Teatro Conchita de Moraes também está fechada por obras no local.

Para Marialda Almeida, docente dos cursos de letras, comunicação, pedagogia e da Escola de Negócios da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), a leitura deve ser estimulada principalmente neste momento em que a informação instantânea leva à falta de interesse por temas complexos e textos mais longos. Na análise da professora o fechamento de bibliotecas não contribui para isso. “Entendo que o fechamento esteja relacionado à baixa de procura desses locais pela população, mas também acredito muito na possibilidade de ressignificar esses espaços. Vivemos um momento em que há disponibilização, muitas vezes gratuita, de livros e outras produções digitais nas diversas áreas de conhecimento, nesse sentido é preciso que sejam alinhadas as reais necessidades de investimento”.

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Marialda acredita que o livro impresso sempre terá seu espaço, mesmo diante das tecnologias digitais. “Uma reflexão é essencial quando há essa afirmação sobre a possibilidade de extinção do livro impresso: precisamos compreender que apenas temos uma nova opção de suporte para leitura. Há quem goste mais de ler livros físicos, que é o meu caso, e há quem prefira o digital. Acredito que a apresentação de projetos voltados, por exemplo, para clubes de leitura e saraus, que favorecem a reflexão das leituras, pode ser um caminho”, aponta a docente da USCS.

Marialda Almeida é gestora do curso de letras da USCS. (Foto: Divulgação)

Marialda diz que quem não tem acesso aos livros terá dificuldades na vida social e profissional. “Vivemos na era da informação, que tem de ser rápida, logo favorece compreensões e respostas superficiais, e temos as redes sociais que estimulam uma escrita mais concisa, embora seja repleta de signos imagéticos. Com esses fatores a consolidação da leitura de qualquer livro, sobretudo de literatura, vira tarefa difícil. Há caminhos, planos e projetos para nós, escola e professores, estimularmos a leitura em nossos alunos. Essa não é uma resposta fácil de dar, até porque muitas pessoas ainda fazem a famosa leitura por fruição, porém, não há dúvidas de que a população sem acesso à leitura ou não lê porque não gosta estará fadada a um baixo desenvolvimento cognitivo, logo, não conseguirão atuar criticamente na sociedade e na vida profissional”, aponta.

“Ressignificar as bibliotecas é uma necessidade para o tempo atual. Antes um lugar de silêncio, agora um lugar que podemos estimular reflexões acerca de leituras e até mesmo de promoção de eventos culturais”, completa a docente da USCS.

Prefeituras não dão prazos para reabertura

Prefeitura transformou a biblioteca Malba Tahan em Centro Audiovisual. (Foto: Divulgação)

A Prefeitura de Ribeirão Pires, questionada pela reportagem na terça-feira (28/02), até este sábado (04/03) não se posicionou sobre o tema. Em setembro o RD mostrou a situação de abandono do acervo, que até aquele momento estava amontoado em um galpão não adequado para a guarda de livros. Empoeirados e em local que, visivelmente, era frequentado por pombos, muitos dos livros estavam amarrados em fardos com etiqueta que revelava descarte como destino. O Conselho de Políticas Culturais da cidade visitou o local em setembro e constatou que 20 mil exemplares eram descartados, após uma minuciosa análise o descarte foi reduzido para quatro mil, após a interferência do órgão que sequer havia sido consultado sobre a tentativa do município de se desfazer das obras literárias. Já naquela ocasião o município silenciou sobre o tema.

Já em São Bernardo, o acervo da biblioteca Malba Tahan teria sido distribuído para outras unidades e o prédio preparado para o CAV. Já no site da Prefeitura a informação é a de que a biblioteca seria transferida para outro endereço. O RD questionou a administração sobre este equipamento e as demais bibliotecas, mas o município respondeu apenas sobre os outros espaços de leitura. “A Prefeitura de São Bernardo informa que possui quatro bibliotecas públicas em atividade (Monteiro Lobato, Machado de Assis, Erico Veríssimo e Guimarães Rosa), uma biblioteca pública especializada (Biblioteca de Arte), três espaços de leitura (Gibiteca, Espaço Braille, Espaço Troca Livro), além do programa Espalhando a Leitura. Juntos, os equipamentos contam com acervo de mais de 85 mil registros e 103 mil exemplares físicos”, informa a nota.

Digital

O Paço de São Bernardo diz ainda que há investimento em formatos digitais. “A administração disponibiliza sistema online e gratuito para empréstimos de livros nos formatos digital e em áudio. São mais de 44 mil títulos que podem ser acessados no portal http://bibliotecadigital.saobernardo.sp.gov.br e no aplicativo Tocalivros, disponível para smartphones”, detalha nota citar atividades culturais nas bibliotecas para atrair o público. “Nos últimos anos, a prefeitura tem realizado investimentos mensais para ampliar a programação cultural da cidade, como Contação de Histórias, Clube de Leitura e Roda de Conversa, além da compra de livros novos para todas as bibliotecas. Em 2022, os equipamentos receberam 88.689 mil visitas e foram realizados 36.651 mil empréstimos”, diz.

A Prefeitura de Mauá informa que conta com cinco bibliotecas municipais. Uma na região central e quatro ramais. A Biblioteca Central Cecília Meireles conta com acervo de 10.303 títulos e frequência de 180 usuários por mês. A Biblioteca Paulo Freire, no Jardim Sônia Maria, tem 7.600 títulos e recebe em média 160 usuários mensais. A Biblioteca Edson Bueno, no Parque das Américas, conta com 2.600 títulos e 420 pessoas frequentam o espaço mensalmente. A Biblioteca Radamés Nardini, fica dentro do hospital de mesmo nome , conta com 975 títulos e recebe 167, em média, por mês. Já a Biblioteca Castro Alves, no Jardim Zaíra, uma das periferias mais carentes da cidade, está fechada ao público e a prefeitura diz que a unidade mudará de endereço, mas não informa o prazo de reabertura.

BiblioSesc

Em nota, Mauá sustenta que tem parceria com o Sesc para receber a BiblioSesc, veículo adaptado com estantes que transportam um acervo de 3,5 mil volumes. Nos dias 8 e 22 de março, a BiblioSesc ficará estacionada na Casa do Hip Hop (rua David Boscariol, 92-112, Jardim Rosina). E nos dias 9 e 23 de março será a vez do Parque da Juventude (rua Francisco Ortega Escobar, s/n, Vila Noêmia). Sempre das 10h às 15h. O município também aponta a retomada do Sistema Alexandria On Line, gerenciador de bibliotecas que integra e automatiza as funções da biblioteca: aquisição, catalogação, importação de registros, circulação, pesquisa, controle de periódicos, relatórios estatísticos e de controle, gerenciamento, emissão de etiquetas e código de barras.

A prefeitura também diz que levará para as bibliotecas diversas ações culturais para atrair o público. “Oficinas de Criação Literária, Contação de histórias e apresentações artísticas estão previstas e inseridas na programação cultural das Bibliotecas Municipais ao longo de 2023”.

Diadema conta com sete bibliotecas e duas salas de leitura: Central com 13.589 títulos; Céu das Artes, com 5.654; Eldorado que tem 4,284 livros; Paineiras tem 4.352 exemplares; Santa Luzia, 4.950; Vila Nogueira, conta com 6.746 e a biblioteca do bairro  Serraria tem 3.980 livros. A sala de leitura Carolina Maria de Jesus tem 2.984 títulos e a Luiz Ruffato, 3.489. Cerca de três mil pessoas frequentam as bibliotecas de Diadema todos os meses. Na cidade, para a construção de um espaço educacional, o Quarteirão da Educação, a Prefeitura foi mais uma a fechar uma biblioteca, a do Jardim Promissão. A administração não informou quando ela será reaberta.

A Prefeitura de Diadema diz realizar diversas atividades nas bibliotecas, como Escrita Criativa, Introdução à filosofia, redação e criação literária, teatro e literatura, modelando a história, bordado e literatura, desenho e quadrinhos, ioga e literatura, bem como oficinas nas áreas de inclusão como: libras básico e intermediário, braile, dança inclusiva, violão inclusivo, massoterapia. “Também temos eventos de difusão, como contação de histórias, saraus, lançamento de livros, roda de conversar, encontros literários. Neste ano iniciamos o projeto ‘Entre Páginas’ que visa a promoção e divulgação do escritor local. Promoveremos o Festival de Troca de Livros que acontecerá nos meses de abril, junho, agosto e novembro em todos os equipamentos da cidade. Fazemos parte do Clube Leia Mulheres – clube este que o foco é a leitura de livros escrito por mulheres. E temos anualmente a Feira Literária de Diadema, em mês outubro. E ainda o Busão da Cultura, biblioteca itinerante que percorre a cidade nas comunidades mais afastadas”, diz.

Vinte endereços

Santo André é a cidade com maior número de bibliotecas – são 20 endereços -, mas é também a que tem mais prédios fechados ao público; duas estão fechadas para reforma. A cidade tem um acervo de 212.478 itens entre livros impressos e material multimídia, além de 27 mil itens em formato eletrônico. O catálogo pode ser acessado em http://www.santoandre.sp.gov.br/pesquisa/. Mensalmente frequentam as bibliotecas cerca de 55 mil pessoas. “Atualmente a Biblioteca Nair Lacerda está fechada para obras de modernização. A expectativa é que a reabertura ocorra ainda neste ano. A biblioteca do Teatro Conchita de Moraes também está com as atividades suspensas temporariamente por causa das obras de reforma do teatro, que serão finalizadas neste ano”, diz em nota.

A Rede de Bibliotecas de Santo André tem focado em ações aos finais de semana, buscando atender ao grande público que não têm disponibilidade de usufruir dos espaços durante a semana. A novidade de 2022 foi o projeto “Domingo é dia de Biblioteca”, que abriu as portas da Biblioteca Nair Lacerda no primeiro domingo de cada mês, proporcionando aos munícipes um espaço de lazer e leitura. Foram cerca de 4.050 pessoas de idades variadas que utilizaram não só dos serviços de leitura e empréstimo, mas também tiveram a oportunidade de participar de oficinas diversas como a de confecção de jogos, pipas e origami. A biblioteca passou ainda a oferecer jogos de tabuleiro para os visitantes. Entre as atividades da programação que mais fizeram sucesso esta o teatro de fantoches que conquistou o público, principalmente o infantil. Sempre no segundo sábado do mês, a Biblioteca Cecília Meireles abre suas portas com seu ‘Sarau na Cecília Meireles’, que atraiu cerca de 400 pessoas no ano”, detalha.

Ainda de acordo com Santo André foram onze ações culturais nas regiões descentralizadas da cidade. Em 2022 foi elaborado um plano de renovação do acervo e uma aquisição específica para renovação do acervo infantil da Rede.

Os acervos das bibliotecas de Santo André estão na Biblioteca Casa da Palavra, com 581 livros; Biblioteca Casa do Olhar, com 1.471 títulos; Biblioteca Cata Preta 4.772 livros; Biblioteca Cecília Meireles, 26.452 livros; Biblioteca Centro de Dança tem acervo especializado com 815 itens;  Biblioteca CEU Jardim Ana Maria, 3.222; Biblioteca CEU Jardim Marek,  4.028; Biblioteca Dr. Octaviano Armando Gaiarsa – Museu de Santo André, 1.173 livros especializados; Biblioteca EMIA – acervo de 240 livros infanto-juvenis; Biblioteca Escola Livre de Teatro – acervo especializado, 1.669; Biblioteca Jardim Santo Alberto tem 4.864 livros;  Biblioteca Nair Lacerda, 115.483;  Biblioteca Paranapiacaba, com 6.718 unidades; Biblioteca Parque Erasmo Assunção tem 6.299 unidades; Biblioteca Parque Novo Oratório, 6.947 títulos; Biblioteca Vila Floresta, 7.430 itens; Biblioteca Vila Humaitá, 5.676;  Biblioteca Vila Linda.  4.518 títulos; Biblioteca Vila Palmares, 5.208 e a Biblioteca Vila Sá com 4.912 livros.

Leitura

São Caetano informa que não tem bibliotecas fechadas ao público. A Biblioteca Paul Harris (Av. Goiás, 950 – Bairro Santo Antônio) tem aproximadamente 35 mil livros e , em fevereiro, 2.473 pessoas visitaram o espaço. A Biblioteca Municipal Esther Mesquita (rua Boa Vista, 150 – bairro Boa Vista) tem cerca de 13 mil títulos e recebeu 473 pessoas no mês passado. “A rede municipal de ensino incluiu este ano na grade curricular do ensino fundamental um componente denominado “Leitura”, especialmente para o estímulo à formação de novos leitores. Além disso, as bibliotecas realizam diversas atividades que podem estimular a utilização do espaço, como oficinas, visitas monitoradas, palestras, hora da poesia, contação de histórias, encontro de escritores, saraus, lançamentos de livros, rodas de conversas, entre outros eventos.

Rio Grande da Serra conta com apenas uma biblioteca, a Monteiro Lobato (rua do Progresso, 251 – Centro) com acervo de 3 mil livros e que recebe em média 45 pessoas por mês.

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