Toda época de férias é comum falar de dicas de segurança para o motorista. São informações sobre como ter a manutenção do veículo em dia, como estado dos pneus, eficiência dos freios, cuidados com a suspensão e parte elétrica. Tudo para evitar panes e acidentes, além de dicas de direção defensiva. Mas e a saúde do motorista? O mal súbito, que é a perda de sentidos, é um dos causadores de acidentes fatais e o socorro deve ser rápido, iniciado mesmo antes da chegada das equipes de emergência.
Não há estatísticas sobre as causas dos acidentes na maioria das cidades. Há estudos, como o realizado pela Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), mas baseados apenas em dados de rodovias federais. A associação comparou os anos de 2021 com 2022 (de janeiro a julho). O resultado é que, nos primeiros sete meses do ano passado, 13 mil acidentes de trânsito registrados nas rodovias do País tiveram como causa principal ou secundária questões relacionadas à saúde do motorista. Estes acidentes ocasionaram 881 mortes, número 20% superior ao registrado no mesmo período do ano anterior.
O RD indagou as prefeituras do ABC sobre os acidentes de trânsito causados por mal súbito. Apenas quatro cidades responderam, sendo que em três informaram não ter o tipo de dado. Apenas Santo André forneceu números sobre o assunto, que revelam o aumento de mortes no tipo de ocorrência. Em 2020, foram 53 acidentes, tendo como causa mal súbito; e em 2021 foram 47. Em nenhum dos dois anos foram registradas mortes, situação diferente do ano passado, quando foram 48 acidentes com duas mortes.
Rapidez no atendimento é crucial
Estatísticas sobre o mal súbito ao volante nas ruas e avenidas das cidades poderia ser usada em campanhas que ajudariam a vidas. Segundo o enfermeiro responsável pelo Núcleo de Educação em Urgência do SOS Cidadão/Samu de São Caetano, Renan Tomas, o mal súbito pode ser causado por vários fatores e, em geral, a vítima tem uma parada cardiorrespiratória que pode ser revertida se o socorro for rápido. Tomas explica que logo após o acidente dois fatores devem ser considerados, o primeiro é a reversão da parada e o segundo os traumas causados pela colisão.
Renan Tomas diz que, por falta de conhecimento, há um senso comum de que a vítima não deve ser tocada por causa de danos que podem ocorrer na coluna. Isso, no caso de a vítima estar em parada cardiorrespiratória, pode ser fatal. “Se a vítima está inconsciente, não responde e não respira, tem que tocar nela e fazer as manobras para tentar reverter o mal súbito, até que o socorro chegue”, relata.
Em São Caetano, que é uma cidade territorialmente pequena, o socorro chega rápido, mesmo assim a média de espera é de 10 minutos, tempo crucial que define a vida ou a morte da vítima. “A cada minuto parado, se reduz a chance da vítima voltar. Assim que o acidente acontece se deve acionar a emergência e quanto mais rápido as manobras se iniciarem maior a chance de salvamento”, aponta o enfermeiro, que ministra os cursos primeiros socorros em escolas e para grupos, além dos treinamentos da equipe do Samu.
Parada cardiorrespiratória
O foco da equipe de Educação do Samu, em São Caetano, é treinar pessoas para identificarem se é uma situação de parada cardiorrespiratória e iniciar os procedimentos até o socorro chegar. “A cada segundo que passa com o coração parado a chance da vítima voltar diminui. Então a gente ensina as pessoas a fazerem algumas coisas que podem ajudar até a chegada da equipe”, explica.
Com 15 anos de experiência em atendimento a emergências, Tomas diz que, além da situação da vítima, os socorristas são treinados para analisar toda a situação do acidente, como estão os veículos envolvidos, se a batida foi frontal ou não, se há situações que podem ter causado o acidente.
No caso do mal súbito não se enxergam fatores causadores do acidente. Simplesmente acontece sem reação aparente do motorista. “Pelos danos no veículo a gente já começa a procurar pelas lesões nos ocupantes do veículo. Há sinais que consideramos que nos mostram que a vítima está em parada cardiorrespiratória e esse é o primeiro ponto que cuidamos. Atendemos um caso de um carro que caiu no rio, na avenida do Estado. Não tinha explicação para o carro ter caído lá, senão o mal súbito do motorista”, recorda. Neste caso, o Samu conseguiu reanimar a vítima, reverter a parada, porém a vítima veio a falecer depois, em decorrência dos traumas do acidente.
Causas
As causas de mal súbito, ao volante e fora dele, são várias, mas em geral estão relacionadas a doenças cardiovasculares, como arritmias ou ainda AVCs (acidentes vasculares cerebrais). A prevenção do acidente é difícil já que nem sempre a pessoa está ciente da condição de saúde. Segundo Tomas, há também situações que causam o ‘apagão’ e que estão relacionadas ao uso de drogas lícitas, como álcool e medicamentos, ou ilícitas, como a cocaína. “Dor no peito, palpitação, tontura e sudorese são alguns dos sinais. Se o motorista perceber algum deles deve parar imediatamente e pedir ajuda”, completa.